domingo, 30 de maio de 2010

Peça ensaística Oitava, no âmbito de

Na peugada de NOVOS RUMOS:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895).

(II)

Na verdade, a Imagem se encontra repleta de enigmas. Ela é plástica. Deste modo, permite sair do nosso pendor, isto é, da certeza do nosso Mundo, da obstinação da nossa cultura”. O nosso reencontro com a imagem, gera a possibilidade de não se sentir encarcerados em juízos, demasiado verdadeiros e nos encoraja à uma outra palavra, conquanto sabendo, que todo reencontro supõe uma diversidade de percursos. Quiçá, nada já não é glorioso no vocábulo como a Imagem, visto que ela constitui o seu segredo e a sua profundidade, a sua infinita reserva. Deste modo, no âmbito desta dinâmica, ao nível da Imagem, o elóquio não é ainda alienado.

(III)

Donde, evidentemente, a Imagem empresta à escrita, ao mesmo tempo, que ela resiste e deseja permanecer quão alheio e assaz independente.

Demais, nada melhor para uma elucidação assertiva e consentânea do conteúdo de verdade, acima exposto, que trazer à colação, este admirável trecho da lavra do escritor francês, Maurice BLANCHOT (1907-2003):

L’image est une énigme, dès que, par notre lecture indiscrète, nous faisons surgir pour la mettre en évidence en l’arrachant au secret de sa mesure. À cet instant, énigme, elle pose des énigmes. Elle ne perd pas sa richesse, son mystère, sa vérité. Au contraire, elle sollicite par son air de question toute notre aptitude à répondre en faisant valoir les assurances de notre culture comme les intérêts de notre sensibilité…L’image est essentiellement double. Non seulement signe et signifié, mais figure et infigurable, forme de l’informel, simplicité ambiguë qui s’adresse à ce qu’il y a de double en nous et réanime la duplicité en quoi nous divisions, nous nous rassemblons indéfiniment…L’image tremble, elle est le tremblement de l’image, le frisson de ce qui oscille et vacille. Elle sort constamment d’elle-même ; c’est qu’il n’y a rien où elle soit elle-même, toujours déjà en dehors d’elle et toujours déjà en dehors de ce dehors, en même temps d’une simplicité qui la rend plus simple que tout autre langage et est dans le langage la source d’où il sort, mais c’est que cette source est la puissance même de « sortir », le renouvellement du dehors dans (et par) l’écriture ».

De feito, este lúcido e eloquente texto de BLANCHOT sobre a Imagem coloca os fundamentos próprios da abordagem arqueográfica, a mais consequente, obviamente. De facto, a Imagem que descobrimos, sublinhamos, não introduz um sentido, porém, a possibilidade de sentidos múltiplos. A démarche arqueográfica constitui um percurso que conduz do sentido dito, a imagem do sentido, da clareza da percepção à hesitação e ao estremecimento dos contornos das coisas e dos seres, que reencontram a vibração do sentido, da liberdade, a libração

E, em Síntese assertiva:

A ARQUEOGRAFIA decifra o palimpsesto

(leia-se, outrossim: Manuscrito sobre pergaminho em que

se fez desaparecer a escrita, para escrever de novo)

A escrita sob a escrita

Os vocábulos que se enroscam nas entranhas dos vocábulos,

Os vocábulos que se lavam na escuma dos vocábulos.

Realmente, no fundo, no fundo, não há dúvida nenhuma, que a ARQUEOGRAFIA concebe, incuba e gera os vocábulos novos. Ela é ponte contra o olvido. Outrossim, outorga ao ouvido a oportunidade e o ensejo do inaudito, à vista a maleabilidade do interdito. E à boca o sopro do novo, à mão o êxtase e o enlevo do POEMA.

Lisboa, 28 Maio 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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