quarta-feira, 7 de julho de 2010

REPONDO A VERDADE (vivida por dentro)


Referindo-se a esta notícia do jornal português “PÚBLICO” sobre a visita de Cavaco Silva a Cabo Verde, mais concretamente à parte da notícia em que se cita a homenagem prestada por governantes cabo-verdianos a José Saramago; e em que o jornal escreveu, e transcrevo:

«Ainda que o dia fosse de exaltação nacional, a melhor forma que alguns dos oradores encontraram para o fazer foi recordar a memória do escritor José Saramago. Dos cinco discursos proferidos, três referiram-se ao Prémio Nobel, tanto para "honrar a sua memória" como para o citar.»;

Repito: referindo-se a essa notícia, Helena Matos não se conteve na sua sanha anti-PC e anti-Saramago e resolveu manifestar no Blasfémias a sua vocação de educadora universal tendo desarrincado o seguinte parágrafo que a seguir transcrevo:

«os governantes de Cabo-Verde [devem estar esquecidos] daquilo que Saramago e o PCP defendiam em 1974 e 1975 para aquele arquipélago. Cada um cita quem quer mas é melhor os dirigentes de Cabo-Verde mudarem de autor de referência ou ainda descobrem que o seu destino histórico e racial como na altura a esquerda afecta aos PCP dizia é fazer parte da Guiné-Bissau.»

Eu, que na altura de que fala Helena Matos (1974/1975) era militante do PAIGC, devo esclarecer a senhora de tão fácil e leve escrita que:

1)   A ideia de “Unidade Guiné - Cabo Verde” partiu das teses políticas de Amílcar Cabral e não de fora do PAIGC. Ao tempo a que Helena Matos se reporta (1974/1975) todos os políticos de topo do Partido e todos os militantes “formados” pelas ideias de Amílcar Cabral defendiam a “Unidade”; não foi preciso irem o PCP e Saramago a Cabo Verde para se escutar essa tese.

Cabral bastava-nos! Para o bem e para o mal.

2)   As ideias dos “chefes” e “gurus” da política como Amílcar Cabral, ao tempo não se discutiam; eram bebidas, divulgadas e defendidas tal como vinham “embrulhadas” da “origem” , até porque mais de 90% dos militantes dos movimentos de Libertação éramos jovens estudantes, entusiastas e defensores da independência, sem tempo, sem outra informação para além da do Partido ou Movimento de Libertação, não sentido a necessidade de “testar” as ideias destes antes de as tentar levar à prática.

― Quem disser o contrário mente!

3)   Foi a realidade dos factos, sobretudo o sorvedouro de divisas em que a Guiné se transformou logo no início da “União”, que trouxeram a “teste” as ideias unitárias de Amílcar Cabral. Daí nasceu o sentimento, a consciência da necessidade de travar o processo e fazer com que Cabo Verde caminhasse sozinho. Daí nasceu a necessidade da separação.

4)   A necessidade da separação de Cabo Verde da Guiné-Bissau já era, portanto, sentida e defendida por elementos e governantes do PAIGC (de Cabo Verde), em Cabo Verde, bastante tempo antes do golpe de Estado de Nino Vieira contra o então Presidente da Guiné-Bissau, Luís Cabral. Este golpe de Estado deu aos políticos e governantes cabo-verdianos o pretexto ideal para denunciarem a “união” (coisa que fizeram sem quaisquer delongas) e seguirem sozinhos o seu caminho de construção do Estado cabo-verdiano, pois que Nação “sempre” houve ― coisa que na Guiné não havia, ainda não há e não se sabe se algum dia haverá dentro dos limites actuais daquele território habitado ―.

Por fim, e por tudo o que disse, e ainda porque defendo a independência de Cabo Verde, quero esclarecer a Helena Matos pelo menos o seguinte: quer goste ou não, todos nós cabo-verdianos com memória e com conhecimento de causa somos eternamente gratos ao PCP e aos seus militantes por nos terem ajudado em horas muito difíceis a conseguirmos a libertação e a independência dos nossos países (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bisau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe).

O resto é folclore!...

BOM DIA!