terça-feira, 3 de agosto de 2010

Peça Ensaística Vigésima Sexta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


La catégorie des tiers est elle-même équivoque car toutes les provenances n’ont pas la même signification en termes de sécurité ou de dangerosité supposée, de valeur économique et de distance culturelle »
Etienne BALIBAR
In Migrations et relations internationales, Paris 2006


            Quão obcecante é, efectivamente a questão do Si, num Mundo agitado e assaz martirizado. Eis uma asserção que se aplica, de modo dialecticamente consequente, a todos os Povos oprimidos da Humanidade, com ênfase, para os povos do nosso Continente. De feito, os Povos da nossa África, outrora colonizados e, actualmente, recolonizados, em proveito do Capitalismo globalizado, não cessam de nos perguntar avidamente: Quem somos nós?
                        E, sobretudo: Em quê que nos transformamos?
            E, explicitando, pertinentemente as ideias de fundo (no âmbito desta problemática em estudo), visando, acima de tudo, uma elucidação apropriada do conteúdo de verdade das duas questões, acima enunciadas, temos, deste modo que:
            (1) O Sistema económico dominante transforma os sinais de referência, as conexões a Si, ao Outro e entre as Nações. A busca, que disso decorre é permanente. Passa, necessariamente por em Si, o em Si próprio, o Outro e o algures. De feito, é pura e simplesmente humana e de uma intensidade particular, por vezes, mais grave para os e as cujas as mãos e os ventres estão vazios, os e as que sobrevivem, dia após dia.
            (2) Confrontados com limites e derivas (desvios de rumos) do seu próprio modelo, eis que os capitalistas se colocam as mesmas questões e vão, até ao ponto de entrar em pânico. Os pretensos donos do Mundo, omniscientes e omnipotentes, esses mesmos, que censuram a tendência ao enclausuramento e a tibieza dos dominados (compulsivos), “se barricam”, reivindicam a sua identidade nacional, erguendo, em sinal de ameaça os seus estandartes e “denunciam” aos grandes berros a chegada da “invasão”.

                                    Oh! HÉLAS! Efectivamente temos todos medos
                                    Temos medo de não possuir o mínimo suficiente.
                                    Todavia, sobretudo, de não ser nada. É o vazio e
                                    O receio do aniquilamento, quedando no lote dos
                                    Oprimidos.


            (3) Os capitalistas, quanto a eles, têm, cada vez mais e mais, medo de perder alguns dos seus privilégios, partilhando o que seria unicamente de todos (sem excepção), restituindo a nossa Humanidade. Têm medo da nossa presença, quando ela não for solicitada, nem susceptível de acrescentar ao seu ter, medo das nossas diferenças, quando ela se faz insistente. Enfim e, numa eloquente asserção: Angariadores dos passadiços que possuem apenas por arma, escalas, se tornaram “ilegais”, “clandestinos”, “imigrantes sem documentos”, “inimigos” a neutralizar, evidentemente.

            (4) Na verdade, efectivamente, o nosso Mundo, vai seguramente mal e, muito mal, mesmo, constituindo a fobia tranquilizante e a abordagem criminalizadora da questão migratória, as expressões dramáticas desta situação. E, a África corre os piores perigos, pois que ela se encontra vigiada (está debaixo de olho). Os Estados membros da União europeia possuem a mão, particularmente pesada, quando se trata dos Africanos negros. Todavia, o pior, no meio de tudo, é que nós, os Africanos, recusamos, amiúde admitir a ressurgência do racismo anti Negros, pelo receio de dever nos bater contra um adversário temível, por ser extremamente “poderoso”.

            (5) Inédita, no entanto, sobretudo, grave e humilhante, é, na realidade, a nossa situação actual. De feito, de anotar, que a humilhação não reside unicamente na violência, a qual o Ocidente nos habituou e que, principiou, há mais de cinco (5) séculos, aproximadamente, com o tráfego negreiro. Ela reside, identicamente, na nossa recusa de compreender o que nos acontece, organizar a resistência e influir nas relações de força. Num Mundo, quão incerto e, assaz perigoso, porque regido pela lei do mais forte, parecemos ter escolhido seguir o “diagnóstico e as soluções” do que domina.

            (6) Todavia, não devemos e, nem podemos, olvidar, que no passado, fomos, por certo, vencidos, porém, resistimos e, de que maneira. Aliás, em qualquer parte do Mundo, os Países que erguem a cabeça, em vez de se submeter (concretamente, o Japão, a China, a Índia, o Brasil, a Venezuela) figuram entre os que recusam se entregar de pés e mãos atados às nações ricas e às instituições internacionais de financiamento. Resistem-lhes, se afirmam e conseguem, frequentemente a se impor.

                                   
                                    Para reflectir avisadamente:
                        Com efeito, os valores, que permitiram à Mulher Africana
                        Salvar a progenitura das calamidades de uma história, sem
                        Igual, são, como assevera eloquentemente, a jornalista
                        Senegalesa, DIÉ MATY FALLLe bonheur de la maternité,
                        La responsabilité d’engendrer la Société […], l’amour filial,
                        La dignité de gardienne du temple »
                        Sim, efectivamente, a Mulher Africana gera e cria a Vida,
                        Assegura a sobrevivência, enfim e, em suma: Engendra o
                        Sentido pleno da Existência Humana.


            Eis porque, de feito, tendo em mente, estes egrégios Valores, que nos legaram os nossos Avoengos, estamos, ipso facto, munidos de um robusto arsenal cultural, que nos permite enfrentar, estoicamente o desafio/repto ao qual fazemos frente, presentemente (nos nossos dias de hoje). Donde, no âmbito desta dinâmica, se impõe imaginar perspectivas de futuro centradas nos Seres Humanos e, concomitantemente, assumir uma reapropriação consequente dos nossos Destinos, que recorra à(s) nossa(s) língua(s) materna(s), aos nossos referenciais, à valores de Sociedade e de Cultura, que nos são familiares, obviamente.
            Deste modo, no âmbito desta perspectiva, devemos sobretudo recorrer, em tempo útil e oportuno, a arma, a mais decisiva, a arma de “destruição massiva”para opor à sorte funesta ao qual o nosso Continente, parece se encontrar votado (quiçá, aparentemente, ad aeternum), que é, sem sombra de dúvida, a sua unidade, na sua assunção mais nobre.
            Sim, efectivamente, a África deve-se unir, realmente! E, congregando, o mais rapidamente possível, todos os seus Recursos Humanos (com ênfase para a sua Juventude), outrossim e, ainda, os recursos materiais, reputados entre os mais relevantes et pour cause, os mais cobiçados do Planeta.

            E, rematando assertivamente: Por conseguinte, assim que, Ela (referindo-se, obviamente à África), o faça, antes de mais, a atitude dos seus algozes e carrascos de ontem e de hoje, mudará, em seguida, Ela (a África) recuperará o seu verdadeiro e autêntico Lugar, no âmbito da Trajectória evolutiva da História Humana, simultaneamente original e Central, no Mundo.

Lisboa, 03 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).