quinta-feira, 7 de junho de 2007

UM DEUS SÁDICO

Julgo que todos nós temos a ideia que um dia “os filhos de Israel”, escravizados no Egipto, empreenderam “O Êxodo” rumo à terra prometida, guiados por Moisés, por iniciativa e sob protecção do SENHOR Deus.

Para tal Deus ordenou a Moisés que fosse falar ao seu povo e lhe desse a boa nova da libertação. E mais lhe disse:

E ouvirão a tua voz; e irás, com os anciãos de Israel, ao rei do Egipto e lhe dirás: O SENHOR, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias, para o deserto. A fim de que sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus. [Êxodo 3.18]

Agora atentem bem no que mais disse o SENHOR a Moisés:

Eu sei, porém, que o rei do Egipto não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte.Portanto estenderei a mão e ferirei o Egipto com todos os meus prodígios que farei no meio dele; depois; vos deixará ir. [Êxodo 3.19]

Tudo bem, Deus vai castigar severamente o Faraó e obrigá-lo a deixar sair o povo de Israel do Egipto. Isto é lógico, Ele o disse. E continuou a falar a Moisés:

Disse o SENHOR a Moisés: Quando voltares ao Egipto, vê que faças diante de Faraó todos os milagres que te hei posto na mão; mas eu lhe endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo. [Êxodo 3.21]

Aqui, agora, Deus já começa a descambar. Vejam só o sadismo deste Deus (não vejo outra palavra, é mesmo sadismo): primeiro armadilha tudo, confere poderes sobrenaturais a Moisés para que este amedronte o Faraó e assim o obrigue a deixar sair os filhos de Israel do Egipto; mas logo a seguir diz que “endurecerá o coração do Faraó para que não deixe ir o povo”.

À primeira vista isto parece apenas um contra-senso ― mas não é ―. Como vamos ver, trata-se de um plano bem montado para uma acção gratuita de sadismo. É que, não deixando que o Faraó (a quem Deus vai endurecendo o coração a seu bel-prazer) permita a saída do povo de Israel, Deus vai ter assim a oportunidade de lançar, uma a uma, DEZ PRAGAS (10) sobre o Egipto. Para seu supremo deleite:

1) As águas do Egipto tornam-se em sangue.
2) A terra do Egipto é totalmente coberta por rãs.
3) Os homens e os animais são infestados por piolhos.
4) Gigantescos enxames de moscas invadem todo o Egipto.
5) A peste dizima os rebanhos do Egipto; mas não os de Israel.
6) Úlceras e tumores cobrem os corpos dos homens e dos animais do Egipto.
7) Uma chuva de pedras matará todos os animais e todos os homens que estiverem no campo.
8) Gafanhotos comerão tudo o que restou nos campos após a chuva de pedras.
9) “Trevas que se podem apalpar”, cobrem o Egipto e só os filhos de Israel têm direito à luz.
10) Uma tremenda mortandade de homens e de animais (nem estes coitados se safavam) é relatada assim:

Aconteceu que, à meia-noite, feriu o SENHOR todos os primogénitos na terra do Egipto, desde o primogénito do Faraó, que se assentava no seu trono, até ao primogénito do cativo que estava na enxovia, e todos os primogénitos dos animais. [Êxodo 12.29]. Levantou-se Faraó de noite, ele, todos os seus oficiais e todos os egípcios; e fez-se grande clamor no Egipto, pois não havia casa em que não houvesse morto. [Êxodo 12.30]. Então, naquela mesma noite, Faraó chamou a Moisés e a Arão e lhes disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; ide, servi ao SENHOR, como tendes dito [Êxodo 12.31]. Levai também convosco vossas ovelhas e vosso gado, como tendes dito; ide-vos embora e abençoai-me também a mim [Êxodo 12.31].

Eu bem sei que Deus nunca apareceu, que Deus nunca falou com ninguém, que Deus nada fez contra ou a favor do povo do Egipto, do de Israel, ou de qualquer outro.

Eu também sei que os relatos bíblicos foram sendo escritos, modificados, reescritos, ao longo de séculos, e que pretendem historiar um tempo de que não há documentos ou evidências atempadamente registadas; que a Bíblia é um esforço para dar algum sentido à aventura humana sobre a terra.

Por isso acho que, aos olhos de hoje (que não aos olhos dos tempos em que foi sendo escrita), esta história toda do Êxodo parece impregnada de alguma idiotia provinda dos escribas que, ao tentarem engrandecer, até ao inimaginável, o poder de Deus, acabaram por, de certa maneira, O demonizar.

Bem ou mal, um pouco à moda dos judeus ortodoxos, aqui vou iniciando a minha prática religiosa tentando interpretar a Bíblia à minha maneira ― livremente.

Depois consultarei alguns “rabis”, das várias tendências religiosas que perfilham a Bíblia, e pedirei esclarecimentos.

Bom feriado.