quinta-feira, 8 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA SEXTA:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895).

Da Esperança de vida e o Envelhecimento:


Para Principiar:

Não há dúvida nenhuma, que a progressão da População irá, a par, com um efectivo incremento da esperança de vida, acarretando, ipso facto, um Envelhecimento da População. Este facto demográfico coloca aos dirigentes políticos, questões acutilantes, no plano económico e social, assaz cruciais, designadamente no que diz respeito aos magnos problemas de Saúde, pois que a procura de cuidados vai crescer e aumentar e, simultaneamente, o incremento dos progressos das técnicas médicas abrem novas perspectivas.


(I)

Na Civilização Africana, por exemplo, a questão que se prende com o Envelhecimento da população não se coloca. Não tanto, aliás, porque a esperança de vida aí é menor, sobretudo, porém, porque os velhos se encontram relativamente bem integrados na Sociedade. De feito, em África, o diminuído, continua, de um determinado modo, a fazer parte integrante do círculo social e a ser respeitado.

Em contrapartida, nas civilizações pós industriais e urbanas, é forçoso observar, que se comporta, por vezes, de forma escandalosa com as pessoas idosas, em particular, os mais diminuídos. Há que reconhecê-lo, se criou, neste tipo de civilização uma espécie de ostracismo para com os idosos, ao ponto de os acantonar em ghettos. Não se quis outorgar os meios que lhes permite continuar a viver (com qualidade), no seio das suas famílias.

Com efeito, em África, existem vínculos/elos tradicionais que desempenham um papel socializante. Eis porque, se assevera que: “a morte de um velho, é uma biblioteca que arde”.


(II)

Antes de mais, vale a pena abordar, avisadamente os relevantes problemas filosóficos ligados ao envelhecimento:

a) O que é, actualmente da noção de família? Enquanto se assiste à sua atomização, os idosos que detinham um papel necessário, no âmbito da Educação, de entreajuda e de cimento no seio das famílias modelo antigo, quase já não ocupam lugar algum, no seio das famílias (soit-disant) modernas recompostas.

b) Por outro, a Urbanização contemporânea tende a isolar, cada vez mais e mais, os idosos.

c) Enfim, existe presentemente um “economicismo” ambiente. Ou seja: as interrogações acerca da qualidade e o sentido da vida foram mescladas com percepções totalmente económicas. Nesta óptica, o idoso é o improdutivo, para o qual os outros pagam e trabalham. É um fenómeno, assaz recente e, pelo menos, inquietante.

E, já agora acerca da Urbanização, vale a pena, tecer alguns considerandos sobre o Dia Mundial da Saúde, data que se comemora, anualmente desde o remoto Ano de 1948 (Data da criação da OMS, em 07 Abril). O Dia Mundial da Saúde surgiu da preocupação de seus integrantes, visando manter o bom estado de Saúde da População e alertar sobre os principais problemas que podem afectá-la. Demais, aliás, segundo a própria Organização de Saúde (OMS) ter Saúde é garantir a condição de bem-estar das pessoas, mantendo os aspectos físicos, mentais e sociais das mesmas, em harmonia.

Para este Ano 2010, a OMS escolheu como “tema chave da Saúde global”: “Urbanização e Saúde” sendo o “tema escolhido em reconhecimento pelo efeito que a urbanização tem na nossa Saúde colectiva global e, em cada um de nós, individualmente”.

Com efeito, com a Campanha de 1000 (mil) Cidades, 1000 vidas, os eventos serão organizados, em todo o Mundo, durante a semana de 7-11 Abril 2010. Os objectivos globais da Campanha são:

(1) 1000 Cidades: para abrir os espaços públicos para a Saúde, quer se trate de actividades em parques, Câmaras Municipais, Reuniões, quer, outrossim e, ainda de campanhas de limpeza, ou encerramento de porções de ruas para veículos motorizados.

(2) 1000 Vidas: para colectar as histórias de campeões de Saúde urbana, que tomaram medidas e tiveram um impacto significativo na Saúde das suas Cidades.


(III)

De sublinhar, que, nos primórdios, as pessoas idosas podiam se extinguir junto dos seus, porque os ritmos de vida eram dissemelhantes e, outrossim a superfície das habitações o permitia e as mulheres trabalhavam pouco. Há todas as espécies de explicações de ordem material, que se pode avançar. Todavia, se assistiu, outrossim, à uma evolução das mentalidades, que, mais ou menos, acabou por desconsiderar os velhos. Isto sendo, não é de acreditar, absolutamente, que compete ao Sistema de cuidados trazer uma resposta a este problema, eminentemente cultural, social e económica.

Enfim, demais, não se deve e nem se pode pedir a Medicina e ao Sistema de cuidados de prendre en charge” e gerir eles mesmos o Envelhecimento da população. Na verdade, efectivamente, o Envelhecimento da população não é uma mera questão, relevando da Saúde. Mesmo se, claro, a Medicina esteja interessada na questão que se prende com o aumento da esperança de vida.


Finalmente, o Sistema de cuidados não pode ser concebido, por exemplo, como substituto do ambiente familiar, o que não impede, todavia, que a organização do Sistema de cuidados esteja interessado pelo envelhecimento da população. De anotar, que a primeira enfermidade mortal sexualmente transmissível, é a vida e, eis porque, se impõe aceitá-la como o destino/desígnio da condição humana. Donde, aliás, acreditar, que se deveria, de algum modo (por assim dizer), poder curar o envelhecimento releva da aberração. Porém, tendo em conta, o Envelhecimento da população, o Sistema de cuidados deveria consagrar, na nossa óptica e perspectiva, uma parcela substancial para o que se denomina, apropriadamente de Medicina de acompanhamento.


Lisboa, 07 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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