segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Peça Ensaística Quinquagésima Quarta, no âmbito de

Na Peugada de
NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

De feito, de BABEUF a CALLENBACH, passando por
FOURIER ou SAINT-SIMON, todos fizeram da
Pátria imaginada um instrumento para
Melhor compreender e julgar o Mundo Real. (…).

Pensando o Comunismo
Sob o Signo da Utopia:

(1)      Não há dúvida nenhuma, que a UTOPIA é um factor dificilmente identificável entre projecto e fantasma. Todavia, ela possui esta vantagem (avaliando o conjuntural e o teórico), permite re centrar o Comunismo sobre quatro (4) pólos reveladores, servindo-se da lúcida classificação da Professora Universitária francesa, YOLÈNE DILAS-ROCHERIEUX, pólos esses necessários para a sua compreensão global. Ou seja:
a.        A primazia da Ideia com a projecção pelo pensamento num algures magnânimo;
b.        O desígnio, como substância da crença, na possível concretização de um universo, em que os grandes traços, são referências, desde THOMAS MORE;
c.        A rejeição expressa pela estigmatização contínua de um certo tipo de sociedade;
d.        O repto ancorado na vontade de inverter o Curso da História.

(2)      Esta concepção em quatro (4) dimensões dá o desvio entre a “intenção de origem”, expressão da lavra do revolucionário marxista francês (grande teórico e prático da revolução socialista), GEORGES LABICA (1930-2008), por seu turno, magistralmente explicitada pelo filósofo comunista francês, LUCIEN SÈVE (n-1926), como a vontade de ultrapassar as “alienações históricas acumuladas no Mundo” e um projecto assimilável a nenhum outro: o de uma Sociedade totalmente depurada dos seus males. Donde, o segredo do Comunismo residiria, por conseguinte, integralmente nesta abstracção, ou seja, no desejo extremo de ver materializar uma configuração inédita em que nenhum indivíduo deveria viver em detrimento de outrem, numa comunidade universal, onde o homem particular deve se apagar ante o produtor indiferenciado (leia-se, o operário, o camponês, o intelectual e o soldado, sendo intermutáveis), num contexto, onde o cidadão se dissipa com o desaparecimento do Estado e a supremacia do económico sobre o político.
(3)      De anotar, todavia, que este desejo (ora enunciado) permanece suspenso no vazio, enquanto não for legitimado por teorias e suportado por uma estratégia de acção. Chega de insistir nos múltiplos argumentos opostos ao qualificativo “crime comunista”, para reencontrar, imediatamente a questão de fundo deste hipotético resultado. A simples noção de desviacionismo estaliniano, extensível ao leniniano, mostra a perspicácia em numerosos espíritos de um cotejo irrefutável, mais ou menos, ficcionado e o desejo de uma supra Sociedade, de tal modo, exposto, que os seus contornos positivos não podem se esfumar.
(4)      De feito, entre a história verídica e a história sonhada, é necessário, por conseguinte, preservar e relevar os efeitos de uma memória do porvir, esta autêntica espécie de filtro ideológico graças ao qual os crimes podem ser condenados, sem que, por essa razão, as ideologias mensageiras e anunciadoras sejam desconceituadas e desacreditadas, pois que a sua infecundidade em matéria de Redenção entra sozinha em linha de conta. Aliás, para numerosos nostálgicos, o episódio comunista do século XX pretérito (soviético ou outro), só representa, deste modo, na realidade, uma experiência, mal sucedida na Sociedade, do mesmo modo que as colónias e as comunidades abortadas do século XX último. Donde e daí, o tirocínio merece, por conseguinte ser remoçado.
(5)      Posto isto, vem, ao de cima, esta pertinente e relevante Interrogação. Ou seja:
a.        Por onde principiar e, outrossim, por onde procurar, actualmente o paradigma edificador e susceptível de legitimar, ipso facto, um tal sistema de crenças?
b.        Com efeito, o solo das relevantes experiências foi, amplamente arrasado e os grandes referenciais caíram em desuso (estamos a referir, em particular e em concreto, aos PC europeus), encurralados a reparar uma nova fisionomia comunista sob pena de se diluir na esquerda “plural” ou dobrado sobre os seus extremos por movimentos explicitamente revolucionários.
(6)      Donde, efectivamente, ela se emerge, em parte, dos noves (9) capítulos precedentes, da confrontação entre as diversas representações da Cidade Comunista, outorgadas pelos diversos ensaios teóricos e utópicos de BABEUF à LENINE, que revela dois (2) pólos invariáveis, designadamente:
a.        O primeiro se queda na denominação do enriquecimento individual como o mal a erradicar;
b.        O segundo é disso prolongamento, visto que ele se concentra nos meios de obstruir os canais de formação do lucro pessoal, se impor a dívida do trabalho, de suprimir o dinheiro e o comércio, metamorfosear o político em gestão planificada do consumo e da produção.

E, à guisa de Remate:
--- De feito, (de sublinhar), que a confrontação da utopia com os eventos, tais como: a conjuração dos Iguais e a Revolução de 1917, permitiu consolidar estas primeiras informações, revelando os segredos de uma alquimia favorável à legitimação da violência, neste ponto, a justaposição do projecto utópico ao programa político, sintetizada na associação da intenção e dos meios da sua concretização efectiva.
--- Demais e, por outro, a ditadura do proletariado, restituída à ditadura do Partido encarregado do arranque das obras, se encontrou, deste modo, justificada pela incomensurabilidade do percurso entre a “velha Sociedade” e a nova Organização e, por conseguinte, pela relevância outorgada aos primeiros metros percorridos, com a necessidade de eliminar todo elemento insubmisso em se retrair atrás do produtor indiferenciado, em deixar destruir a sua actividade e o seu pensamento autónomos.
Donde, enfim e, em suma: Por conseguinte, o controlo absoluto sobre a Sociedade civil, a reeducação dos desencaminhados pelo trabalho compulsivo, a eliminação psicológica ou física do inimigo (com fases de terror e de contracção consoante os períodos e os espaços geográficos) podem globalmente se explicar pela própria substância do Comunismo, a rejeição da especificidade individual.
Lisboa, 03 Outubro 2010
KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).