A candidatura de Carlos Veiga terá tido (digo assim porque não sei se o slogan é oficial) a infeliz ideia de produzir um slogan um pouco pretensioso e deslocado da realidade, o qual dirá “O Pai da Democracia”.
Por causa disso já recebi, pela Internet, dois reenvios da seguinte mensagem da Sra. Ariane Morais Abreu:
«Livre de qualquer afilhaçao partidaria, acho revelador (e infeliz) o slogan de campanha do Carlos Veiga : " O PAI DA DEMOCRACIA" porque se deve antes de tudo analizar e ponderar as palavras utilizadas em termos de comunicaçao social e eleitoral.
Uma questao: O Pai da Democracia em si ou em geral??
O(s) autor(es) desliza(m) sem dar conta nos mesmos tipos de substantivos, sintomaticos dos desvios e da perversao do poder politico, cuja conotaçao paternalista e absolutista nao coaduna com o belo lema: "Um Presidente para todos". Ele(s) condena(m) mas parafrasea os piores slogans propagandistas que caracterizam ainda hoje presidentes e governos que nada têm a ver com a ideia e a pratica democraticas.
Quanto ao candidato Carlos Veiga, certamente nao imaginou o impacto negativo e a contradiçao estructural e conjontural deste slogan. Nao é necessario dizer-se o melhor para agir da melhor maneira, e se teimam em deificar o "homus politicus" desta forma, ele certamente passara a pensar si mesmo como um demurgio todo poderoso (precisamente o que condena a mensagem do candidato Carlos Veiga). Em materia de estado, ja sabemos onde tais deturpamentos ja conduziram milhares de seres humanos.
Entao sejamos criticos mas coherentes, intransigentes mas justos, militantes mas lucidos...
QUE O MELHOR GANHA!!! E "rezamos" que o candidato eleito seja efectivamente o melhor Presidente para TODOS os Cabo-verdianos.»
A um dos “reenviantes” respondi da única forma que na altura me pareceu mais adequada, com o intuito de pôr uma certa água na fervura. É que não me parece que o caso mereça tamanho alarido e seja motivo de lapidação do candidato Carlos Veiga.
E respondi escrevendo o seguinte:
«Convenhamos que julgar um político pela simples análise de um slogan (com o qual pode nem sequer ter nada a ver) é de um exagero e de uma enormidade inauditos.
Não fica nada bem a quem o faz; e não fica nada bem a quem apoia quem o faz.
Sejamos francos: o slogan em causa, "O Pai da Democracia", a existir, é, de facto, infeliz.
Carlos Veiga é, quanto muito, um filho da Democracia.
Mas ver nesse slogan de campanha eleitoral um prenúncio de futura perversão do regime é outro exagero e outra enormidade inauditos.
Tenhamos calma e sejamos justos. E não pretendamos sequer insinuar que o pai da democracia é Pedro Pires.
Porque também não o é.
E fiquemos por aqui.
Deixemos o veredicto das eleições presidenciais cabo-verdianas aos eleitores e deixemo-nos destes exercícios tristes de pitonisas da política.»