quarta-feira, 16 de junho de 2010

Peça ensaística Décima, no âmbito de

Na peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)


(A)
            Ante os egrégios desafios/reptos da Humanidade, designadamente:
a)      Reptos energéticos com a diminuição dos recursos petrolíferos;
b)      Reptos ambientais e planetários, com a degradação da camada de ozono e o aquecimento climático;
c)      Reptos de civilização, enfim, enquanto o Mundo (dito desenvolvido) graças em correr para uma felicidade, quão irrisória como hipotética, já não, se sabe “a que porta há-de ir bater”, não há dúvida nenhuma, que aos Africanos compete um papel fundamental a representar.

(B)
            Com efeito, neste momento em que o crescimento se assemelha, cada vez mais e mais, à uma corrida para a morte, a África pode e deve fazer uma aposta num desenvolvimento económico sensato, edificado na utilização de energias duráveis. De facto, se obstinar no recurso em energias fósseis seria um erro fatal para o nosso Continente, como, aliás, para o Mundo inteiro.
            Eis porque, se pode asseverar, que na qualidade de primeira vítima dos danos irreversíveis infligidos à Natureza, a África pagaria, por isso, uma amarga factura. Ou seja: o sacrifício de milhões de almas reduzidas à miséria, à enfermidade e à guerra.

(C)
            Outrossim e, por outro, no atinente ao consumo desenfreado de bens materiais, que se conhece, desde, há já alguns anos, se compreende que (ela) não se tornava mais feliz. Neste contexto, quando menos (pelo menos), as crianças do nosso Continente desfrutam uma oportunidade: não têm a se perder, antes de mais, para ter de se orientar em seguida, pois que possuem os meios culturais susceptíveis de criar, para o Mundo e para si mesmos, um suplemento de alma em vez de um acréscimo de riquezas, com a condição de compreender e de aceitar que a modernidade não é uma noção reservada, única e exclusivamente ao Ocidente. Sim, efectivamente: à capacidade dos povos em se adaptar à evolução do Mundo, preservando os seus valores fundamentais.

(D)
            Aliás, vendo bem “com olhos de ver”, as invenções, as descobertas e os avanços do pensamento que permitiram “la marche en avant” da Humanidade não são apanágio exclusivo de uma sociedade: Todos os povos, de uma forma ou de uma outra, contribuíram para isso e de que maneira. Sim, efectivamente, todos os grupos humanos, mesmo os mais limitados, nutriram os espíritos que, pela reflexão, a inteligência e o talento, lhes permitiram progredir, a principiar pela modelação da pedra. Que estes sábios (eruditos) antes do tempo tenham sido olvidados, que os seus inventos tenham sido recuperados, pouco importa: Existiram. É essencial! Explicitando: A Farmacopeia moderna não teria (quiçá) inventado o quinino (por exemplo) se obscuros curandeiros não tinham tido antes o hábito de tratar os seus com a quina. Do mesmo modo, os DOGONS não esperaram o advento da colonização europeia para se dedicar às observações astronómicas.
            Enfim e, em suma: O progresso da Humanidade não depende nem de uma única Sociedade, nem mesmo de único país, nem mesmo de um Continente, visto que a inteligência não constitui o privilégio exclusivo de nenhum povo (em particular), mesmo se alguns favorecem o seu desabrochamento mais que outros, obviamente.

(E)
            A despeito das múltiplas influências que elas se sujeitam e a insidiosa corrupção dos espíritos e das almas das quais elas sofrem, as Sociedades Africanas são sólidas e providas de um sentimento da solidariedade suficientemente atestado para permitir a emergência de cidades novas. A grandeza dos Africanos consistirá em provar que o Homem não está condenado a escolher entre o desenvolvimento e a solidariedade, pois que, o verdadeiro desenvolvimento coloca o Homem no centro do seu projecto, é respeitador do seu ambiente, não se devota a um culto à acumulação de bens materiais e, outrossim e, ainda, não faz da velhice um espectro ou um delito.

(F)
            De anotar, todavia, que o Ocidente:
a)      Onde mesmo a Ciência que deveria actuar em prol da Saúde, do bem-estar e da felicidade da Humanidade, já não constitui o apanágio de um punhado de “famílias”gananciosas, preocupadas em ceder os seus elixires ao preço forte;
b)      O Ocidente desprovido de ideias e de projecto, onde em breve, o “CADDIE” substituir-se-á ao pensamento (premissas evidentes de uma decadência inédita), não pode, por conseguinte, em nenhum caso constituir um modelo.
c)      Com efeito, ante às crises que o abalam, só sabe atamancar e executar pequenos consertos, ali onde seria necessário inventar e reedificar.
d)     De feito, o Ocidente incapaz de interpretar os sinais do capitalismo, se envida em se convencer que um areópago de chefes políticos e elóquios pomposos podem circunscrever o desastre anunciado. É preciso, infelizmente, ser assaz ingénuo e quão crédulo ou (então, de má fé) para negar que o capitalismo atingiu o seu estádio último e se constituiu em verdadeira e autêntica máfia internacional.

E, finalmente, em jeito de Remate assertivo: Quem pode acreditar que os pobres, incessantemente explorados (e espoliados dos saberes) esperarão, ajuizada e prudentemente, de braços cruzados, que se sucedem intermináveis “reuniões ao mais “alto nível, soit disant”?

Lisboa, 15 Junho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)
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