(I)
Se nos vincularmos, apenas e meramente ao seu desenvolvimento efectivo, a descolonização releva de um processo ininterrupto, remontando à partir do longínquo Ano de 1945, amadurecido e sazonado por um conjunto de factores cumulativos, relativamente indiferentes às flutuações da bipolarização Leste/Oeste.
Todavia, é, assaz evidente que, no âmbito da dinâmica enformadora do elo encadeamento/concatenação ou mimetismo, a Independência de uma colónia chama outras, no seio de um mesmo conjunto regional, ulteriormente, de um Continente para outro. Explicitando:
--- Foi, deste modo, que a Independência da Índia desemboca logicamente na de Ceilão e da Birmânia, indirectamente, em seguida na da Indonésia; e
--- Que, por seu turno, a França não pôde recusar à Tunísia o que acabava de acordar à Marrocos;
--- E que a Independência dos seus dois protectorados encoraja o nacionalismo argelino a reivindicar um tratamento análogo.
Enfim e, em suma: Identicamente, vai acontecer na África negra, onde a Independência do Gana (1957) e da Guiné Conacri (1958) abre a “caixa de Pandora” de uma descolonização, em cadeia, muito mais rápida do que prevista.
(II)
A despeito de, à parte as sobreposições, uma periodização não é impossível, o que não deixa, de se afigurar, oportuna e, quão pertinente, pois que elucida, em substância, acerca do contexto internacional da descolonização, outorgando todo o seu peso ao Evento/Acontecimento, em análise e estudo.
Donde e daí:
- Uma primeira fase se abre ao sair da Segunda Guerra Mundial e se encerra, com a Conferência de Genebra, no ano de 1945, dominada pela Independência das possessões asiáticas, prioridade que se explica pela maturidade dos partidos nacionalistas, fortalecidos para alguns pelos efeitos da Ocupação Japonesa. E, na sequência e, como corolário lógico as coisas principiam a se precipitar. Eis, então, que:
--- A Grã-Bretanha abre a via, acedendo, sem resistir (sem lutar), à reivindicação da Independência da Índia e das suas margens respectivas.
--- A despeito das resistências do Governo de Haia, a da Indonésia segue de muito perto, activada por uma robusta pressão internacional.
Prosseguindo, temos que: Dien Bien Phu (1954), a conferência de Bandung (1955) e a expedição de Suez (1956), três (3) Eventos/Acontecimentos que significam o recuo do colonialismo europeu e cuja a repercussão foi considerável, abrem, deste modo, uma Segunda fase enquadrada pela Independência dos protectorados franceses do Magrebe (1956) e o fim da Guerra de Argélia (1962).
E, entrementes, a Independência do Gana (1957), desencadeia uma primeira fase das Independências africanas, acordadas na precipitação pela Bélgica, com mais ponderação pela França e a Grã-Bretanha. Donde, se pode asseverar, que com a Independência de dezassete (17) países, o Ano de 1960 pode ser, de forma justa, proclamado como o “Ano da África”.
Todavia e, sem embargo, uma nova cesura (corte) intervém, no princípio dos anos sessenta do século XX passado, com o início do neo-alinhamento (conferência de Belgrado, 1961), a criação do Comité de descolonização, no âmbito da ONU (1961) e a da Organização dos Estados Africanos (1963).
Deste modo, de sublinhar, que doravante, a descolonização passa a assumir, menos um assunto de relações bilaterais que de solidariedade entre colonizados e mesmo, numa certa medida, entre países colonizadores. Se inscreve, deste molde, num alargamento dos seus Actores (o Terceiro Mundo, as Grandes Potências) e das suas apostas respectivas (o Apartheid, a Nova Ordem Económica Mundial). Dizia respeito, como ponto principal, a África lusa e os bastiões brancos da Rodésia e da África do Sul e assume a forma de guerras de Libertação longas e mortíferas, complicadas pela intervenção dos Estados vizinhos e pelo activismo das grandes potências.
Enfim, esta fase só termina, nos anos de 1975-1980, mesmo se a Namíbia só acede à Independência em 1990 graças ao aniquilamento do Apartheid, na África do Sul.
.