quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Peça Ensaística Sexagésima Primeira, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

Les nations sont des universaux, une sorte de moyen terme entre la vie de l’individu et la vraie vie du genre humain. Ce sont des essais d’individualisations collectives ».
Jules MICHELET (1798-1874), historiador francês (In Journal, 7 juin 1842

(1)    Se o Estado é o herdeiro de séculos de monarquia ou de despotismo, a Nação (por seu turno) é admitida e utilizada, no século XIX, na sequência da impulsão revolucionária e do modelo francês. De anotar, com efeito, que o despertar das nacionalidades se edificou sobre o tema da conquista da Liberdade Política. Eis porque, deste modo, a República não é um sonho abstracto da razão. Aliás, ela não é dada por um direito ou uma lei natural. Sim, efectivamente, ela constrói historicamente uma Identidade Colectiva por um imaginário específico
(2)    E, escudando-se, nos doutos ensinamentos do filósofo e activista francês, CLAUDE LEFORT (1924-2010), se, na verdade, a noção de formalização política, implica a de aprovação de sentido e se acrescenta a de uma encenação das conexões sociais. Donde, ipso facto, a nação é a formalização da República. As comunidades políticas imaginárias, como a nação republicana, não são, espontaneamente outorgadas, na evidência concreta da pertença natural, visto que elas reclamam ser constituídas politicamente. Aliás, não é o nascimento, mas a adesão a valores, a reivindicação de uma ideia, que integram.
(3)    Donde, na esteira e peugada do historiador e intelectual francês, Pierre ROSANVALON (n-1948), na sua notável obra (Le Peuple intouvable), de feito: “Ni le peuple, ni la nation n’ont dorénavant de chair sensible. Ils vont devoir être construits avec le double secours de la vision politique et de l’élaboration intellectuel ». Deste modo, se afigura pertinente, conceber ou esperar outras invenções, a de uma Europa política. No entanto, é preciso admitir que, historicamente esta foi a forma do Estado nação (e isto o permanece, presentemente) e que trouxe a Ideia republicana. Uma unidade que assenta numa abstracção: A Ideia de República, tal é a nação francesa (por exemplo). Unidade se fez carne, que gerou uma Sociedade pela via do Imaginário Nacional.
(4)    Sim, efectivamente, a Nação, a consciência nacional, na acepção do nacionalismo cívico, tem a sua origem, numa forma de idealidade política. Ela exclui vincular o poder à pessoa. Ela não pode ser simbolizada pelo corpo do que a dirige. Enfim, ela não possui a caução de uma transcendência que lhe seria externa, pois que ela é desprovida de fundamentos absolutos. Demais, de anotar, que não existe chefe mediador para uma Nação republicana e, por conseguinte, a hierarquia vertical do poder não é primordial. “[…] A Nação é sempre concebida como uma camaradagem profunda, horizontal”, como uma autêntica Fraternidade.
(5)    Antes de mais, se impõe, sublinhar (avisadamente), que esta “horizontalidade” é a de um Espaço abstracto, sem fronteiras, atribuível a centro não simbólico, a Capital, ponto fulcral das divisões administrativas. Neste Espaço Nacional, a “peregrinação” interior, o turn-over da miríade de funcionários de postos em postos, de cidades em cidades, traça a figura do território como as peregrinações medievais construíam a carta da Cristandade.
(6)    Enfim e, em suma, à guisa de Remate, temos que:
a.     A Nação, compreendida, deste modo, como conjunto dos homens livres e iguais em direito, supõe a existência de uma força específica de identificação para um tipo particular de entidade colectiva e, é, assaz dissemelhante, por conseguinte, do nacionalismo populista.
b.    Uma Nação, com efeito, não se define, nem pela “raça”, nem pela língua, nem pela geografia, nem pelo interesse comum ou pelas crenças religiosas.
c.     Por seu turno, a Identidade Republicana é específica, pois que ela universaliza mais que particulariza. Ela se encontra presente, deste modo, compreendida na Assembleia Nacional (leia-se, outrossim, Assembleia Constituinte) cuja a figura se confunde com a do Povo soberano. Como ele, ela não possui preâmbulo. Ela é sem pré-história: Enfim e, em suma: É a soberania que define esta figura da Nação como entidade política abstracta.
d.    De facto, sem dúvida, encontramo-nos, muito longe da “alma de um povo” ou do “espírito de um povo”. Opostamente, à corrente VÖLKLICH, que engendrou o nacionalismo socialismo, ela não se define de molde reactivo nem reaccionário, ela não se propõe regressar à naturalidade de um Povo orgânico.
e.     Assertivamente, exprimindo, se Ela conquista o Estado monárquico é porque ela (a Nação Republicana) não é, nem anti-liberal, nem anti-democrática, nem anti-internacional. E se define (por outro), por oposição, é como e na qualidade de anti-monárquico e anti-clerical, obviamente.
f.     Donde, no fundo, no fundo, efectivamente, Ela rejeita o passado, na acepção de uma verdade congelada, que, todavia, reivindica a História como uma construção dinâmica, em que as dissemelhantes épocas são consideradas como meras etapas, evidentemente…

Lisboa, 08 Novembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).