Vasco Graça Moura, um «cavaquistíssimo» (a frase é do próprio), escreve hoje uma crónica no DN ― na minha opinião uma das melhores caracterizações ultimamente feitas do actual estado a que Portugal chegou ― prevendo aquilo cuja possibilidade é tão real quanto a de haver calor num dia de Verão.
Diz VGM:
«Num país que está descaracterizado e de rastos, em que muito poucos valores são respeitados, a economia não produz, a justiça não funciona e a autoridade não existe, está-se mesmo a ver o que pode acontecer.»
Antes de fazer este aviso, VGM mostra muito acertadamente não acreditar numa possível maioria absoluta do PS caso se realizassem eleições agora (medo que entretanto parece existir nos directórios partidários do PSD e do CDS).
De facto, é hoje manifesto que grande parte das pessoas que passam pelo espaço público (sem fazerem qualquer análise política, jogando apenas com o que vêm e sentem na pele) diz, aparentemente esperançada, coisas como esta que já ouvi centenas de vezes: «Isto não pode continuar assim, qualquer dia vai haver um golpe de Estado». Não sabem, claro está, que a integração de Portugal na União Europeia desfez literalmente essa possibilidade; mas a verdade é que essa integração não desfez a possibilidade admitida pelo Sr. Presidente da República: a da tal «situação explosiva».
E Graça Moura termina a sua crónica assim:
«Desde 1974 que não se via, como hoje, tanta descrença e tanta desconfiança no espírito do cidadão comum. Ele sabe que a política actual não lhe vai dar mais nada. E na sua vida o resto é silêncio e desencanto.»
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