Intervenção Quarta...
O escritor português e Prémio Nobel de Literatura 1998, José SARAMAGO (n-1922), numa recente conferência de Imprensa, em Lisboa, a propósito do filme: “Ensaio sobre a cegueira”, do Realizador brasileiro Fernando MEIRELLES adaptado de um romance seu, criticou o Sistema Capitalista e a actual lógica de mercado, atribuindo responsabilidades aos “Grandes financeiros, os directores das grandes empresas e dos bancos”. E remata a sua intervenção, argumentando, desabrido e de modo lapidar, com a seguinte sentença: “Marx nunca teve tanta razão como hoje”. Ver mais pormenores sobre a entrevista em apreço na reportagem inserta no Semanário português, “Expresso”de 27 de Outubro de 2008.
Porém, na nossa óptica e perspectiva, não explicitou adequadamente o conteúdo de verdade e de fundo que a sua asserção assume, na sua essência primordial. Eis porque, nos ocorreu a ideia de tecer algumas considerações acerca da Actualidade do Magistério e Pensamento respectivo do filósofo alemão, KARL MARX. Assim, nesta dinâmica, esta nossa peça ensaística surge, enquadrada, adentro da Temática: Na Hora da Verdade!...No caso vertente, Intervenção Quarta, em que vamos apresentar, de forma pedagógica, o nosso contributo, visando uma elucidação, quão percuciente e apropriada no atinente à Actualidade, real das Ideias e Pensamento de Marx.
De feito e, na verdade, o marxismo (grosso modo, se assume como doutrina filosófica, política e económica oriunda da lavra de K. Marx, que analisa os processos históricos consoante métodos dialécticos e materialistas, à luz da luta das classes), constituiu—dizíamos—o movimento político de lutas mais importante contra as excentricidades/extravagâncias do sistema capitalista e do Liberalismo. Contudo, no decurso dos trinta (30) derradeiros anos do século XX pretérito, aparentemente perdeu muito da sua sedução, na sequência dos “êxitos” das “democracias” ocidentais, da “estabilidade” que geraram e do papel desempenhado pelo Estado Providência. Daí, o chorrilho de dislates aventado, por todo um coro de ignorantes, de vários quadrantes, fruto de opiniões apressadas, visando denegrir os válidos e robustos fundamentos da análise marxista, propalando uma mensagem adulterada de que realmente, havia perdida a sua pertinência efectiva.
Todavia, desde alguns anos, o contexto se encontra em vias de mudar. Com efeito, o Ultraliberalismo inaugurado por Ronald REAGAN nos USA e Margaret TCHATCHER no Reino Unido, provocou um incremento das desigualdades entre os pobres e os ricos e, outrossim, uma erosão da classe média. Por sua vez, o crescimento económico mundial não trouxe os proveitos prometidos à imensa maioria dos habitantes dos países mais pobres. Pelo contrário, do facto apenas aproveitou uma débil fatia da população, assim como os usurpadores de capitais das grandes empresas multinacionais.
De anotar, por outro, para tornar a Situação, ainda mais deletéria, por toda a parte no Mundo, aparecem receptáculos/reservatórios de mão-de-obra, com débeis remunerações sob a ameaça de deslocação de fábricas e de externalização da produção. Assiste-se, deste modo, ao retorno do que MARX denominou do “exército industrial de reserva”, que garantiu ao Capitalismo a preservação dos seus imensos lucros, permitindo exercer pressão sobre os salários. Por seu turno, as organizações sindicais e os Partidos operários, pela sua real fraqueza, já não podem impor aumentos de salários e um sistema fiscal de redistribuição das riquezas.
De feito, mais de cento e cinquenta (150) anos após o aparecimento do Capitalismo no século XIX, um novo ciclo parece seduzir com um incremento das desigualdades, das injustiças e da exploração dos trabalhadores. Eis porque, os conflitos vinculados às condições das permutas económicas e ao controlo dos recursos escassos vão se exacerbar a olhos vistos. Deste modo, se afigura sobremaneira provável que a análise marxista, como meio de explicação das situações políticas e económicas, recupera uma nova atracção/influência.
Enquadra-se, efectivamente nesta dinâmica, o caso sobremaneira paradigmático do Movimento altermundialista que vê nas fraquezas do Capitalismo globalizado as mesmas características que as do Capitalismo tal como o descrevia e o criticava MARX. Assim, a ausência de outros modelos de análise político-económico mais coerentes e mais pertinentes para lutar contra os efeitos nefastos do Capitalismo reforça as oportunidades de ver a análise marxista renascer e vir a ser o denominador comum dos movimentos de contestação que avisadamente proliferam, cada vez e mais, por todo o mundo.
Enfim e, em suma, eis porque, para todas as vítimas da Globalização, para todos les laissés pour compte da economia do mercado, para todos os indigentes, os escravos do trabalho e os proletários, a Actualidade do Magistério e do Pensamento respectivo de MARX é um dado inquestionável, absolutamente. E, parafraseando, lúcida e criticamente o filósofo e sociólogo Suíço, Jean ZIEGLER (n-1936), actualmente relator especial da Comissão dos Direitos do Homem (das Nações Unidas), sobre o Direito à Alimentação, urge, se impõe, evidentemente, gritar em alto e bom som: “A demain, Karl”, título, aliás, bastante sugestivo da sua obra, de cariz, um tanto ou quanto, premonitório, datada de 1991.
Lisboa, 03 de Novembro de 2008.
KWAME KONDÉ