Na Peugada de NOVOS RUMOS:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
(1) Uma vez, expendida, nas postas precedentes, a essência da Problemática, que temos vindo a estudar, na verdade e, na realidade, será possível, no meio de tudo isto, ressalvar, presentemente, que a ortodoxia se concentre sobre movimentos sectários (salvo, porém, a utopia), a única capaz de poder reactualizar a promessa?
(2) Esta pertinente e oportuna questão tem sido colocada, com uma certa e determinada acuidade, por razões e motivos óbvios, sem, contudo, que as respostas avançadas tenham correspondido às expectativas, pois que todas se afinam pelo mesmo diapasão. Vejamos, então em síntese, qual o panorama em transe (já agora):
a. De facto, após uma etapa dominada pela declaração de abandono do determinismo marxista e da violência revolucionária, foi afirmada a firme vontade de revivificar o comunismo em torno de um projecto de “passamane do capitalismo”.
b. O que significa, grosso modo, que o “radicalismo” político e a utopia acham mobilizados, de molde a restituir à intenção e fim comunista “a sua dimensão visionária”.
c. Este retorno atesta que, uma vez, os três elementos básicos da ortodoxia comunista dissociados, porque não, desconceituados junto das massas, da herança de Lenine, apenas resta a memória de um futuro em busca de legitimidade e de palpabilidade.
d. Deste modo, o comunismo parece querer se atribuir novas origens (novos valores, obviamente), quiçá voltar às verdadeiras origens (melhor dito), recarregando as baterias, ipso facto, no cadinho da sua origem primordial. Todavia, resta a saber se a fonte não foi vazada, de modo, assaz irreversível.
E, rematando, de molde dialecticamente consequente:
De feito, seja como for, a sua compreensão global, passa, obrigatoriamente pela identificação dos seus vínculos/elos com a Utopia, no desígnio de avaliar a carga ideal e, outrossim a dinâmica da Utopia contida no Comunismo, sem os confundir jamais.
Enfim, enfim, enfim:
Em complemento oportuno, vai, em jeito de recapitulação, uma nova sinopse da UTOPIA e do perfil biográfico do seu autor, São THOMÁS MORE:
(I)
(1) O vocábulo Utopia, oriundo do Grego (o`v-tóroç), que, em português, se traduz, habitualmente, por nenhures, corresponde ao neologismo introduzido por MORE para designar a Ilha por si imaginada, alegadamente (quiçá) descrita por um navegador português (Rafael HITLODEN). Esta personagem, quão peculiar e sui generis, dá, a conhecer, a MORE, ao longo de todo o Livro II, o sistema económico, político, jurídico, religioso… do povo da Utopia.
(2) A Utopia é uma obra, eminentemente crítica (de filosofia política e social) cujas implicações éticas não podem (como, aliás, não devem) ser ignoradas, por motivos e razões óbvios, pois que ela (a Utopia, obviamente) se impõe pela sua actualidade e pertinência e, outrossim, sobretudo, pela inegável influência que exerceu no Pensamento Humanista Ocidental.
(3) Originalmente, escrita em latim e editada em Novembro 1516, em Lovaina (Bélgica), a Utopia foi, pela primeira vez, traduzida para o idioma inglês, em 1551, por RALPH ROBINSON, sendo a segunda tradução da autoria do bispo GILBERT BURNET, datada de 1685.
(4) A Obra, no seu todo, consta de dois Livros (Livro I e Livro II, respectivamente). Por seu turno, o Livro I, se subdivide em vários capítulos (ou Temas).
(II)
THOMÁS MORE nasceu em Londres, a 6 Fevereiro 1478 e morreu (decapitado) a 6 Julho 1535, pagando com a sua própria vida, o preço da sua fidelidade à Igreja de Roma e aos seus princípios éticos, recusando-se aceitar a autoridade religiosa de Henrique VIII, conquanto tenha sido aconselhado por Thomas CROMWELL (este, por sua vez, aluno de MAQUIAVEL).
MORE é sem sombra de dúvidas, uma figura incontornável do Pensamento Humanista europeu. Contemporâneo do Literato, Sábio e Filósofo holandês (natural de Roterdão, Desidério ERASMO (1466-1536), desde cedo revelou o seu interesse para as Leis e para a Teologia. Em Oxford, onde estudou, chegou, mesmo a traduzir a Obra: A Cidade de Deus da autoria de Santo Agostinho.
Todavia, a sua carreira foi marcada, sobretudo pelos seus cargos políticos de relevo, que ocupou (com ênfase, para o cargo de Chanceler do Rei Henrique VIII de Inglaterra). Foi, precisamente este monarca, o responsável pela sua trágica morte.
MORE foi canonizado, no ano de 1935, por ter sido considerado mártir.
Lisboa, 26 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).