quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Epístola Décima Primeira:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

                        Política Cultural e Democracia: (1990-2000):

            ---A queda do Muro de Berlim, que consagra o fim da “guerra-fria”, a perestroïka na Rússia, o discurso de François MITERRAND em Baule sobre “democratie et bonne gouvernance”, a vaga das Conferências nacionais soberanas em África libertam as energias e encorajam as tentativas democráticas no Continente.
            ---No seio dos Estados Africanos, a Sociedade civil assume, cada vez mais e mais, corpo e se posiciona como contrapeso, como contra-poder. Identicamente, que as ocasiões de concertação intelectual se multiplicam à escala do Continente (Congresso dos intelectuais e dos homens de Ciência, em Brazaville, Congresso das artes e da cultura, em Dakar, Nairobi, Joanesburgo, Addis-Abeba...), do mesmo modo, as manifestações sub regionais e regionais renascem, designadamente:
                        -Festival pan-africano do Cinema e da Televisão em Ougadougou (Capital de Burkina Faso);
                        -Festival pan-africano de Música, em Brazaville;
                        -Écrans noirs à Yaoundé (Capital dos Camarões);
                        -Salão Internacional da Arte e do Artesanato à Ougadougou (Burkina Faso);
                        -Salão da fotografia à Bamako (Capital da República do Mali);
                        -Festival Internacional do actor em Kinshasa;
                        -DAK’ART sobre as Artes plásticas a Dakar (Senegal);
                        -Festival de Cinema de Cartago;
                        -Salão Internacional de moda à Niamey (Capital do Níger);
                        -Mercado das artes e dos espectáculos africanos à Abidjan, etc.

            Destes Encontros e das suas manifestações resultam como consequências: Se criam redes de profissionais da Cultura (que se organizam), em domínios variados.
            Enfim e, em suma: O período 1990-2000 conhece, identicamente a emergência de uma nova Civilização Africana da diáspora na Europa e nos Estados Unidos da América, que toma de assalto as cidadelas artísticas e académicas, outrora reservadas unicamente ao génio criador dos Europeus, dos Americanos ou dos Asiáticos.

                        Das Políticas culturais e mundialização: (2000-2010):

            Todavia, cinquenta anos após as independências africanas, o “renascimento africano” tarda (e de que maneira): os conflitos armados agravaram na região dos Grandes Lagos, no Corno da África, na África do Oeste e do Leste. A crise de legitimidade e de legalidade (parece) se acentuar, a despeito das eleições, vendo-se raiar formas inéditas de “repúblicas dinásticas”.
            A parceria Norte-Sul não funciona minimamente (bem), bloqueada ao nível de votos (mais ou menos piedosos), expressos por potentados deste mundo artificial. A nova parceria para o desenvolvimento da África (NEPAD) apenas conseguiu confirmar a má governação dos Estados Africanos, em que os ricos são, cada vez mais e mais ricos e os pobres, cada vez mais e mais pobres (quer às escalas nacionais e quer, outrossim internacionais).
            Os quadros de vida e de sobrevivência se deterioram, a ignorância e a mediocridade generalizadas acarretam a devassidão do ecossistema, o recuo da ética, os atalhos supersticiosos, facciosos e demagógicos.
            De sublinhar, aliás, que alguns intelectuais africanos têm assumido uma posição bastante crítica, no âmbito desta problemática. Ou seja:
            --- O escritor moçambicano, MIA COUTO não tem papas na língua: “A desresponsabilização é um dos desbotamentos mais graves que pesam sobre nós, Africanos de Norte a Sul”.
            --- Por seu turno, o intelectual senegalês, Makhily GASSAMA encarece: “Il faut que les intellectuels africains […] refusent d’être des nègres de service au détriment du développement et de la dignité du continent […] Aucune région n’est aussi assistée que l’Afrique au sud du Sahara. Aucune n’est plus pauvre que cette même partie de l’Afrique. […] Dans toutes les circonstances difficiles où la personnalité des acteurs doive se manifester, les Africains fuient et laissent les autres agir à leur place. La politique, la diplomatie, tout est à l’image de l’homme politique de cette partie du monde : complexe de dépendance cultivé à l’extrême ; esprit de mendicité, maladie communiquée à son peuple ; renoncement à la dignité qui donne foi en nous-mêmes ; culte des forces de division, qu’elles soient de l’extérieur ou de l’intérieur ».
            --- Donde e daí, neste âmbito, se nos antolha pertinente (trazer à colação), um facto, assaz revelador. Ou seja: A última eleição do Director-geral da UNESCO que confirmou, se o era necessário, a existência dos “blocos”: o bloco Norte (Américas, Europa, inclusive Israel) contra o bloco Sul, (sofrivelmente), assim, assim retalhado (inclusive nas suas estratégias e tácticas). Poder-se-á, aliás, se admirar que para determinadas agências internacionais, a África não seja considerada como um continente (a parte inteira), sim, efectivamente, uma edição de duas regiões distintas, uma subsariana (segundo um critério de cor racial), a outra arabófona (compreendendo o Magrebe fixado ao resto do “mundo árabe). A eleição (sob tensão) da nova directora-geral da UNESCO confirmou que o bloco Norte ganhou o match

Lisboa, 11 Janeiro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).