sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Peça Ensaística Vigésima Sétima, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


Abordando a questão que se prende com a Conexão existente
Entre a Identidade e a Cultura:


(I)
                Minuciosamente, ao longo da sua elaboração do Si, o Indivíduo é coagido a ter em conta, tudo quanto o envolve, com ênfase para a função da Identidade, construindo-a, indissoluvelmente como conexão à si próprio e conexão ao seu meio ambiente. E, se definindo, o Meio Ambiente, como a rede dos estímulos “salientes”, ou seja: Significados no interior do não Si”, como o dizendo respeito. Todavia, para o Homem, este meio ambiente se apresenta como quase robustamente mediatizado pelos seus semelhantes, que se apropriaram disso para o estruturar antes dele, em unidades de sentido, elas mesmas integradas em escalas de valor. Donde, ipso facto, o Indivíduo não se pode construir ele mesmo, como sentido e valor, fazendo disso abstracção.

(II)
                Et pour cause, se nos afigura, pertinente acrescentar (visando relevar a complexidade da situação), que é Outro, que se apresenta sob dissemelhantes “figuras”, designadamente: o indivíduo, o grupo particular, a organização dos grupos particulares em grupos nobres (Sociedades, etc.). Ora, cada uma de entre “elas” está, pelo menos, potencialmente, na origem da configuração de sentido e de valores, que se recortam e se distinguem diversamente, consoante o tipo de estrutura social. Deste modo, com este expediente, se introduz, avisadamente uma variável sociológica conducente a diferenciar esta nossa análise.

(III)
                De feito, entretanto, qualquer que seja o contexto social, o Indivíduo está sempre submetido à uma pressão de efectivação da Identidade consoante a estrutura dos danos de outrem, pelo menos, do Outro pelo qual, se percebe como interessado (leia-se, outrossim, a quem diz respeito): Ou seja: que é impelido para uma interiorização das unidades de sentidos e dos valores ambientais, em que apenas, o grau e as modalidades variarão em função do tipo de configuração social na qual se encontra imerso.

(IV)
                De sublinhar, antes de mais, que entre estas estruturas, o Sistema Cultural, se assume, evidentemente como privilegiado, sendo as suas injunções da identidade, as mais enérgicas. Pela sua socialização, já o sujeito é levado a adoptar do interior as suas unidades de sentido e de valor preestabelecidos, graças ao mecanismo de identificação: Processo fundamental do Si à partir de elementos do exterior. De facto, assimila, se assimilando, ou seja, se tornando semelhante, no atinente a tais caracteres, aos a quem pediu por empréstimo: Indivíduos, grupos particulares e nobres. Existe aí, uma matriz de condutas, pela qual, se edifica, como adaptado ao seu meio ambiente Humano: A matriz da “similaridade” que assume diversas formas descritas pelos Psicólogos contemporâneos.

(V)
                Deste modo e, no âmbito desta dinâmica, orientar-se-á que todas as coisas idênticas, aliás, a interiorização da sua própria cultura lhe permite assegurar a menores encargos, as funções da sua “operação”de identificação, na acepção própria de operar a sua Identidade, por intermédio de um Trabalho constante.

(VI)
                Com efeito et pour cause, satisfaz, por um lado, à função ontológica, se outorgando uma estrutura de sentido e de valores, que lhe procura uma unidade admissível sem ter necessidade de a construir ele próprio, evidentemente. Donde, de sublinhar, demais, que, quanto mais se identifica nisso, tanto mais se edifica, como variante de uma personalidade típica (quiçá, uma verdadeira “personalidade de base”), remetendo, finalmente para o grande número dos autores (leia-se estudiosos desta problemática), uma vez afastados os pressupostos psicanalíticos inerentes a uma “personalidade social” comum aos membros do Grupo.

(VII)
                Por outro, à medida em que o Indivíduo/Sujeito interioriza a sua cultura, satisfaz à função pragmática (ou instrumental) da sua operação de identificação, por uma adaptação ao meio ambiente cuja a chave lhe é, outrossim, fornecida pela sua Sociedade. É necessário pensar, com efeito, que o Indivíduo atravessa, quotidianamente uma gama enorme de situações, que se fossem todas singulares, novas, exigir-lhe-iam um esforço de invenção, a todos os instantes, para reagir a isso, correctamente. Todavia, felizmente para ele, elas só são muito parcialmente, visto que o seu sistema cultural as integra em situações típicas relativas à grande maioria dos Eventos susceptíveis de sobrevir, num Ambiente dado.

(VIII)
                O conteúdo de verdade do arrazoado, ora expendido, significa, que este sistema os “categoriza”. Concretamente:
                --- Ele classifica, numa única classe: “unidade”, o grupo das situações, que aparecem, aquando do nascimento, em outras unidades, essas sobrevindo, respectivamente, aquando da morte, do trabalho profissional, do encontro entre sexos dissemelhantes, entre gerações, entre estatutos papéis de toda a espécie, etc. Podendo, estas categorias se reduzir, se diferenciar, se multiplicar, conforme o modo em que as culturas redesenham o Meio Ambiente, cada uma, aliás à sua maneira.
                --- Eis porque, por exemplo, os INUIT (leia-se, outrossim, Esquimós) do Grande Norte não construíram o mesmo STOCK de “unidades situáveis” que os TUAREGUES do deserto.
                --- De consignar, enfim (e demais) que o mesmo sistema oferece ao Indivíduo o sentido que convém dar à tais unidades e a forma de aí se relacionar.
                Eis, no fundo, no fundo, ipso facto, a Codificação, na sua assunção plena.

(XIX)
                E, para Rematar, de modo pedagógico:
                (1) Por intermédio destas duas (2) operações estudadas (que se executam, concomitantemente), é que se edificam as “situações típicas”, ora analisadas.
                (2) Munido do seu Código cultural, o Indivíduo/Sujeito/Cidadão conta com estas situações dotadas das significações, elas mesmas típicas das quais foi equipado, às quais bastar-lhe-á trazer as correcções secundárias, em circunstâncias particulares.
                (3) Deste modo, graças à esta categorização codificada, determinada, foi intuído, como pré-adaptado ao dinamismo social.
                (4) Donde, demais, na medida, em que o seu sistema cultural for coerente, no interior do seu modelo de partida, passa de uma situação à outra, sem surpresa e sem à-coup. Este sistema, sendo vivido, como que o vinculando às situações enfrentadas. Efectivamente: A Cultura é o grande fautor da “circulação social”, facto que se apercebe facilmente (e, sobremaneira, aliás), quando passamos por uma Sociedade, em que, esta nos é, completamente desconhecida.
Lisboa, 06 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).