terça-feira, 18 de maio de 2010

Peça ensaística Quinta, no âmbito de

NA peugada de NOVOS RUMOS:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895).

Em jeito de Exórdio:

a) A qualidade de vida deve contar mais do que os negócios. É necessário produzir para satisfazer as necessidades autênticas das pessoas e não para, antes de mais, favorecer o capital financeiro e o próprio desenvolvimento tecnológico.

b) É necessário que o Homem seja valorizado como protagonista, pois que é o primeiro recurso e o destinatário do desenvolvimento: “A liberdade e a criatividade da pessoa humana devem ser colocadas, mesmo, acima da ordem económica”. Por outro, “é necessário adaptar todo o processo do trabalho produtivo às exigências da pessoa”. O Homem tem prioridade sobre o capital, isto é, sobre o conjunto dos instrumentos de produção. Enfim, tanto quanto for possível, dever-se-á organizar a produção, numa escala, mais ou menos, vasta, salvaguardando, sempre os direitos da pessoa e as exigências da família.

c) Finalmente, a produção deve ser socialmente útil. Trata-se de uma questão de responsabilidade e de educação, que envolve, não só, os produtores, outrossim, porém os consumidores e os agentes culturais. Sim, efectivamente, “o Homem é o autor, o centro e o fim de toda a vida económico-social”.

(1) Mergulhados no centro de uma crise, sem precedente histórico – eis que, o “Capitalismo Cognitivo” se consolida, a olhos vistos. Concomitantemente, por outro, a inconsciência da qual, na verdade, se trata, um dos efeitos mais graves, no âmbito da nova situação criada pela crise, de la bêtise segregada pelo “partidário da defesa do consumidor através de associações” tal como se ela se encontrasse reforçada pelo que constitui, outrossim, neste contexto, um recalcamento: o recalcamento de uma realidade, que coloca as sociedades hiper-industrializadas perante o que se apresenta como paradoxo.

(2) Com efeito, quanto mais se reduz o lugar dos produtores é necessário alargar os mercados e o número dos consumidores, a automatização, que alastra, incessantemente o campo da proletarização, diminuindo a parcela do trabalho, isto é, do capital variável. O trading ele mesmo é automatizado. Os engenheiros são eles próprios proletarizados. O engenheiro que concebia, desenvolvia, instalava e geria um sistema, desapareceu. Existe, presentemente, processos em que intervêm, cada vez mais e mais, os hypomnémata (leia-se, outrossim suportes de memória) que eliminava (passando por cima de um ou vários intermediários) os indivíduos psíquicos em todos os níveis.

(3) Nestes processos, cada vez mais e mais, é, efectivamente a força de trabalho do sistema nervoso que é proletarizado, encontrando-se os proletários do sistema nervoso, nestes casos, outro tanto, privados de saber como os proletários do sistema muscular. O saber do qual se encontram espoliados não é, no entanto, um savoir-faire: é um saber teórico, ou seja: noética em acto. Deste modo, se desenvolve um psico-poder que controla, outrossim (de qualquer maneira, aliás) os consumidores (dos quais se envida em canalizar a libido), que os produtores e os “criativos” (leia-se, outrossim, “os que fazem projectos publicitários”), cuja a energia nervosa deve ser colocada ao serviço dos “conjuntos técnicos”.

(4) Assim, são produzidas puras forças de trabalho cognitivo integralmente desnudas de saber: com as tecnologias, é o cognitivo, ele mesmo, que é proletarizado.

Vale a pena, abrir aqui um parêntese, para trazer à colação, os ensinamentos oriundos da lavra do sociólogo e filósofo italiano, MAURIZIO LAZZARATO (residente em Paris, onde desenvolve pesquisas sobre a ontologia do Trabalho, biopolítica, trabalho imaterial e capitalismo cognitivo):

---De feito, este conceituado estudioso desta problemática, em análise e estudo, demonstrou muito bem como esta eliminação do tempo do saber constitui o próprio cerne do projecto de “governo das desigualdades”em que consiste o neo-liberalismo, no próprio instante em que a ideologia pretende fazer crer que o “capitalismo cognitivo”, que proletariza os “eruditos”e tenta, sub-repticiamente se bater por uma “sociedade de saber”.

---Eis em quê consiste o “capitalismo cognitivo”, denominado, identicamente “criativo”, ou “imaterial”. E isto se concretiza pelo facto, que o cognitivo é reduzido à calculabilidade (qualidade ou característica de calculável), sim, efectivamente, o logos, farmacológico e economicamente se tornou ratio.

(5) Nesta óptica, se houver, ainda, profissões, os dos produtores, que se designa “criativos”, existe pouquíssimos e, a maior parte do tempo, não são, realmente “criativos”, visto ser “criativo” significa operar e produzir neguentropia (leia-se, outrossim, entropia negativa, grandeza cujas as variações são opostas à da entropia).

(6) Ora, os ditos “criativos” são criadores de “valor” avaliável no mercado e são, antes (ou seja, de preferência) jornalistas e redactores, que trabalham na adaptação entrópica do sistema e, que não obram absolutamente nada: obrar é sempre obrar, é sempre obrar para o incalculável, ou seja: à esta infinidade do desejável que faz que um processo de individuação seja constituído pelo seu acabamento/conclusão.

(7) Tal é a realidade do que MAURIZIO LAZZARATO denomina a “cooperação entre os cérebros”, tal como se produz através dos dispositivos de gramatização, que se torna possível, a proletarização de todas as tarefas, aos mais elevados níveis de actividade do sistema nervoso. Disto resulta a formação de uma “bétise systématique”, em que se tornam possíveis o discurso do economista norte-americano, Alain GREENSPAN (n-1926), tentando explicar perante a Câmara dos representantes, como terá podido conduzir o Mundo à catástrofe, com toda a sinceridade, outrossim, como a cretinização das “elites financeiras” enroladas por Bernard MADOFF: De feito, as “elites” estão elas próprias proletarizadas, ou seja, privadas de saber (nas suas próprias lógicas) e, pela sua própria lógica, que se reduz a um cálculo, conducente, sem resto de dúvidas, a um mercado de lorpas.

E, rematando, avisadamente: Enfim e, em suma: Ao que chegamos!...

Lisboa, 16 Maio 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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