quinta-feira, 8 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA QUINTA:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895)

PEÇA SEGUNDA:


Nesta Peça vamos apresentar algumas precisões pertinentes e oportunas no âmbito da conexão existente entre Saúde e Médias:

(A) Os Médias desempenharam papel relevante na evolução geral da Medicina, no atinente ao relacionamento entre médicos e enfermos e, outrossim na interdependência entre o Sistema de Saúde e a Sociedade. Esta evolução, assinalando uma mudança notável se cumpriu no término do século XX pretérito. Eis porque, por causa dos Médias, doravante a Medicina se exerce sob o olhar público. Antes, a Medicina era um campo hermético de opacidade, arrogância e segredo em nome de uma deontologia de solidariedade confraternal. Constituía, efectivamente um mundo misterioso de saber não posta em causa e, outrossim, não partilhada, tendo o sistema funcionado, deste modo. Nestas condições, os Médias, em conformidade com as evoluções da sociedade, desempenharam um papel relevante para reconduzir o campo da Saúde, a Medicina e o corpo médico como o da investigação, sob o olhar de todos com as noções de informação, transparência e prestação de contas.

(B) Vale a pena, trazer à colação a famigerada lei HURIET (o símbolo desta evolução) sobre a questão que se prende com os Ensaios terapêuticos, implantada em França. Trata-se de uma Lei ética, que preenche um vazio jurídico, que foram os Médias que a tornaram possível e necessária. Impõe uma informação, uma reflexão e uma verídica concertação.

(C) De anotar, que nestes anos, que estamos a estudar, temos a salientar um evento, assaz negativo (em que os Médias desempenharam o seu papel respectivo). Estamos a referir, obviamente ao escândalo do sangue contaminado. Este caso marca, particularmente, a mudança de atitude da França acerca do seu sistema de cuidados e de Investigação. Com efeito, o “grand patron” perdeu a sua omnisciência, a ciência pode se induzir em erro, os médicos podem cometer erros e mesmo, por vezes, ser perigosos. Trata-se de uma autêntica subversão dos valores vinculados à Medicina.

(D) Substituem os Médias a Educação e a Cultura? Não! Evidentemente, não. Aliás, com certeza! Os Médias são, antes de tudo, utensílios de Informação. Todavia, o problema actual, é que os Médias, em particular no Ocidente obedecem a critérios, símbolos, modos de funcionamento, que não correspondem aos da Medicina e da Metodologia Científica. Existe, por conseguinte, um robusto e enorme debate entre Informação e Educação. Demais, por outro, a sobre informação, não representa a cultura, antes pelo contrário. Acrescentar sempre mais informação, não se traduz, obrigatoriamente, por incremento do nível de cultura como a Educação consegue promover, porquanto se encontra, longe de colmatar as necessidades reais da Sociedade, neste sentido. Ora a Imprensa se encontra, num estado de incultura científica, médica e cívica, pelo menos, incómodo quando, se está ante clínicos, que quotidianamente, se ocupam de enfermos portadores de cancro.


E, um tanto ou quanto à guisa de REMATE:

Na verdade e, sem dúvida nenhuma, a Ciência e a Medicina constituem actividades de uma complexidade extrema. O funcionamento dos Médias, por seu turno, se rege pela simplicidade e pela esquematização, enquanto se fala de assuntos complexos, exigindo o recurso a um húmus de conhecimentos não adquirido pelo público.

De feito, a esquematização, que é, muito provavelmente, uma ferramenta indispensável da informação, todavia, já não é, um bom utensílio para a compreensão dos problemas médicos. Esta situação não melhora o nível de cultura e de educação científica.

Actualmente, os adolescentes que dissecam rãs, ou examinam borboletas não conhecem os genes ou o ADN. E, de um modo geral, existe uma incultura catastrófica dos cidadãos ante a Ciência, donde o corolário lógico é que a maioria esmagadora dos cidadãos não podem compreender quando se experimenta falar um pouco mais profundamente da Medicina, visto que se os habituou a mera “engomadela” do complexo. Eis porque, são confrontados com “brejeirasamálgamas, que contribuem para o clima de ansiedade e de desconfiança perante a Ciência.


Finalmente, os Médias, por outro, privilegiando o indivíduo e o vedetismo enquanto a Medicina actualmente e a Ciência constituem sistemas de equipa com multidisciplinaridade e partilha dos conhecimentos. Nada já se faz, completamente só, em Medicina. Donde e daí o carácter fragmentado da Informação, que não consegue fazer compreender o papel das equipas ou de um “hospital empresa”. Por seu turno, a Medicina hospitalar se assemelha muito a uma orquestra. Trata-se de uma noção que não se consegue fazer passar nos Médias. Enfim, no âmbito do sistema geral de Informação, no momento presente, se é, imediatamente ou bem acusado, ou bem sacrificado, o que se tornou muito grave para o conhecimento científico, visto que o progresso do saber, da técnica e da “prise en charge” do paciente é um processo lento, complicado e colectivo.


Lisboa, 06 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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