“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
Uma oportuna Visão acerca do subdesenvolvimento do
Continente Africano:
NP:
--- Para se desenvolver, ou seja, se expandir, de modo polimorfo e polifónico, transformar as suas próprias disposições naturais e potencialidades em realidades efectivas, adentro de planos: espiritual, intelectual, moral, físico, um Homem ou um Povo tem necessidade, para além das condições materiais, técnicas e políticas, simultaneamente, de uma determinada confiança (em si próprio e consideração de outrem), que lhe acorda um mínimo de crédito de humanidade. De facto (sem sombra de dúvida), sem estas dimensões (subjectivas e sociais) a Humanidade não pode (na verdade) se desenvolver.
--- De feito, muito mais, que os problemas económicos, os problemas (que se prendem) com a identidade tecem a trama da questão recorrente do desenvolvimento das pessoas e das comunidades. Eis porque, a desorganização completa da identificação que marca os ex-colonizados e castiga de impotência a sua existência, determina (completamente) a questão do seu desenvolvimento.
--- Com efeito, o subdesenvolvimento do Continente Africano constitui um problema (assaz) complexo, cujas causas são, concomitantemente, externas e internas ao Continente e são de ordem, simultaneamente sócio-política, económica, técnica. Até agora (aliás) as grandes tendências, no âmbito da inteligência desta situação preocupante menosprezaram ou minimizaram o moral das vítimas do subdesenvolvimento e a própria visão que (elas) possuem de si mesmas. Confiança em si e, consideração ou respeito que o outro vos demonstra, são capitais, no âmbito do processo pelo qual cada ser, cada povo, passa de uma condição de menoridade para o seu estado de (pleno) desabrochamento.
(I)
Entende-se por subdesenvolvimento (para além do produto nacional bruto e do rendimento médio por habitante), um estado de pobreza, fundamentalmente material que faz planar “sobre” uma população dada a ameaça da precariedade económica.
Se caracteriza, geralmente por uma economia de desembaraço na qual a organização da sociedade para a produção dos bens necessários à segurança física das populações, queda marcada por carências relevantes relativas à quantidade e a qualidade dos recursos (naturais e humanos) e dos meios técnicos de produção, à qualidade da organização do trabalho e das permutas, da transformação e da valorização do trabalho. Enfim e, em suma: O subdesenvolvimento não é um estado “normal”, pois que destrói o equilíbrio que permite a uma população viver numa relativa segurança. É visto (aliás) como um estado de insuficiência material e económica (por carência ou por degradação) das condições normais de bem-estar.
Por seu turno, o bem-estar comporta (na sua essência) dimensões, identicamente alimentar, sanitária, educativa como política, assumindo esta última como (algo que condiciona), frequentemente, as primeiras. Neste sentido, a despeito da tendência, na maioria dos nossos países Africanos, em edificar desde a década de 1960, santuários de glória à cultura pela qual (eles) esperam a sua ressurreição após a “petit mort” colonial, a questão política permanece a primeira de todas.
(II)
Na verdade (e, sem dúvida nenhuma), desde a proclamação das Independências, os Africanos sobreviveram (ao sabor das adversidades) da sua própria história e das vicissitudes da História do Mundo. Seja qual for a sua importância quotidiana, as necessidades alimentares (se nutrir, se cuidar para conservar o seu corpo físico) não devem ser confundidas com as necessidades fundamentais, que incluem outras, tal o de poder se instruir, se enriquecer de ideias locais e universais, se moralizar, confrontando o seu ser com valores (daqui e de algures), se cultivar por intermédio de experiências de todas espécies.
De feito, (evidentemente) é, na verdade, a satisfação das necessidades fundamentais que transforma um povo e o torna capaz de influenciar o Curso da História. Na verdade (sem sombra de dúvida), sem uma educação de qualidade, feita à base de conhecimentos teóricos e práticos, de experiências e de valores diversos, os povos permanecem, um pouco como “animais ordinários” que se contentam em se adaptar ao seu ambiente imediato, preocupados, unicamente se enquistar no seu ser e assegurar a sua auto preservação.
(III)
Um país deixa de ser subdesenvolvido quando (ele) oferece, de modo organizado e durável, os meios teóricos e práticos de transformar o mundo que o envolve, influir no Curso da História, para, finalmente repensar e refazer a imagem que (ele) tem de si próprio, se reconfigurar para os outros. Aliás (sem sombra de dúvida), é na ausência ou na insuficiência de um processo significativo de exigência de excelência, que revela o verdadeiro subdesenvolvimento. Demais, melhor que um mero ser incrustado na solidez opaca do real, o Homem é, assumidamente, um projecto, um “estar em vista”, um “ser dos longes”, parafraseando o filósofo alemão, Martin HEIDEGGER (1889-1976). Efectivamente, o todo para o humano não significa (obviamente) o não existir, mas, sim, efectivamente “bem viver” e conduzir a sua existência à sua plenitude máxima.
(IV)
Salvo, algumas excepções (aproximadamente), os Países Africanos parecem não ter, nem (resoluta e nem de modo durável), assumidos, este processo. Pior ainda, manifestam aos olhos do Mundo, sinais de estagnação, até uma grande e exorbitante capacidade de regressão, que comprometem o pouco de adquirido, que é necessário, ainda assim, reconhecer, desde as Independências. A situação é tal que a melancolia da ignomínia assume o passo sobre a audácia de enfrentar os problemas para lhes encontrar soluções originais. Eis porque, avisadamente, o antigo primeiro-ministro do Togo, Edem KODJO (n-1938), escreve, In Et demain l’Afrique (STOCK, Paris, 1985), o seguinte:
“Partout en Afrique la désillusion est réelle, au point que face aux énormes difficultés que les accablent, oubliant des épreuves de la colonisation, d’aucuns s’interrogent : jusqu’à quand durera l’indépendance ? Depuis 1960, le continent africain, en dépit de quelques bonnes performances initiales, s’est installé dans l’indigence, au point d’être considéré par tout le monde, y compris les Africains eux-mêmes, comme le continent de la pauvreté par excellence. Rien n’est plus éloquent que la manière dont l’Afrique et les Africains, par suite des déboires de l’indépendance, sont perçus par les autres peuples : Continent pauvre, États précaires, peuples mendiants suscitant la pitié, naviguant entre dérision et commisération. L’on nous traite de pauvres et de miséreux, oubliant que le continent, dont moins de dix pour cent du sous-sol est actuellement prospecté, apparaît comme l’une des régions des peu riches de la terre ».
Lisboa, 27 de Janeiro de 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).