BOM DIA
Desculpem retornar logo com a política neste regresso à blogosfera, em vez de vos contar saborosas historietas destas férias; mas, como dizia o outro, um homem não é de pau.
Mal regressado, ouvi em directo Marques Mendes defender «A Ética na Política» como valor essencial a esta actividade e aos desígnios que devem guiar à finalidade dos partidos e dos políticos: Servir a Comunidade. Escusado será dizer que aplaudi de pé a sua coragem e frontalidade ao vê-lo colocar-se num patamar diferente do que estão a maioria dos políticos ditos “do poder”, do seu próprio partido, tentando dar àquela juventude que o escutava (e o aplaudiu muitas vezes) temas e exemplos interessantes e importantes para reflexão.
Logo no dia seguinte o novel revelado Paulo Rangel subiu à mesma tribuna da chamada “Universidade(?) de Verão do PSD” para, entre outras enormidades, dizer isto aos participantes (futuros políticos, supõe-se):
― «A Política não tem nada a ver com a Ética.»
― «A Ética é independente da Política e a Política é independente da Ética».
E mais à frente disse: ― ...«aconselho-vos a lerem Maquiavel»... Cetamente para aprenderem esses princípios e lhe darem razão no que lhes estava a ensinar ― isto digo eu ―.
Ora bem, vejamos o seguinte:
1) A primeira frase (A Política não tem nada a ver com a Ética) é errada porque o mais desatento cidadão facilmente compreende e deseja que haja ética na política; porque se não, então abram-se as portas das prisões e deixe-se sair de lá todos os potenciais belíssimos políticos e governantes que se encontram atrás das grades.
2) A segunda frase (A Ética é independente da Política e a Política é independente da Ética) só está certa na sua primeira metade: de facto a Ética é independente da política, mas a Política não é independente da Ética; ou pelo menos não o deve ser. Se assim não fosse, estaria certo dizer-se: "O coração é independente do braço" (o que é verdade: pode-se amputar o braço que não se afecta o coração); mas já seria errado, como é mais que óbvio, dizer-se: “O braço é independente do coração”.
Mas, claro, todos sabemos que há “políticas” independentes da Ética. Praticadas por políticos que não observam a Ética. A política que Maquiavel propôs ― cuja leitura Paulo Rangel aconselhou aos meninos do PSD ― é um excelente exemplo disso.
E para que quem ainda não leu Maquiavel aprecie o calibre dos seus ensinamentos, aqui vão algumas citações deste excelente guru cujo santuário espera a visita dos PSDs de Verão:
Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é como a mulher; e, para dominá-la, é necessário bater nela e contrariá-la
Fonte: "O Príncipe"
Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela.
Fonte: "Discursos de Tito Lívio"
Uma guerra é justa quando é necessária
Fonte: "Pensamentos"
Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança
Fonte: "O Príncipe"
Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade e não a destrói, espere para ser destruído por ela
Fonte: "O Príncipe"
As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam mais bem saboreados
Fonte: "O Príncipe"
Toda a acção é designada em termos do fim que procura atingir
Fonte: "O Príncipe"
O fim justifica os meios
Fonte: "O Príncipe"
Nota: Longe de mim dizer que não se deve ler Maquiavel. Uma coisa é ler criticamente Maquiavel (como deve ler-se qualquer escrito, penso eu), e outra muito diferente é aprender com Maquiavel a separação da Política da Ética quando se trata de governar e exercer o poder, ou simplesmente a actividade política partidária.
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Desculpem retornar logo com a política neste regresso à blogosfera, em vez de vos contar saborosas historietas destas férias; mas, como dizia o outro, um homem não é de pau.
Mal regressado, ouvi em directo Marques Mendes defender «A Ética na Política» como valor essencial a esta actividade e aos desígnios que devem guiar à finalidade dos partidos e dos políticos: Servir a Comunidade. Escusado será dizer que aplaudi de pé a sua coragem e frontalidade ao vê-lo colocar-se num patamar diferente do que estão a maioria dos políticos ditos “do poder”, do seu próprio partido, tentando dar àquela juventude que o escutava (e o aplaudiu muitas vezes) temas e exemplos interessantes e importantes para reflexão.
Logo no dia seguinte o novel revelado Paulo Rangel subiu à mesma tribuna da chamada “Universidade(?) de Verão do PSD” para, entre outras enormidades, dizer isto aos participantes (futuros políticos, supõe-se):
― «A Política não tem nada a ver com a Ética.»
― «A Ética é independente da Política e a Política é independente da Ética».
E mais à frente disse: ― ...«aconselho-vos a lerem Maquiavel»... Cetamente para aprenderem esses princípios e lhe darem razão no que lhes estava a ensinar ― isto digo eu ―.
Ora bem, vejamos o seguinte:
1) A primeira frase (A Política não tem nada a ver com a Ética) é errada porque o mais desatento cidadão facilmente compreende e deseja que haja ética na política; porque se não, então abram-se as portas das prisões e deixe-se sair de lá todos os potenciais belíssimos políticos e governantes que se encontram atrás das grades.
2) A segunda frase (A Ética é independente da Política e a Política é independente da Ética) só está certa na sua primeira metade: de facto a Ética é independente da política, mas a Política não é independente da Ética; ou pelo menos não o deve ser. Se assim não fosse, estaria certo dizer-se: "O coração é independente do braço" (o que é verdade: pode-se amputar o braço que não se afecta o coração); mas já seria errado, como é mais que óbvio, dizer-se: “O braço é independente do coração”.
Mas, claro, todos sabemos que há “políticas” independentes da Ética. Praticadas por políticos que não observam a Ética. A política que Maquiavel propôs ― cuja leitura Paulo Rangel aconselhou aos meninos do PSD ― é um excelente exemplo disso.
E para que quem ainda não leu Maquiavel aprecie o calibre dos seus ensinamentos, aqui vão algumas citações deste excelente guru cujo santuário espera a visita dos PSDs de Verão:
Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é como a mulher; e, para dominá-la, é necessário bater nela e contrariá-la
Fonte: "O Príncipe"
Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela.
Fonte: "Discursos de Tito Lívio"
Uma guerra é justa quando é necessária
Fonte: "Pensamentos"
Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança
Fonte: "O Príncipe"
Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade e não a destrói, espere para ser destruído por ela
Fonte: "O Príncipe"
As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam mais bem saboreados
Fonte: "O Príncipe"
Toda a acção é designada em termos do fim que procura atingir
Fonte: "O Príncipe"
O fim justifica os meios
Fonte: "O Príncipe"
Nota: Longe de mim dizer que não se deve ler Maquiavel. Uma coisa é ler criticamente Maquiavel (como deve ler-se qualquer escrito, penso eu), e outra muito diferente é aprender com Maquiavel a separação da Política da Ética quando se trata de governar e exercer o poder, ou simplesmente a actividade política partidária.