terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ELOCUBRAÇÃO TRIGÉSIMA TERCEIRA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)


E, prosseguindo este nosso estudo sobre o TRABALHO, vendo bem com olhos de ver, não é para encontrar esta essência pura do trabalho que se deve mudar o trabalho, sim, simplesmente para o tornar sempre mais suportável e sempre mais humano.
De feito, evidentemente, querer que o Trabalho deixe de constituir a arena, onde os indivíduos se confrontam e a fonte principal da identidade, relativizar o lugar do trabalho e lhe acordar idêntico valor como as demais outras actividades humanas em que os indivíduos e as sociedades têm, outrossim necessidade para viver, afirma que o trabalho não é o nosso único destino, isto não significa, de modo nenhum, que seja preciso renunciar em melhorá-lo e em humanizá-lo, sem parar e, porque não, continuamente.

E, em jeito de Remate:
O ingente objectivo que visa melhorar e humanizar o Trabalho, exige, obviamente uma dupla Revolução:
---Primeiro: a extensão da securisação das trajectórias profissionais, isto é, do trabalho “decente”, protegido, enquadrado, garantido, remunerado decentemente, integrado no restante da Vida.
---Segundo: uma melhoria das condições de exercício do trabalho, que permitiria aos indivíduos encontrar um sentido nesta actividade. Isto supõe que a utilidade desta, para uma comunidade humana dada, fosse inequívoca e clara que possa haver, para os indivíduos, partes recebedoras nesta acção, uma conexão entre a sua contribuição e o resultado final.
Demais, de sublinhar, com ênfase, na verdade, desde sempre, não é anódino, o Trabalho manual e que, o do Artesão tenha sido tomado por modelo explícito do trabalho conseguido, visto que o artesão domina a integralidade do processo disponibilizado para ter como resultado o fabrico de um bem ou de um serviço. Eis porque, deste modo, a sua contribuição e a sua utilidade respectiva não geram dúvida. Todavia, o trabalho artesanal não esgota, infelizmente o conjunto das actividades de trabalho e, não mais do que, a autogestão ou a propriedade dos meios de produção, deste modo, não é susceptível de transformar o conjunto de actividades concretas de trabalho em acções plenas de sentido.
Donde e daí, no âmbito desta dinâmica e perspectiva respectiva, se assume quão pertinente trazer à Reflexão uma dupla questão (assaz central), menosprezada, em geral, pelos adeptos e defensores da reabilitação do trabalho. Ou seja:
(A) Pode-se, ainda fazer escapar o trabalho das lógicas economicistas e mercantis nas quais se encontra inextrincavelmente enredado desde o século XVIII (visto que foi definido, desde o princípio, como o “factor de produção” e, por conseguinte, visando a outra coisa que o seu desenvolvimento próprio) e promover um trabalho “para si” socialmente útil e dotado de sentido?
(B) É possível, no caso contrário, gerir, no próprio seio das lógicas mercantes e capitalistas, um espaço próprio para o trabalho, permitindo à maioria dos indivíduos encontrar no exercício de uma tal actividade, expressão de si e contribuição para a utilidade social? Nada é menos evidente, efectivamente! Tal é actualmente o Desafio/Repto lançado às nossas “Sociedades edificadas sobre o Trabalho”.

Lisboa, 09 Fevereiro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo
.