quarta-feira, 30 de julho de 2003

O CU DO MUNDO

No mês de Março deste ano dirigi-me ao hospital público de S. Filipe com o propósito de pedir ao delegado de saúde um favor (não era bem um favor: era algo a que tinha o direito de pedir). Esperei que ele acabasse uma visita a uma das enfermarias e então abordei-o cá fora. Apresentei-me dizendo-lhe quem eu era e só depois solicitei o “favor”. Arrogantemente e já afastando-se de mim, aquela figurinha de menino malcriado disse-me que não podia satisfazer o meu pedido pois se considerava incompetente para isso. Sem mais. Nem sequer lhe passou por aquela cabecinha oca a ideia de apresentar a recusa de forma correcta com, por exemplo, um “lamento muito, mas não posso satisfazer o seu pedido”. Nada disso: foi mais grosseiro que o conteúdo das latas que se deitam ao mar de Bocarrom. Eu (hoje aculturado na Europa) reagi, suponho que com elevação: agradeci e fui-me embora. Pode parecer cobarde mas não é: os seres evoluídos perdem agressividade social. E eu, passe a imodéstia, tenho-me na conta de um ser socialmente evoluído.

Quando comparo este comportamento com o de uma instituição americana, o Women and Infants Hospital de Rode Island, sinto-me perante esse delegado de saúde de S. Filipe como Sir David Attenborough (especialista em vida selvagem) se sentia perante os exemplares de animais que ao longo da vida estudou nas selvas de todo o mundo: deslumbrado com a genuinidade da vida selvagem.

Com efeito, há cerca de dez anos, fiz uma visita aos Estados Unidos e aproveitei o facto de ter sido inaugurado, havia pouco tempo, esse hospital americano, para pedir que me fosse facultada uma visita às unidades do mesmo pois pretendia ver o avanço técnico e os equipamentos que por lá havia.
O Departamento de ralações públicas do hospital, depois de confirmar a minha qualificação pela carteira profissional que apresentei, marcou-me um dia para a visita requerida. Nesse dia foi destacado o Dr. Curren para me acompanhar numa visita exaustiva a todas as alas relevantes de dito hospital (coisa que demorou mais de duas horas); fizeram-me uma pequena recepção em que me foi servido café e oferecido biscoitos. O Dr. Curren fora-me esperar à porta do hospital e até lá me acompanhou quando me despedi depois de agradecer tamanha honraria.

Hoje, depois dos episódios acima relatados, sou obrigado a pensar que se a competência profissional desse delegado for do mesmo nível que a (falta de) educação da criatura, então a população do Fogo está em maus lençõis, em muito maus lençóis, e cada vez mais perto de Dimingo di nha Pinécha (coveiro já falecido).