domingo, 22 de junho de 2008

CATARSE

Eu sei que há obrigações sociais; há obrigações familiares; há obrigações de classe e de grupo; há obrigações de toda a ordem. Que devem ser cumpridas. Apesar de muitas delas ― eu diria, a maior parte delas ― serem para nós um fardo, um contratempo, uma estopada, uma chatice.

Obrigações são obrigações ― Obrigam! Ponto final. Eu sei!

Mas permitam-me um desabafo. Um desabafo cuja revelação pública me desqualifica sobremaneira; mas que mesmo assim me permito fazer:

Detesto. Profundamente. Dar pêsames. Apresentar “os meus sentimentos”. Quando a morte de alguém me deixa indiferente e insensível.

Detesto. Profundamente. Receber pêsames. Ouvir alguém apresentar-me “os seus sentimentos”. Quando sei que a morte de um familiar meu lhe é perfeitamente indiferente e o deixa insensível.

Eu fui a apenas três funerais na minha vida. Deveria ter ido a trinta, a sessenta, ou mesmo a mais funerais. Talvez. Mas não fui.

Lamento não ter podido estar presente a alguns poucos funerais. Eu estava longe ou impossibilitado de comparecer em tempo útil.

De resto, c’est tout.

Peço desculpas pelos incumprimentos havidos e pelos que hão-de haver.

E quero ainda dizer o seguinte: eu dispenso os pêsames não sentidos; agradeço que não mos dêem; e não ficarei minimamente agastado por não receber pêsames. Como disse, até agradeço.

E de visitas para dar pêsames... então nem me falem!...

Fim da parte séria.

Agora uma anedota verídica que eu gostaria que se aplicasse a mim. Consta que Fidjim di Djodjó era um indivíduo avesso a ir a funerais. Vivia na Ilha do Fogo e de cada vez que faltava a um funeral ouvia recriminações várias ao longo de muitos dias. Então um dia resolveu justificar-se assim:

«Eu só vou a enterros de quem vai ao meu».

Boa!