domingo, 23 de março de 2008

DO EXERCÍCIO DA LIBERDADE

Ontem foi sábado e fui trabalhar. Digamos que fui vender umas sandes aí para os lados de Belém. Não interessa o que é que eu fui fazer.

Como estamos na quadra pascal e a malta toda “foi à terra”, o movimento era escasso e a folga muita.

Então peguei em “O Crocodilo que Voa” e li as entrevistas a Luiz Pacheco.

Foi morrer de riso da primeira à última página. Foi viver o dia com gosto, prazer e orgasmo. Foi muito bom!

Ficam aqui dois “pedaços” de Pacheco. Para seu deleite ou bardamerdice. A escolha é sua.

E esta solidão em que vive alimenta-lhe alguma nostalgia?

Não também não adiantava. Eu nunca aguentaria uma situação idêntica à do Saramago, por exemplo. A Pilar controla tudo, de manhã à noite. O homem não pode ter aventuras nem com homens nem com mulheres. Nada. Está ali com o mirone sempre a pau. O que é que há-de fazer? Faz boletins do gabinete do senhor escritor José Saramago. Tanto dá que tenha sido escrito por ele, pela mulher-a-dias, pela Pilar, pela Desidéria. Ele no fim assina e pronto. Vai aqui, vai ali, recebe prémio, não recebe prémio. Ele é um computador. Mesmo que tivesse vivido ao longo destes anos uma aventura qualquer não pode escrevê-la. Está impedido.

Percebo o que quer dizer. Pergunto-lhe então no que é que aplica a sua liberdade.

Agora uso-a para mijar.