sábado, 9 de outubro de 2010

Peça Ensaística Quinquagésima Quinta, no âmbito de

 Na Peugada de NOVOS RUMOS:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

Na peugada da GENEALOFGIA da Ideia e das Práticas comunistas:

Com efeito, et pour cause:
Le Communisme est une idée qui remonte
Bien avant Jésus-Christ, à Platon, Babeuf
L’a mise en forme du moment de la
Grande Révolution française,
Bien avant la naissance de l’Union Soviétique,
Bien avant Marx et Engels » Déclaration de M. Théo Vial-Massat.

(I)
                Desde o término do Século XVIII e das contribuições de BABEUF, o Comunismo remete duplamente para uma representação negativa do sistema político e económico burguês (uma ideologia crítica) e para um projecto de Sociedade, mais ou menos, pormenorizado, em que, as instituições, infra-estruturas e leis se articulam, de molde que o bem-estar colectivo seja assegurado e as causas do mal, cujo o enriquecimento individual estejam, completa e integralmente jungidas e domadas.
                De feito, O Comunismo de predominante campesino ou o Comunismo proletário e os diversos esquemas utópicos deste Mundo perfeito, sugerem vias de passagem múltiplas, mesmo se o caos social, são, geralmente privilegiados, no modelo (exemplo) de um WILLIAM MORRIS (1834-1896), este pintor e escritor inglês (aliás, um dos fundadores do Movimento Socialista na Inglaterra), que assimilava e identificava os proletários aos bárbaros purificados. Outrossim e, ainda, alguns como o escritor norte-americano, EDWARD BELLAMY (1850-1898), preferiram situar este mundo no término de um processo linear, de um movimento dialéctico que conduziria o capitalismo aos extremos da sua evolução para cair como uma maçã demasiada madura, na escarcela dos trabalhadores.
                E, explicitando o nosso pensamento e as ideias de fundo, temos que:
                --- A revolução sentimental serviu um GRACCHUS BABEUF (1760-1797) e um SÉBASTIEN FAURE (1858-1942), que esperavam submeter (em poucos dias e sem grande efusão de sangue), uma casta privilegiada encurralada na impotência pela força do número e da consciência do Povo ou do proletariado.
                --- Por seu turno, o filósofo e político francês (Um socialista utópico), ÉTIENNE CABET (1788-1856) e o industrial inglês, filósofo socialista libertário (considerado o pai do movimento cooperativo), ROBERT OWEN (1771-1858), adoptaram o trampolim da experimentação, como meio de fazer avançar, nos seus próprios ritmos, os elementos díspares de uma população, cultural e economicamente heterogénea, para os guiar progressivamente para o círculo reduzido dos iniciadores.
                Donde e daí, desta diversidade de abordagens e de métodos, dois (2) pontos emergem, naturalmente:
A)        A aversão da Sociedade de classes e a visão de um Universo conseguido cuja a análise revela invariantes e
B)         Uma base específica que permite distinguir o Comunismo de todo outro esquema alternativo, nomeadamente o Socialismo.

(II)
                Com efeito, se a violência revolucionária permanece o meio privilegiado da passagem de um para um outro, não se pode confundi-la com o Comunismo.
                De facto, sem sombra de dúvida, ela (referindo-se, obviamente à violência revolucionária) serviu os Jacobinos para instaurar a Constituição de 1793, os Termidorianos para a de 1795, outrossim e, ainda, os defensores britânicos de uma Monarquia Constitucional e os líderes carismáticos de um partido nacionalista ou fascista como o de MUSSOLINI.
                Demais e, por outro, é preciso diferençar, pelo menos, um instante, revolução e comunismo, para observar um tipo de organização social assimilável à algum outro, descrevê-lo tal como ele emerge dos ensaios teóricos, das utopias ou ainda das experiências concretas. O que é facto é que, unicamente, uma genealogia do ideal e das práticas comunistas se encontra em estado e posição de fornecer as respostas esperadas, uma recuperação da história, sem ter em conta os gracejos de um GEORGES LABICA – “[…] e porque não remontar à Platão ou Heraclito?” – que se associa ao filósofo francês (especialista do pensamento de GRAMSCI), JACQUES TEXIER para apenas reter do Comunismo o “projecto moderno de uma emancipação humana, uma crítica moderna e racional da modernização e da racionalização capitalistas”. E a despeito disso! (…). Hélas!

(III)
                De sublinhar, antes de mais, que, no âmbito deste trabalho de abordagem da temática em estudo e análise (assaz necessário), duas balizam o marcam, assertivamente. Ou seja:
                --- Por um lado, o cadinho referencial dos Comunistas néobabeuvistas do século XIX, que engloba PLATÃO, THOMAS MORE, CAMPANELLA, MORELY, MABLY e BABEUF;
                --- Pelo outro lado, uma estela erguida nos jardins do KREMLIN (em Moscovo), em honra dos “precursores” e sobre a qual se distinguem, sacralizados, o conjunto destas personagens.
                --- Outrossim vale a pena referir investigações idóneas, (levadas a cabo, de modo avisado), no atinente ao conteúdo de verdade do Comunismo (este autêntico fio de Ariane) permitiu perverter a hipótese de um Comunismo contemporâneo “conduzido pela utopia”, visto que se inscreve na linha dos grandes narradores de uma configuração social desembaraçada do agente de corrupção, o enriquecimento individual. Outrossim, “portador de utopia”, porquanto por sua vez, se tornou traficante, propagador de imagens, mais ou menos, nítidas de um Paraíso sobre Terra. Este traço de união entre Comunismo e Utopia insinuava a existência de um esquema tórpido nos espíritos, tão robustamente ancorado que ele se reconhece, do mesmo modo, em alguns militantes modernos.

(IV)
                À primeira vista, a distância entre as Teses modelares de PLATÃO e os argumentos materialistas de um MARX ou de um LENINE é muito relevante. A República sonhada pelo filósofo heleno se particulariza, antes de mais, pela rejeição do movimento e pela procura de um retorno dialéctico da Sociedade acerca da formação primeira, sobre um sistema de castas cuja a totalidade confundiria com a perfeição dos que governam.
                Eis porque, efectivamente, ante às derivas do tempo, o Estado regenerado se apresenta como o único garante de um conjunto equilibrado e estável, se a virtude dos eruditos e a coragem dos guerreiros permaneçam preservadas da gangrena da cobiça e se o amor pelo lucro, jamais os venha desviar da sua sagrada missão.
                De feito, apenas um ambiente económico e afectivo ascético pode estar habilitado e em condições de garantir a perenidade destas qualidades, funcionando como uma barreira invisível entre um povo ignorante e submisso às necessidades e às pulsões do corpo, assim como aos da carne e uma elite situada num nível de perfeição tal que nem um na base estaria em condições de estabelecer cotejo ou bem emitir o menor desejo de se elevar à mesma altura.

(V)
                O Comunismo aristocrático é o único meio susceptível de se opor à democracia, à corrupção do poder pelo dinheiro. Opostamente, a este pólo societal tórpido na perfeição, o Comunismo de Lenine se caracteriza por um movimento contínuo, transcendência do presente, fusão entre acção e conhecimento científico do processo histórico: “Não existe um grão de utopismo, em Marx; ele não inventa, ele não imagina de raiz uma sociedade nova. Não, ele estuda como um processo de história natural o nascimento da nova sociedade à partir da antiga, as formas de transição desta à aquela” (Lenine In “O Estado e a Revolução”), para lograr com êxito ao aniquilamento das classes sociais, à ruptura das barreiras entre alto e baixo, o que supõe um alargamento das componentes do Comunismo platónico: Não possuir coisa alguma, nada cobiçar!
                Neste primeiro nível de cotejo, o parâmetro cobiça se impõe, por conseguinte, como um elemento fundamental para apreender o conteúdo de verdade, que enforma, em substância o Comunismo, para o discernir, concomitantemente, como força de treino e bússola de governo. De referir, outrossim, que se impõe considerar um segundo elemento (elemento esse), sugerido pelo filósofo francês (pioneiro da moderna Sociologia), ÉMILE DURKHEIM (1858-1917), que se assume na oposição entre arcaísmo e modernidade.

Lisboa, 09 Outubro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).