domingo, 21 de novembro de 2010

Peça Ensaística Sexagésima Terceira, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

“Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio”.
Paulo FREIRE (1921-1997).


(1)
            É um facto, assaz pertinente, que, na verdade, é inconcebível pensar a Educação fora do Primeiro espaço, no qual a Criança é concebida e educada: a Família. De facto, é impensável um tal procedimento! (Quiçá!...).
            De feito, esta espécie de “Sociedade natural”, que apresenta a particularidade de conjugar o biológico e o social, foi, muito tempo, concebida como a fonte e o esteio de toda a Comunidade organizada.

(2)
            Eis porque, deste modo, até meados do século XIX, numerosos eram os que não concebiam outra instância de Educação que a Família. Sendo, esta, o suporte e a origem do vínculo social. É a ela, que incumbe, ipso facto, assegurar o fundamental da Educação, com ênfase, na infância e na adolescência (sobretudo). Todavia, as coisas mudam à partir do momento em que a Organização política já não se pode conceber como o espelho ampliado de uma família subordinada a um chefe que protege, proíbe e autoriza.


(3)
            De anotar, que a Família oscila, no quadro das Instituições de Direito Comum regidas sobre o modo de contrato entre indivíduos livres e iguais, já que não oferece dúvida, que o Poder Público deva desempenhar um papel na Educação da Juventude. O Estado se encontra, antes de mais, investido de uma função subsidiária, visto que, se os Pais não assumem as suas tarefas educativas é à Colectividade que pertence o encargo das Crianças.

(4)
            Donde, demais (e, por seu turno), todavia, existe a missão de assegurar pela Escola, a realização de um projecto colectivo. Ou seja: liberdade de cada um, coesão e sobrevivência da Comunidade. Deve, então, garantir para cada recém-chegado, as condições da sua emancipação, preparando, para o grupo e para as gerações sequentes, um futuro melhor.

(5)
            Desde este instante, se coloca a questão da complementaridade ou da oposição entre as duas Instituições: Família e Escola.
            Neste sentido, se nos afigura, oportuno, evocar esta dicotomia: Educação para uma e Instrução para a outra? Todavia, esta dicotomia (que teria o mérito de ser simples), não resiste à menor análise das componentes das duas acções.
            Deste modo, evidentemente, a Educação, na dupla acepção do termo (formação de um indivíduo e socialização), não pode ser separada da transmissão de conhecimentos. A recíproca é, outrossim, verdadeira, pois que, a Instrução faz parte de toda a Educação.

(6)
            Pela aquisição da Cultura do seu grupo, o indivíduo adquire os meios da sua liberdade. Parece então, mais lógico, afirmar que Família e Escola participam (em acordo e, juntamente), num projecto comum, visto que a educação doméstica ou “privada”, já não representa o meio para as famílias assegurar a continuidade da sua própria geração. A criança, sendo convocada para exercer ocupações diversas e viver (num mundo, mais vasto que o da família), necessário, se impõe fornecer-lhe as chaves deste mundo e prepará-lo à aí se mover. Tal é a razão de ser desta Instituição escolar que se pretende situada para além dos interesses privados e das pertenças particulares (laica e nacional), aberta a todos, ela visa o universal.

(7)
            Efectivamente, deste ponto de vista, sem dúvida nenhuma, poder-se-ia pensar que o interesse da Colectividade se concilia, assaz facilmente com o desejo parental de dar à criança os meios conducentes à sua emancipação. Deveria haver (o que se afigura óbvio) concurso e coordenação das duas Instituições, constituindo (obviamente), a Família o pilar fundamental, no âmbito de uma Educação, que seria revezada e completada pela Escola.

(8)
            Enfim e, um tanto ou quanto, à guisa de Remate elucidativo é, na verdade, a Evidência desta harmonia (por e, na verdade) relativa e laboriosamente construída, no âmbito da nossa história (em particular, através do espinhoso problema da”propriedade” da criança), que nos forçam a interrogar.
            Sim, efectivamente, a análise das transformações da Família, assim como o exame das novas configurações, nas quais as crianças são educadas, presentemente, constituem tarefas indispensáveis, se pretende compreender os problemas novos colocados à Escola. Deveriam, outrossim permitir formular algumas hipóteses (quiçá a contrario) acerca das condições, que tornam possível a Educação (encarada esta, na sua assunção, mais nobre e genuína).

Lisboa, 17 Novembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).