EXEMPLO RARO
Morreu Ildo Lobo.
Morreu o amigo,
o cantor,
o camarada.
Morreu um cabo-verdiano ilustre que viveu honradamente;
alguém que serviu a Música e serviu Cabo Verde,
e que,
se alguma vez se serviu de alguém
ou de algo,
serviu-se apenas de si mesmo e daquilo que era seu.
quarta-feira, 20 de outubro de 2004
domingo, 17 de outubro de 2004
CHOVER NO MOLHADO
Não queria escrever sobre isto, mas… o que é que se pode fazer quando a reincidência em comportamentos criminosos continua a conduzir a Guiné Bissau rumo ao abismo e ao desaparecimento do Estado (ia dizer “Nação”).
Como é amplamente sabido, desde há menos de um mês, os militares guineenses resolveram dar mais alguns passos na sua tarefa suicida de destruir o pouco que ainda resta daquilo que em tempos não muito recuados foi um País.
Aqueles militares pretenderam agora dar um golpe de Estado para – imagine-se! – exigirem que lhes fossem pagos salários e outras subvenções pecuniárias em atraso. No meio disso assassinaram o seu chefe máximo, general Veríssimo Seabra, um coronel e mais não sei quantos civis. Agora exigem assinar um acordo em que a condição primeira é esta: “amnistia para todos os militares revoltosos”, desde não sei que data a esta parte. O que querem agora não é mais do que isto: o não julgamento dos assassinos do general Seabra e de mais umas quantas vítimas das atrocidades cometidas durante o golpe; a lavagem dos crimes do passado e a legitimação do regabofe macabro de que se têm alimentado.
Não nos esqueçamos, contudo, que o general Seabra, ora assassinado, pertencia ao grupo de militares que derrubara e assassinara o seu chefe de então, Ansumane Mané, matando-o com a brutalidade habitual empregue nesses rituais de poder armado. Naquela altura, um acordo em tudo semelhante ao agora assinado, fora rubricado garantindo assim a amnistia aos assassinos de Ansumane Mané, grupo no qual, como já disse, se incluía o general Seabra ora sumariamente “justiçado”.
Como se vê, na Guiné Bissau, continua tudo como dantes e seguindo tranquilamente o mesmo rumo: caos, miséria, crime e impunidade.
Até quando?
Não queria escrever sobre isto, mas… o que é que se pode fazer quando a reincidência em comportamentos criminosos continua a conduzir a Guiné Bissau rumo ao abismo e ao desaparecimento do Estado (ia dizer “Nação”).
Como é amplamente sabido, desde há menos de um mês, os militares guineenses resolveram dar mais alguns passos na sua tarefa suicida de destruir o pouco que ainda resta daquilo que em tempos não muito recuados foi um País.
Aqueles militares pretenderam agora dar um golpe de Estado para – imagine-se! – exigirem que lhes fossem pagos salários e outras subvenções pecuniárias em atraso. No meio disso assassinaram o seu chefe máximo, general Veríssimo Seabra, um coronel e mais não sei quantos civis. Agora exigem assinar um acordo em que a condição primeira é esta: “amnistia para todos os militares revoltosos”, desde não sei que data a esta parte. O que querem agora não é mais do que isto: o não julgamento dos assassinos do general Seabra e de mais umas quantas vítimas das atrocidades cometidas durante o golpe; a lavagem dos crimes do passado e a legitimação do regabofe macabro de que se têm alimentado.
Não nos esqueçamos, contudo, que o general Seabra, ora assassinado, pertencia ao grupo de militares que derrubara e assassinara o seu chefe de então, Ansumane Mané, matando-o com a brutalidade habitual empregue nesses rituais de poder armado. Naquela altura, um acordo em tudo semelhante ao agora assinado, fora rubricado garantindo assim a amnistia aos assassinos de Ansumane Mané, grupo no qual, como já disse, se incluía o general Seabra ora sumariamente “justiçado”.
Como se vê, na Guiné Bissau, continua tudo como dantes e seguindo tranquilamente o mesmo rumo: caos, miséria, crime e impunidade.
Até quando?
sábado, 9 de outubro de 2004
O PASSADO REVISITADO
Hoje passei uma boa parte da tarde a rever fotografias que fiz há vinte, trinta e mais anos.
Meu Deus! Santíssimo Senhor: quão grande fui então (bonito, forte, inteligente, rico, indestrutível e imortal). E quão pequenino sou agora (velho, fraco, medroso, vulnerável e altamente finito).
Descobri, pelas fotografias que fiz nesse tempo, que o tamanho do mundo cresceu incontroladamente desde então, e que hoje a minha insignificância nem sequer tem existência.
E descobri uma coisa espantosa e deprimente: afora as pessoas retratadas que já morreram (e foram algumas), as que, como eu, se mantêm vivas - também estão de certa forma mortas -. Não têm quase nada a ver com a pessoa que foram no passado. Não temos nada a ver com a pessoa que fomos no passado.
Eu, confesso-me deslocado; fora de tempo; na última curva antes da meta, enfrentando a certeza de que a vitória não será minha.
Mas antes de atingir a recta da meta, penso deixar aqui a maior parte das fotografias de que falo. Esperem só mais algumas semanas que poderão constatar da inexorabilidade do tempo.
Hoje passei uma boa parte da tarde a rever fotografias que fiz há vinte, trinta e mais anos.
Meu Deus! Santíssimo Senhor: quão grande fui então (bonito, forte, inteligente, rico, indestrutível e imortal). E quão pequenino sou agora (velho, fraco, medroso, vulnerável e altamente finito).
Descobri, pelas fotografias que fiz nesse tempo, que o tamanho do mundo cresceu incontroladamente desde então, e que hoje a minha insignificância nem sequer tem existência.
E descobri uma coisa espantosa e deprimente: afora as pessoas retratadas que já morreram (e foram algumas), as que, como eu, se mantêm vivas - também estão de certa forma mortas -. Não têm quase nada a ver com a pessoa que foram no passado. Não temos nada a ver com a pessoa que fomos no passado.
Eu, confesso-me deslocado; fora de tempo; na última curva antes da meta, enfrentando a certeza de que a vitória não será minha.
Mas antes de atingir a recta da meta, penso deixar aqui a maior parte das fotografias de que falo. Esperem só mais algumas semanas que poderão constatar da inexorabilidade do tempo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)