domingo, 11 de novembro de 2007

UM ARTISTA SINGULAR



Esta é uma casa de gatos ― fique a saber quem não saiba!

Já algumas vezes mostrei e falei do meu gato, o Picasso, que anda sempre a dormitar sobre a secretária quando eu ando por aqui a fazer disparates do tipo ― ler, escrever, blogar, estudar, etc. O Picasso é um intelectual de sólida craveira e tem formação política invejável, mas com um defeito ― é de esquerda.

Mas não é dele que vos quero falar hoje. Hoje quero é apresentar-vos o irmão gémeo do Picasso, o Gauguin. Generoso, meigo, sedutor e grande amigo, o Gauguin alia a sensibilidade artística ao destino trágico que o acompanha desde muito pequeno: sofre do coração. Tem uma importante dilatação cardíaca a ponto de experimentar alguma dificuldade em respirar quando se cansa porque o coração ocupa grande parte do tórax retirando campo à necessária expansão dos pulmões. Apesar da doença o Gauguin vive a vida com alegria, corre e pula pela casa toda e só pára quando lhe sobrevém uma espécie de tosse que lhe lembra que ele não pode cometer excessos.

O Gauguin só permanece vivo (e já lá vão 4 anos) porque lhe é ministrado, religiosa e diariamente, um comprimido para ajudar a sua máquina cardíaca a bater mais devagar e com melhor rendimento; assim não fosse... e ele já era memória há um ror de tempo.

A faceta artística do Gauguin manifesta-se sobretudo quando ele vê flores; é um apreciador embevecido e viciado de flores. Quando vê uma jarra com flores é capaz de esperar o tempo que for necessário para se chegar às flores; costuma passar horas e horas olhando através dos vidros da porta da sala, para uma jarra contendo aquilo que ele um dia me confidenciou ser «a minha ambrósia e o meu mel», isto é ― flores; e só descansa depois de cumprir o seu desígnio supremo: tocar e comer as flores.

É isso mesmo: tocar e comer as flores.

As fotografias foram feitas hoje. E não me desmentem.