Deixem-me contar-vos um pequeno episódio das minhas férias em Cabo Verde.
Escusado será dizer que passei umas óptimas férias em Cabo Verde ― adoro a minha terra e sobretudo adoro S. Vicente e a sua gente. ―
Mas aconteceu-me em S. Vicente protagonizar um acidente de viação que me poderia ter sido fatal: quando, à noite, viajava sozinho na estrada que liga Calhau ao Mindelo ― em plena recta, logo no primeiro quilómetro de estrada ― rebentou-se-me o pneu traseiro direito da viatura e sofri um instantâneo e violento despiste que atirou-me com o carro para fora da estrada tendo andado bem uns 30 metros derrubando obstáculos até conseguir imobilizar a viatura.
Claro que os danos foram grandes no bom automóvel que uma amiga me emprestara.
Mas se o acidente tivesse acontecido mais à frente, em qualquer outro ponto do percurso, as consequências teriam sido bem piores: é que aquele onde se deu o meu despiste era o único quilómetro daquela estrada que não tem valas ou precipícios à mão de semear.
Grande sorte a minha! Sem dúvida nenhuma.
(Eu sei que quando tiver que morrer, morrerei mesmo; mas desta vez não era para morrer. Paciência! Fica pr’à próxima... E prometo que avisarei quando for).
Como qualquer ateu que se presa saí ileso do acidente; abandonei o carro, fiz uma careta de resignação quando olhei para o estado do automóvel, e deitei a mão ao telemóvel.
Viva o telemóvel! Telefonei à minha amiga, dona da viatura, e depois aos amigos que acabara de deixar contando-lhes o sucedido e pedindo-lhes ajuda para a recolha do carro, boleia para a cidade, etc.
Os meus amigos, como sempre, foram inexcedíveis em atenções, carinho e dádiva pessoal; em duas horas, mais coisa menos coisa, o carro estava já numa garagem “de recolha” disponibilizada por um deles e eu estava de garrafa de cerveja na mão a ouvir música frente ao palco do Festival da Baía das Gatas.
Mas o que achei mesmo engraçado em tudo isso (há sempre a parte engraçada da desgraça) é que muita gente que soube, depois, do acidente, nos dias seguintes, quando me abordava, acabava quase sempre por se importar mais em querer saber quem iria pagar os danos da viatura do que em saber se eu ficara bem e sem mazelas de maior no meu pobre corpinho bem tratadinho e conservado em álcool QB.
Enfim... prioridades.