INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA NONA:
Nota Preliminar:
Nota Preliminar:
O Estado de Israel, desde a sua criação no ano de 1948, conheceu várias vagas de “terrorismo”, designadamente:
--- A dos fedayins vindos à partir do Egipto ou da Jordânia, na década de cinquenta do século XX pretérito;
--- A de Setembro “negro” nos anos setenta do século XX passado;
--- A conduzida contra aldeias no Norte de Israel em 1974;
--- A dos anos 90, do século XX passado, após os Acordos de Oslo (Noruega), estabelecidos e acordados no ano de 1995;
--- A da Segunda Intifada, marcada, enfim, por uma vaga de atentados suicidas, sem precedente.
Do acima, expendido, somos conduzido, ipso facto, às interrogações seguintes:
(1) Como TSAHAL (o exército israelita) conduziu ou vem conduzindo a sua luta contra o “terrorismo”?
(2) Soube, por outro, gerir este tipo de conflito “no seio das populações”?
Todavia, o que é facto, é que o Balanço respectivo não encontrará graças, nem ante os olhos dos incondicionais de Israel, nem, obviamente perante aos da causa palestina. Na verdade, o exército israelita não escolheu a estratégia do pior, a da violência extrema, no entanto, efectivamente, não há dúvida nenhuma, que cometeu vários erros.
Não assimilou, outrossim, as regras implacáveis da “guerra assimétrica”.
Enfim, desde a criação do Estado de Israel em 1948, privilegiou-se a doutrina do risco da “resposta desproporcionada”, inapropriada a este conflito. Este tipo de procedimento cumpriu mal (muito mal, mesmo) a sua função dissuasiva e conduziu todo o País para uma situação, cada vez mais inextrincável.
De facto, praticamente, todos os Primeiros-Ministros e os Ministros da Defesa, quer de “esquerda” ou de direita, sustentaram o Princípio de uma reacção brutal e “desproporcionada” em detrimento à uma táctica “terrorista”, ou à uma insurreição, designadamente:
-- David BEN GOURION (1886-1973), nos anos cinquenta do século XX pretérito;
-- Menahem BEGIN (1913-1992), durante a guerra do Líbano;
-- Itzhaz RABIN (1922-1995), durante a primeira Intifada;
-- Ariel Scheinemann SHARON (n-1928), aquando da segunda Intifada.
Por seu turno, EHUD BARAK (n-1942) envolvido em negociações com a Autoridade Palestiniana, era neste aspecto mais reticente, porém, não soube impor a sua vontade ao Exército.
Estamos, na verdade, ante algo de sui generis e de peculiar. Sim, concretamente perante:
---O Reflexo desta mescla de sentimento de poder e de grande vulnerabilidade que conduziu o exército a utilizar meios sobredimensionados em relação à ameaça real.
---Uma Fórmula de estar e de se defender contra uma agressão externa.
---Uma Reacção reflexiva, constituindo o objectivo, de um amplo consenso no País, ou seja: “Se formos atacados, os nossos agressores devem saber que pagarão o robusto preço pela sua agressão”.
Enfim e, em suma: No fundo, todo o resto passa para o segundo plano, designadamente: a eficácia de uma idêntica visão; o preço para eles desta reacção; os ataques dos civis de outra facção, os desgastes feitos às suas relações com o mundo árabe e com os seus aliados ocidentais, a degradação da sua imagem no Mundo, a legitimação, in fine, do seu próprio combate.
Deste modo, no âmbito desta dinâmica, se impõe colocar avisadamente uma pertinente questão. Ou seja: Possui, na verdade, uma estratégia de luta contra-insurreição?
A este propósito, vale a pena trazer à colação, as ideias avançadas pelo Tenente General, Aviv KOHAVI (Comandante das tropas pára-quedistas, no início da Segunda Intifada), aquando de uma conferência de Imprensa concedida, no princípio do ano 2003, ao afirmar o seguinte: que, na verdade, quando a Segunda Intifada rebentou, o exército não possuía “nem doutrina, nem técnicas adequadas para o combate de débil intensidade em zonas urbanas povoadas”.
Como facilmente, se pode depreender:
--- Não houve Reflexão organizada acerca dos mecanismos complexos da guerra assimétrica, nem acerca da forma de gerir objectivos que podem se verificar contraditórios.
--- Não houve, outrossim pensamento rigoroso acerca da articulação entre os objectivos e os modos operatórios, sim, efectivamente está-se ante uma autêntica ausência de Reflexão construída no atinente às consequências do uso de tal ou tal arma, dos efeitos de tal ou tal tipo de e operações.
Enfim, de sublinhar, que ainda, consoante este, que foi um dos Altos Responsáveis da luta “anti-terrorista” no Conselho Nacional de Segurança, “não existe em Israel, uma estratégia escrita de guerra contra o “Terrorismo”.
Demais, reforça o seu pensamento, nesta matéria, asseverando avisadamente, que “A estratégia não é, nem clara, nem coerente, dependendo demasiado das posições ideológicas dos decisores e da situação política em Israel”. E, que “demasiada importância é acordada ao oral, à palavra”. Finalmente, que “A estratégia se preocupa do que aconteceu ontem e do que passará amanhã. Temos necessidade de uma estratégia organizada e os líderes políticos têm dificuldade em assumir decisões de longo prazo, por causa do equilíbrio das forças políticas interna em Israel, o que não facilita uma tal démarche”.
Resumindo e concluindo, a persistência destes reflexos contrasta com a sua flexibilidade e a sua capacidade respectiva de adaptação, num conflito clássico, exército contra exército, como foi o caso da famigerada Guerra dos Seis Dias, no ano de 1967, com apoio expresso dos USA. Com efeito, perante o conflito assimétrico, o exército israelita não deu provas de muita imaginação.
Todavia, por outro, o que não deixa de ser significativo, sublinhar é, que, na verdade, ninguém parece ter lido ou relido os escritos do sexto Primeiro-Ministro de Israel, Menachem BEGIN (1913-1992), Prémio Nobel da Paz, em 1978, em parceria com o Presidente egípcio Muhamed Anwar al-SADATE (1918-1981), evocando o seu combate contra os Britânicos nos anos de 1946-1948.
Trata-se, com efeito, de escritos de uma ardente actualidade, onde mostra como a repressão de uma revolta “acaba por enfraquecer o prestígio de um regímen colonial, vivendo sobre o mito da sua omnipotência”. De feito, “cada ataque que não pode prevenir constitui um golpe vibrado à sua Existência. Demais, se o ataque malogre, corrói o seu prestígio e, esta fissura não cessa de se alargar a cada agressão.
Finalmente, os Generais israelitas, nunca reflectiram, outrossim sobre os lúcidos escritos da lavra do militar francês, (de origem tunisina), DAVID GALULA (1916-1967) para quem: “Dans une guerre conventionnelle, un soldad qui, pris à partie, ne riposterait pas avec la puissance de feu maximale, manquerait à son devoir. Dans une guerre révolutionnaire, la situation est inverse: la règle est d’en faire un usage aussi limité que possible », in Contre-insurrection, théorie et pratique.
--- A dos fedayins vindos à partir do Egipto ou da Jordânia, na década de cinquenta do século XX pretérito;
--- A de Setembro “negro” nos anos setenta do século XX passado;
--- A conduzida contra aldeias no Norte de Israel em 1974;
--- A dos anos 90, do século XX passado, após os Acordos de Oslo (Noruega), estabelecidos e acordados no ano de 1995;
--- A da Segunda Intifada, marcada, enfim, por uma vaga de atentados suicidas, sem precedente.
Do acima, expendido, somos conduzido, ipso facto, às interrogações seguintes:
(1) Como TSAHAL (o exército israelita) conduziu ou vem conduzindo a sua luta contra o “terrorismo”?
(2) Soube, por outro, gerir este tipo de conflito “no seio das populações”?
Todavia, o que é facto, é que o Balanço respectivo não encontrará graças, nem ante os olhos dos incondicionais de Israel, nem, obviamente perante aos da causa palestina. Na verdade, o exército israelita não escolheu a estratégia do pior, a da violência extrema, no entanto, efectivamente, não há dúvida nenhuma, que cometeu vários erros.
Não assimilou, outrossim, as regras implacáveis da “guerra assimétrica”.
Enfim, desde a criação do Estado de Israel em 1948, privilegiou-se a doutrina do risco da “resposta desproporcionada”, inapropriada a este conflito. Este tipo de procedimento cumpriu mal (muito mal, mesmo) a sua função dissuasiva e conduziu todo o País para uma situação, cada vez mais inextrincável.
(A)
Todavia, Sessenta (60) anos de experiência de luta desenfreada contra o “terrorismo”, muito poucas coisas parecem ter mudado nos esquemas de Pensamento do exército israelita, desde a criação do Estado de Israel. De feito, ante uma ameaça “terrorista” ou uma insurreição, quer armada ou desarmada, TSAHAL recorre a idêntico tipo de resposta, à famigerada “resposta desproporcionada”, fustigando, punindo, concomitantemente combatentes e não combatentes, quando não for possível fustigar um sem atingir o outro, com uma determinada desmesura calculada, envidando-se evitar derrapar, num crime em vasta escala.(B)
Este tipo de reacção faz parte integrante da Cultura estratégica de Israel. Obviamente, a sua aplicação respectiva, pode variar, em função do contexto e, não só. Outrossim e, ainda, dos Primeiros-Ministros, em pleno exercício de seus mandatos e da personalidade dos dirigentes do Exército. Todavia, estas variações são geralmente de débil efeito.De facto, praticamente, todos os Primeiros-Ministros e os Ministros da Defesa, quer de “esquerda” ou de direita, sustentaram o Princípio de uma reacção brutal e “desproporcionada” em detrimento à uma táctica “terrorista”, ou à uma insurreição, designadamente:
-- David BEN GOURION (1886-1973), nos anos cinquenta do século XX pretérito;
-- Menahem BEGIN (1913-1992), durante a guerra do Líbano;
-- Itzhaz RABIN (1922-1995), durante a primeira Intifada;
-- Ariel Scheinemann SHARON (n-1928), aquando da segunda Intifada.
Por seu turno, EHUD BARAK (n-1942) envolvido em negociações com a Autoridade Palestiniana, era neste aspecto mais reticente, porém, não soube impor a sua vontade ao Exército.
(C)
A resposta desproporcionada é, efectivamente, um elemento essencial da cultura estratégica de Israel. Trata-se de um conjunto de crenças, de atitudes e de práticas, dizendo respeito ao uso da força, ao qual aderiram praticamente todos os dirigentes civis e militares de Israel. Esta forma de actuar e agir reenvia para a identidade que os Israelitas se forjaram a seu modo, de se poder situar num espaço geográfico que lhes é francamente hostil, à sua percepção da ameaça, à sua angústia para a sua existência, ao seu receio de só poder contar com eles próprios.Estamos, na verdade, ante algo de sui generis e de peculiar. Sim, concretamente perante:
---O Reflexo desta mescla de sentimento de poder e de grande vulnerabilidade que conduziu o exército a utilizar meios sobredimensionados em relação à ameaça real.
---Uma Fórmula de estar e de se defender contra uma agressão externa.
---Uma Reacção reflexiva, constituindo o objectivo, de um amplo consenso no País, ou seja: “Se formos atacados, os nossos agressores devem saber que pagarão o robusto preço pela sua agressão”.
Enfim e, em suma: No fundo, todo o resto passa para o segundo plano, designadamente: a eficácia de uma idêntica visão; o preço para eles desta reacção; os ataques dos civis de outra facção, os desgastes feitos às suas relações com o mundo árabe e com os seus aliados ocidentais, a degradação da sua imagem no Mundo, a legitimação, in fine, do seu próprio combate.
(D)
TSAHA não assumiu, ou não quis assumir, a consciência que esta estratégia era admissível num conflito clássico, não numa guerra assimétrica, contra grupos irregulares. Jamais reconheceu a sua inadequação a este tipo de conflito, que os seus peritos denominam de “baixa intensidade”. Opostamente, aos demais outros exércitos, americano, britânico e francês, não procurou, na verdade, se adaptar aos constrangimentos da guerra assimétrica, salvo para melhorar o seu serviço de Informação e as suas capacidades militares. Jamais houve no interior do TSAHA uma doutrina respeitante à “guerra no seio das populações”. Facto que parece, um tanto ou quanto, pouco desconectado desses debates doutrinais que agitaram os estados-maiores dos Países Ocidentais, nestes derradeiros anos:Deste modo, no âmbito desta dinâmica, se impõe colocar avisadamente uma pertinente questão. Ou seja: Possui, na verdade, uma estratégia de luta contra-insurreição?
A este propósito, vale a pena trazer à colação, as ideias avançadas pelo Tenente General, Aviv KOHAVI (Comandante das tropas pára-quedistas, no início da Segunda Intifada), aquando de uma conferência de Imprensa concedida, no princípio do ano 2003, ao afirmar o seguinte: que, na verdade, quando a Segunda Intifada rebentou, o exército não possuía “nem doutrina, nem técnicas adequadas para o combate de débil intensidade em zonas urbanas povoadas”.
Como facilmente, se pode depreender:
--- Não houve Reflexão organizada acerca dos mecanismos complexos da guerra assimétrica, nem acerca da forma de gerir objectivos que podem se verificar contraditórios.
--- Não houve, outrossim pensamento rigoroso acerca da articulação entre os objectivos e os modos operatórios, sim, efectivamente está-se ante uma autêntica ausência de Reflexão construída no atinente às consequências do uso de tal ou tal arma, dos efeitos de tal ou tal tipo de e operações.
Enfim, de sublinhar, que ainda, consoante este, que foi um dos Altos Responsáveis da luta “anti-terrorista” no Conselho Nacional de Segurança, “não existe em Israel, uma estratégia escrita de guerra contra o “Terrorismo”.
Demais, reforça o seu pensamento, nesta matéria, asseverando avisadamente, que “A estratégia não é, nem clara, nem coerente, dependendo demasiado das posições ideológicas dos decisores e da situação política em Israel”. E, que “demasiada importância é acordada ao oral, à palavra”. Finalmente, que “A estratégia se preocupa do que aconteceu ontem e do que passará amanhã. Temos necessidade de uma estratégia organizada e os líderes políticos têm dificuldade em assumir decisões de longo prazo, por causa do equilíbrio das forças políticas interna em Israel, o que não facilita uma tal démarche”.
Resumindo e concluindo, a persistência destes reflexos contrasta com a sua flexibilidade e a sua capacidade respectiva de adaptação, num conflito clássico, exército contra exército, como foi o caso da famigerada Guerra dos Seis Dias, no ano de 1967, com apoio expresso dos USA. Com efeito, perante o conflito assimétrico, o exército israelita não deu provas de muita imaginação.
(E)
O que é facto, é que nenhuma lição parece ter sido sacado e extraído das experiências pretéritas, quer no atinente à Guerra de Algéria, da Guerra do Vietname, ou outrossim da Guerra do Afeganistão, porém identicamente e, sobretudo, das do próprio Israel, que foi, contudo, ele mesmo, na época do Mandato britânico, no papel do “fraco” que torturava o peão, no auge (no momento mais intenso) da contenda, com o apoio de meios que incitava, coagindo este último a cometer erros quão imperdoáveis e quão estultos.Todavia, por outro, o que não deixa de ser significativo, sublinhar é, que, na verdade, ninguém parece ter lido ou relido os escritos do sexto Primeiro-Ministro de Israel, Menachem BEGIN (1913-1992), Prémio Nobel da Paz, em 1978, em parceria com o Presidente egípcio Muhamed Anwar al-SADATE (1918-1981), evocando o seu combate contra os Britânicos nos anos de 1946-1948.
Trata-se, com efeito, de escritos de uma ardente actualidade, onde mostra como a repressão de uma revolta “acaba por enfraquecer o prestígio de um regímen colonial, vivendo sobre o mito da sua omnipotência”. De feito, “cada ataque que não pode prevenir constitui um golpe vibrado à sua Existência. Demais, se o ataque malogre, corrói o seu prestígio e, esta fissura não cessa de se alargar a cada agressão.
Finalmente, os Generais israelitas, nunca reflectiram, outrossim sobre os lúcidos escritos da lavra do militar francês, (de origem tunisina), DAVID GALULA (1916-1967) para quem: “Dans une guerre conventionnelle, un soldad qui, pris à partie, ne riposterait pas avec la puissance de feu maximale, manquerait à son devoir. Dans une guerre révolutionnaire, la situation est inverse: la règle est d’en faire un usage aussi limité que possible », in Contre-insurrection, théorie et pratique.
Lisboa, 03 Julho 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista Cidadão do Mundo)
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KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista Cidadão do Mundo)