quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Peça Ensaística Quadragésima Sexta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

“Raça” e “Racismo”:
Continuaação:


(III)
                Os caracteres físicos, que se tem utilizado para definir a “raça”, têm variado, segundo os períodos. Com efeito, a cor da pele, a forma do crânio, a textura dos cabelos têm dado lugar à todas espécies de construções.
                Se o vocábulo “raça”, qualquer que seja a sua etimologia, aparece no término do século XV, deve-se, contudo, por várias razões, no âmbito da história do “racismo”, se debruçar sobre um período mais dilatado. Na verdade, os “racistas” modernos se apoiaram (eventualmente), à custa de interpretação errónea, em autores do passado.
                Com efeito, actualmente os debates travados, no âmbito desta problemática, se encontram directamente vinculados a interrogações mais antigas. Donde, enfim, a definição do racismo pode conduzir a agrupá-los, num conjunto mais vasto de discursos e de condutas de ódio de outrem. Em todo caso se afigura legítimo debater acerca de eventuais periodizações, no âmbito da história do racismo e dos conflitos, assim como acerca das rupturas cronológicas, que, vêm sendo, assumidas.

                Na verdade, se PLATÃO opõe Gregos e Bárbaros, os Filósofos estóicos (de reter, neste ponto), a figura trágica do Imperador Romano, Marco Aurélio (121-180), autor da obra: Pensamentos, em que defende a ideia de pensar o Homem como um “Cidadão do Universo”, ou seja, como “Cosmopolita”.
                Já, no atinente, à Teoria do Clima, que foi retomada pelo eminente pensador muçulmano de língua árabe da época medieval, IBN KHALDOUN, é contestada pelo jurista francês JEAN BODIN (1530-1596), no término do século XVI.
                No século XVIII, vários autores criticaram a Teoria de uma aptidão menor dos Negros, consoante o vocabulário da época, ou dos Judeus em ser civilizados.
                E, no que diz respeito à Ideia de “degradação” de certos grupos humanos, avançada pelo naturalista e escritor francês, conde de BUFFON, de seu nome verdadeiro, Georges Louis LECLERC (1707-1788), ou pelo político francês, abade GRÉGOIRE (1750-1831), de verdadeiro nome HENRI GRÉGOIRE, de anotar, que ela implica, por seu turno, a noção de uma “regeneração” possível. Eis porque, alguns autores sustentaram que a escravatura produzia a decadência e a degradação do escravo e que os que justificavam a implantação da escravatura pelo estado do escravo invertiam a ordem dos factores. Ou seja: Não é a “natureza” do escravo que permite legitimar a escravatura. Sim, efectivamente, é a escravatura que produz caracteres específicos aos que são vítimas deste sistema!
                Poder-se-ia, outrossim asseverar que o racismo produz anomalias que ele denuncia nas raças “inferiores”. Neste particular, um sociólogo norte-americano, Robert K. MERTON (1910-2003), mostrou como os Negros oriundos de entre as regiões dos Grandes Lagos, ulteriormente no Sul dos Estados Unidos, na sequência imediata da Primeira Guerra Mundial eram excluídos do acesso às grandes empresas metalúrgicas, em que era necessário estar sindicalizado para poder ser assalariado (trata-se do sistema dito dos closed shop). Todavia, por outro, pela mesma ocasião, deviam aceitar trabalhar por salários muito baixos (abaixo dos mínimos sindicais), quando não se os utilizava para “furar greves”, de sorte que os operários brancos, os consideravam, como autênticos traidores e os menosprezavam, obviamente. Este exemplo poderia ser transportado a outros casos. De anotar, todavia, que o mecanismo foi denunciado, muito cedo, enquadrado, no âmbito das avisadas preocupações assumidas pelo Pensamento Filosófico Progressista.

Lisboa, 14 Setembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).