Na Peugada de NOVOS RUMOS:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
“Raça” e “Racismo”:
Continuação:
Com efeito, seguindo a etimologia, que remete “race/raça” a “haras”, poder-se-ia asseverar que a Noção “raça”é uma transferência à espécie humana de uma prática oriunda do mundo animal. Aliás, não é, outrossim de estranhar, que numerosos teóricos racistas se assumem, simultaneamente partidários do Eugenismo. De referir, que segundo a etimologia grega, eugenismo significa “bom nascimento” e, se encontra, na raiz do vocábulo génios, que, por seu turno, é, frequentemente traduzido à partir do Grego antigo por “raça”.
Presentemente, a Genética abriu um novo campo, no domínio deste tipo de empreendimento. Eis porque, se compreende a relevância da Bioética, que deu lugar ao voto de uma resolução da UNESCO em Novembro 1997, conducente à aprovação da Declaração Universal sobre o Genoma Humano e sobre os Direitos Humanos e que precisa que o respeito pelos Direitos Humanos não está condicionado pela sua “característica genética”.
Além disso, o termo “raça”, a propósito dos homens, é utilizado no singular. Deste modo, falar de “raça humana” não conduz ao “racismo” (antes, pelo contrário), visto que a utilização do singular se opõe à ideia de uma multiplicidade de grupos particularizados e hierarquizados. No entanto, uma vez que se vai falar “das raças” (no plural), se introduz a possibilidade (não apenas) de os distinguir, sim, efectivamente para os classificar: “de bom ou mau”. Eis porque, asseverar que existe uma raça humana vai ao encontro do “racismo”, ou seja, a crença numa pluralidade de “raças” (o que se pode denominar: uma concepção “racial”), conduzindo, ipso facto (frequentemente, aliás), à teoria “racista”. Desta feita, da noção de diferença se passa facilmente à de desigualdade.
De anotar, finalmente, que o valor de “raça” (neutra) entre os “raciólogos” que acreditam na existência de “raças” dissemelhantes (porém, iguais), noção essa que carreia um preconceito entre os “racistas”, pode ser utilizada, sob um modo reivindicativo e positivo, por grupos vítimas do racismo, mas que reivindicam a sua identidade, negada ou desvalorizada por políticos partidários da segregação ou da exclusão.
Nos Estados Unidos da América do Norte, se encontrava, na década de 1970, uma afirmação da sua identidade negra e do seu valor, no seio de alguns grupos, como os do BLACK POWER, enquanto militantes anti-apartheid, na África do Sul (cuja referência principal é o conhecido activista do movimento anti-apartheid, na África do Sul, na década de 1960, STEVE BIKO (1946-1977), afirmavam da necessidade de desenvolver a “consciência negra”. De referir, outrossim e, ainda, que no século XXI, Índios da América Latina proclamavam o valor da RAZA.
Estamos, deste modo, ante uma vontade férrea de inversão de valores em que o grupo estigmatizado, depreciado, alienado pretende e, quer se reapoderar de uma Identidade, que foi desvalorizada pelos opressores racistas. Socialmente, este “racismo anti-racista”, para retomar uma expressão da lavra de SARTRE, a propósito dos Argelinos, pode ter repercussões nas antigas metrópoles coloniais de outrora, em que o racismo os castigava franca e frontalmente.
Lisboa, 12 Setembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/internacionalista --- Cidadão do Mundo).