domingo, 15 de agosto de 2010

Peça Ensaística Vigésima Nona, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


                Continuação da Peça Ensaística Vigésima Oitava:

(A)
                Em primeiro lugar, efectivamente, elas tendem a estender as catástrofes ecológicas, que castigaram uma grande parte da Ásia nos séculos XIX e XX (e, por conseguinte, por extensão óbvia, os problemas subjacentes de superpopulação/superpovoamento), em períodos mais recuados. Por outro, as sociedades asiáticas do século XVIII são apresentadas como chegadas ao termo de todas as possibilidades que se lhes ofereciam. Demais, em algumas versões, este estado de coisas caracteriza a totalidade de um conjunto fictício denominado: “Ásia” cerca de 1800. Ora, de consignar, avisada e assertivamente, que a Índia, a Ásia do Sudoeste e mesmo a China, em algumas das porções do seu território dispunham ainda de vastos espaços propícios para a Instalação de uma População em excesso, isento de um salto para frente tecnológico e sem baixa do nível de vida. No caso da China e do Japão, esta última o dizia respeito, sem dúvida, a algumas parcelas do território.

(B)
                Em segundo lugar, estas descrições, “internalizam” amiúde, o extraordinário prémio ecológico procurado nos Europeus pelo Novo Mundo. Algumas o foram, assimilando a expansão ultramarina à conquista “normal” das zonas “fronteiras”, no interior da Europa (como, por exemplo, o arroteamento das planícies da Hungria ou da Ucrânia, ou das florestas germânicas). Isto significa não se preocupar com a dimensão excepcional da fortuna representada pelo Novo Mundo, da não menos excepcional violência utilizada na conquista e da valorização colonial e do papel das dinâmicas de conjunto, no êxito da expansão europeia nas Américas.

(C)
                O arroteamento de novas terras agrícolas na Hungria e na Ucrânia têm o seu equivalente no SICGUAN, BENGALA e em muitas cenas do Velho Mundo. Os acontecimentos do Novo Mundo diferiam, profundamente de toda a situação europeia ou asiática. Demais, pelo facto do enorme alívio ecológico procurado na Europa fora das suas fronteiras, tanto pelo ganho de riquezas como pela exploração de colonos, estas análises se dispensam normalmente de se interrogar acerca da relativa similitude de entre a pressão ecológica e as escolhas enfrentadas por algumas regiões chaves de Europa entre os séculos XVI e XVIII e os que suportavam regiões chaves da Ásia.

(D)
                Deste modo, a Literatura que toma em conta o “declínio da Ásia” tende afazê-lo, introduzindo um contraste abusivamente simplificado entre a China, um Japão e/ou uma Índia ecologicamente de joelhos e uma Europa dotada de uma ampla margem de crescimento (uma Europa, que dá prazer, consoante uma fórmula de “a vantagem do atraso”), pois que, ainda, muito longe de ter alcançado o nível de desenvolvimento permitido pelo pleno uso dos seus recursos internos.

(E)
                Tendo em conta o acima expendido, foi, precisamente, procurando ir para além destas petições impressionistas que se pôde atingir o cerne da problemática de fundo. Assim, através de um cotejo avisado levado a cabo, sistematicamente entre os constrangimentos ecológicos de regiões chaves escolhidas na Europa e na Ásia. Este interessante Inquérito mostrou o seguinte:
                --- Que certas regiões da Europa no século XVII desfrutavam de algumas vantagens ecológicas em relação ao seu equivalente da Ásia oriental, de sublinhar, no entanto, que o conjunto do quadro é muito mais mesclado. De feito, regiões chaves da China parecem ter sido muito melhor lotado que o seu gémeo europeu, por vezes, em pontos surpreendentes, designadamente no atinente à quantidade de combustíveis, disponível por cabeça. Aliás, a Grã-Bretanha, efectivamente, berço da industrialização, possuía poucos recursos (sub explorados), que podiam subsistir em diversas outras partes da Europa.
                --- Que ela (referindo-se, obviamente à Grã-Bretanha) parece não ter sido, melhor dotada que o seu equivalente aproximativo na China, o delta do BAS-YANGZI, em matéria de reservas de madeira, de exploração dos solos e de outros parâmetros ecológicos cruciais.

                Donde, em jeito de Remate assertivo: Se, por conseguinte, se admite que é o crescimento demográfico, assim como as consequências ecológicas que estão na origem do “declínio” da China, dever-se-á então afirmar que a evolução interna da Europa o tinha levado muito perto mesmo do princípio, antes que aos acessos do “take-off” e que ela foi salva da queda pelo efeito conjugado dos recursos do ultramar e da penetração britânica em matéria de utilização das fontes de energia. Enfim e, em suma: Se considerarmos, em contrapartida, que a Europa não tinha ainda alcançado este ponto crítico, deve-se admitir com toda probabilidade que não era tão pouco o caso da China.

Lisboa, 13 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).