sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

«COITADINHOS»

Esta foi-me contada hoje e vendo-a pelo preço que a comprei.

Em conversa com colegas seus a actual Ministra da Saúde (espero continuar a usar estas maiúsculas no futuro), reflectindo sobre o rombo havido nos últimos anos no pessoal médico hospitalar que abandonou (muitos forçadamente) o que teimosamente ainda resta da Carreira Médica Hospitalar, teria dito:

«Só ficaram os coitadinhos».

Esta frase é totalmente verdadeira como metáfora pois a sangria que atingiu e atinge os quadros médicos hospitalares nos últimos dois três anos foi e é enorme; altamente preocupante; e constitui um sinal claríssimo de que o Estado pretende alienar grande parte da medicina hospitalar em favor dos hospitais privados. E se o fizer, no terreno talvez venham a ficar apenas as Unidades de Saúde Familiar, alguns Centros de Saúde e ambulâncias VMERs, SBVs, SIVs.

Hospitais públicos? Sim, também haverá: para indigentes. Assistidos por "coitadinhos". Então verdadeiramente coitadinhos.

Sabendo que a actual Ministra sempre trabalhou no sistema público de Saúde; que era, ainda há menos de uma semana, directora de uma unidade pediátrica de um hospital central ― sendo por isso mesmo conhecedora profunda dos problemas dramáticos que os hospitais públicos enfrentam ―; apesar de a mesma (Ministra) ter declarado que ia prosseguir a política de Saúde do seu antecessor, não acredito que venha a proceder do mesmo modo que aquele.

Entendo que a nova Ministra disse o que disse porque não lhe ficava bem dizer outra coisa naquele momento; mas acredito que já tenha dito outra coisa ao senhor primeiro-ministro e que venha a agir de forma bastante diferente de Correia de Campos.

Quando hoje eu expendi este meu raciocínio a um grupo de médicos hospitalares, com o qual por acaso cruzei, ouvi um coro quase unânime eivado de desdém:

«É pá, quando vão para lá mudam logo de atitude e de pensamento e ficam iguais aos outros».

Reafirmo aqui o que eu lhes disse:

Não acredito!

E não acredito porque quem conhece e vive hoje, na pele, a realidade médica hospitalar: se não é "coitadinho" é pessoa de firme e esclarecida vontade lutando coerentemente contra o desmantelamento dos hospitais públicos e do Serviço Nacional de Saúde.

E sei que a actual Ministra não é "coitadinha".