sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Epístola Décima Segunda:

Oh! Lá! Lá! Lá!...
Sim, efectivamente, mas
A quem beneficia o
Crescimento em África?

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

La “démocratie” ne Peut être ni exploitée
(Par l’Europe) ni imposée (par les USA).
« Elle ne peut être le produit de la conquête
Des peuples du Sud à travers leurs luttes pour
Le progrès social, comme cela fut (et est) le cas en
Europe »
SAMIR AMIN


(1)    Com efeito, o Crescimento é um destes vocábulos de ordem (e, aliás, vocábulos chaves) em que os Africanos gargarejam, acreditando (piamente) que possuem a mesma significação e as mesmas bases para os investidores e para os próprios Africanos. Não, não é nada disso! As empresas estrangeiras se enriquecem e permitem aos seus interlocutores e aliados locais fazer o mesmo em detrimento da imensa maioria dos Africanos e do próprio Ambiente.

(2)    Ora, eis que sobre o Continente Africano sopra um vento de optimismo de natureza a desdramatizar ou à dissimular a enorme angústia das populações, da qual resulta o naufrágio dos jovens em fuga para o hemisfério Norte.
(3)    Por outro, em uníssono, liberais africanos e não africanos se põem de acordo para asseverar que o crescimento se encontra no sítio certo (e, por que não, na hora certa), tendo em conta, os avanços da “democracia” e da “boa governação”, mas, outrossim e sobretudo por causa do aumento das cotações menores das matérias-primas. Facto esse, que se deve a procura crescente das economias emergentes da Ásia (designadamente, da China e da Índia), do Brasil, outrossim, ainda dos Estados Unidos e da Europa. Como se pode perceber, tratar-se-ia de uma verdadeira investida sobre a África e, segundo alguns analistas: “pour la première fois, le continent peut faire monter les enchères et négocier les investissements dont il a besoin” (Ver Courrier international nº 882, de Setembro/Outubro 2007).
(4)    De anotar, que este optimismo é partilhado pelos banqueiros e pelos conselheiros (muito influentes) dos dirigentes africanos. Vejamos, em pormenor, em que consiste este “optimismo”. Ou seja:
a.     O presidente do Banco Africano de desenvolvimento (BAD), Donald KABEAUBA, se felicitava, aquando da assembleia-geral da sua instituição, na China, em Maio 2007, das taxas de crescimento que os países africanos começam a alardear;
b.    Por seu turno, o Director-geral da Agência francesa de desenvolvimento, Jean-Michel SEVERINO, exprimia a sua satisfação de ver o continente “reprendre le chemin de la croissance”.
c.     Enfim, outrossim e, ainda, Lionel ZINSON (associé-gérant à la banque ROTHSCHILD) e conselheiro do Presidente do Benin, é assumidamente afirmativo: “Je ne vois pas de continent qui ait progressé plus vite que l’Afrique ces derniers années, en termes de dynamique, de respect du droit, d’alphabétisation. […] L’Afrique s’est désendettée, l’inflation et les déficits publics dont maîtrisés ». De salientar, que (ele vai mais longe), quando assevera (mesmo) estar menos impressionado pela parte das matérias-primas, em que o petróleo (neste convés que representa, pelo menos 3 à 4% de taxa de crescimento anual dos países do Sahel), mais precisamente, o Burkina Faso e o Mali.
(5)    Todavia, antes de mais, se afigura pertinente, questionar (avisadamente, por motivos e razões assaz óbvios), onde (no meio de tudo isso), estão os verdadeiros factos? Sim, efectivamente onde está a verdade? Ou seja:
a.     Quem se interessa na sua incidência sobre a vida das pessoas ordinárias, ao que poderia dar à (estes últimos) a vontade de viver no seu País?
b.    Com efeito, se ouve, por vezes, dizer, que, antes de conhecer a sua fase de crescimento actual, a Ásia tinha tido (outrossim) os seus boat people e que o crescimento que se enceta em África ia superar a miséria e estancar a emigração dos Africanos.
c.     Na verdade (efectivamente) nada é menos certo, enquanto a questão central da cidadania e da soberania política (que o elóquio dominante oculta), não for colocada adequadamente e receber o menor início de resposta (que deve ser, assaz pertinente e quão consentânea, obviamente).
d.    Enfim, não há dúvida nenhuma, que a abundância de matérias-primas (em parte nenhuma), constitui garante de prosperidade, paz e, nem de Justiça social (enquanto), estas duas dimensões (não tenham sido atingidas, de facto e de direito). Estas duas dimensões enunciadas devem ser reivindicadas pelos Africanos afim que as transições democráticas possam revestir o seu sentido verdadeiro e, deste modo, todos os Africanos possam, finalmente extrair, o máximo de benefício das exuberantes riquezas do seu Continente.

(6)    Ora, na verdade, as potências ocidentais e as instituições internacionais de financiamento colocam (lado a lado), a economia de mercado e a democracia de mercado (parecendo asseverar), que (efectivamente) uma não vai sem a outra. E, para relevar os desafios do crescimento e da competitividade (tornadas) o alfa e o ómega do mercado Mundial (elas) devem obter, custe que custe, a adesão dos dirigentes Africanos e do seu (respectivo) sistema de pensamento e do seu modelo económico, visando a abrir o Continente Africano aos seus interesses. (…).

Lisboa, 14 Janeiro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).