Da Civilização:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
(I)
A história do vocábulo/lexema “Civilização”mostra que o seu papel consistiu, antes de mais, sublinhar a diferença entre os povos mais “evoluídos” e os demais outros. Donde, no âmbito desta perspectiva, a Civilização representa, por conseguinte, as características dos povos que empregam este vocábulo e fazem dele uma teoria. Ou seja: os países da Europa Ocidental que, num contexto colonialista (sendo colonialista o partidário do colonialismo, obviamente), classificaram, deste modo, a sua cultura como superior à dos demais outros.(II)
Todavia, para além desta atitude comum dos dissemelhantes países europeus, a história deste lexema (e, por conseguinte, do conceito que exprime) esteve estreitamente vinculado à história da Língua e das Ideias de cada país. De feito, nas diversas línguas, o termo “civilização” assumiu tonalidades assaz variegadas, o que torna, demasiado difícil, a sua tradução respectiva. (III)
Por seu turno, o erudito sociólogo alemão, Norbert ELIAS (1897-1990) descreveu a evolução conducente à modificação da acepção dos termos Kultura e Zivilisation, na sociedade germânica a partir do século XVIII, enquanto regular e concomitantemente, a burguesia assumia o destino da Nação. De feito, na época de FREDERICO II, a separação social que opunha a aristocracia prussiana à burguesia, não permitia à esta se identificar com os valores contidos no vocábulo Zivilisation e expressos pela classe no Poder.(IV)
Eis porque, a expressão Kultur, elaborada pela classe média, contém, ipso facto, uma visão do Mundo que se opõe ao ideal cortês (da Corte): este ideal de homem delicado e cultivado, que tem para modelo um rei galante e uma Corte magnífica é rejeitado como algo, quão falso e hipócrita pelos intelectuais burgueses: Estes exaltam, em contrapartida, as qualidades de “coeur” e não como natural a distinção entre os homens. O conceito de Kultur se transforma, ulteriormente, ou seja, quando a burguesia germânica apodera-se do poder político ao qual aspira. Deste modo, o conceito em apreço, de carácter peculiar e sui generis inerente à uma camada social, será sentido e experimentado como um carácter nacional.(V)
Já agora, vale a pena, analisar o que se passou, por exemplo, em Inglaterra, Itália e França, neste âmbito:Em Inglaterra, o termo é confirmado desde o ano de 1722, triunfando (levando a melhor) sobre Civility, porém, no século XIX, um outro vocábulo entra em cena para opor as sociedades modernas às sociedades Primitivas. Estamos a referir ao lexema Cultura.
No atinente à Itália, o vetusto vocábulo civiltà, já utilizado pelo Poeta DANTE ALIGHIERI (1265-1321) veda a intrusão de novas aquisições.
Finalmente, em França, os estudos conduzidos acerca do advento e a história do vocábulo “civilização” demonstram como se operou uma dupla identidade entre o elóquio acerca da língua e o discurso acerca da civilização, por um lado e entre civilização francesa e civilização universal, por outro. Demais, de sublinhar, que os especialistas estão de acordo, no atinente à data do advento oficial do lexema “civilização”, em França: 1771.
E, rematando assertivamente, se afigura, quão pertinente, e quão interessante observar que desde as suas primeiras utilizações, este vocábulo/lexema revela a sua polissemia. Indica, concomitantemente “[…] um processo de aperfeiçoamento das conexões sociais e dos recursos materiais; […] o conjunto das Instituições e das técnicas” logrados pelos grandes Impérios antes da sua decadência; “[...] a realidade contemporânea com tudo o que comporta de irregularidade e de injustiças”.
Enfim e, em suma: Verifica-se, em particular, que designa um processo e o seu respectivo corolário lógico. Demais, deste modo, “civilização” se torna o objecto de uma crítica moral, visando as suas falsas interpretações, que consistem num abrandamento superficial dos costumes sem atingir “le fond et la forme”, consoante a clássica concepção do político francês, Honoré, conde de MIRABEAU (1749-1791).
Lisboa, 24 Março 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).