Parece que, finalmente, a realidade se está a impor à incompetência, à fantasia e à demagogia de muitos governantes deste País.
À incompetência daqueles que tinham o dever de saber que, no domínio da Saúde, quanto mais se trabalha e se produz - maior é a despesa do Estado;
À fantasia daqueles que julgavam que seria possível combater listas de espera cirúrgicas e de consultas de especialidade - baixando custos e cortando nos orçamentos dos hospitais;
À demagogia daqueles que pretenderam, e ainda pretendem, convencer o Zé Povinho de que a despesa da Saúde só é tamanha porque os mandriões dos médicos e dos enfermeiros só se limitam a ganhar o ordenado sem nada produzirem.
Ao que se diz nos mentideros políticos de Lisboa, parece que o Governo acordou para a realidade e já quer – sabem o quê? – já quer que se produza menos nos hospitais; que se gaste menos: consumindo menos, diagnosticando menos, tratando menos.
Para já é o que se diz nos mentideros; mas... não costuma haver fumo sem fogo.
A ser assim, no fundo, o Governo vai querer é que os médicos finjam que os doentes não estão doentes e passem a mandá-los para casa entretidos com dois comprimidos de Aspirina e um frasco de água de malvas.
Estamos acostumados a que em Portugal as modas, as correntes filosóficas, as novidades, o progresso, etc., só cheguem passadas décadas da sua vigência no estrangeiro.
Ora bem, se os políticos e governantes portugueses amam tanto o liberalismo económico e pretendem, por isso, extinguir o Estado-previdência - o que deveriam ter feito, em primeiro lugar, desde há umas duas décadas, era o seguinte:
olharem bem para os Estados Unidos para verificarem:
- primeiro, que os maiores aliados das companhias seguradoras (e do próprio Estado americano) são as associações dos médicos;
- e segundo, que só com um relacionamento privilegiado entre as seguradoras, o Estado e as associações dos médicos é possível poupar nos gastos da Saúde...
... e lixar o Zé Povinho.
Mas, em Portugal, o que se pretendeu, e se pretende ainda, é:
lixar o Zé Povinho, lixando, de passagem, tudo e todos: incluindo médicos e enfermeiros.
Assim não dá. Porque nunca deu em lado nenhum.
Meus caros senhores políticos e senhores governantes: não se consegue lixar o Zé Povinho, lixando tudo e todos ao mesmo tempo.
Por isso, será que vem aí uma santa aliança qualquer contra o Zé Povinho?
Aguardamos, atentos e intrigados.