quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ELOCUBRAÇÃO DÉCIMA SEXTA:

NOTA PRÉVIA:

O BRASIL se encontra empenhado, desde há numerosas décadas, na construção de um Estatuto de Potência. Estas aspirações alimentadas por um sentimento de grandeza, relevam de uma verídica estratégia de Estado, que como todo novo governo se empenha em prosseguir, mobilizando os instrumentos denominados de “potência doce”.
No âmbito desta dinâmica, as autoridades brasileiras fizeram da Zona Sul-americana um espaço de predilecção, visto que o Brasil aí apareça como um Actor preponderante, quer no plano económico, comercial ou demográfico, quer no que diz respeito ao dinamismo diplomático, ao desenvolvimento e à diversificação da Economia. De feito, Brasil se encontra empenhado na Edificação de uma Cooperação Regional, não unicamente por razões económicas, identicamente, porém políticas.
Na verdade, o Regionalismo Sul-americano é concebido pelo Brasil para afirmar um fundamento regional, consolidar um Estatuto de Potência, projectar os interesses próprios, quer económicos como políticos, sobre a cena Mundial e, por conseguinte, favorecer o advento de um Mundo multi-polar.
E, afim de assegurar uma perenidade ao projecto de integração e evitar que não seja considerado pelos países da sua vizinhança directa como um desígnio de influência, os decisores brasileiros drapejam esta estratégia de um discurso de tipo confraternal que faz sobressair a Ideia de uma consciência e de uma identidade regionais. Trata-se, deste modo, de suscitar no presidente dos seus associados regionais um Sentimento partilhado de Pertença à uma Comunidade Regional Sul-americana.
De anotar, todavia, visto que se desenvolve, na América Latina, uma Opinião Pública, cada vez mais e mais, crítica, relativamente às ambições de Potência do Brasil, qualificadas por alguns de “Imperialismo amarelo verde”, as coisas não são tão fáceis, obviamente.

Por outro, o Brasil está consciente que uma tal estratégia, que visa desenvolver e consolidar um leadership regional implica custos. Visto que, alguns países, designadamente, a Argentina e o México principalmente, teimam em reconhecer o poder brasileiro ou estão como ele empenhados, numa estratégia de influência que a limita, à semelhança da Venezuela. Desde então, o Brasil não hesita em mobilizar recursos financeiros para consolidar o desenvolvimento de projectos comuns e criar fundos de solidariedade, no desígnio de suscitar junto dos seus associados, um efeito de seguidismo e, por conseguinte, evitar os efeitos centrífugos que poderiam limitar as suas ambições de Potência.
Donde e daí, enfim e, em suma: o BRASIL testa, destarte, aparecer como um Actor benevolente. Procura, identicamente, em se construir esta Imagem na Cena Mundial.

(A)
Na verdade, desde, há mais de um Século que o ESTADO BRASILEIRO se encontra apostado na construção de um Estatuto de Potência. Esta démarche se acompanhou de um discurso oficial de auto-protecção do qual se emana um sentimento de superioridade em relação ao resto dos países Latino-Americanos. Este último leva o Brasil a se conceber como a única Potência Sul-Americana e, por conseguinte, à aspirar ao exercício do leadership no Sub Continente.
Isto sendo, conquanto a diplomacia afirmativa possa contribuir à outorgar uma impulsão política na prossecução dos objectivos fixados, não basta, sem dúvida, para fazer do País uma Potência. Eis a razão para a qual é fundamental confrontar o discurso exibido pelas Autoridades Brasileiras, visando à se auto-persuadir e em convencer os actores terceiros da legitimidade da ideia “Brasil Potência”das capacidades reais das quais este último dispõe para concretizar as suas aspirações. A questão será apreendida do mesmo modo que fazer seja possível de modo global.
E, em outros termos, para avaliar as intenções, é necessário ver como os parâmetros quantitativos da Potência (Demografia, Desenvolvimento económico, Situação e Dimensão geográficas…), a Política Externa (Comércio, Diplomacia, Missões para a Paz…), a afirmação das preferências dos Países tanto no seio das Instituições multilaterais (OMC, ONU…), como Regionais (MERCOSUR, UNASUR) e as operações, ambicionando em planear Redes relacionais com os Actores dominantes da Cena Mundial (USA, EU…), as Potências Emergentes (Fórum de diálogo IBSA, G20 mais), em particular do SUL e os Países da sua vizinhança directa se traduzem em efeitos concretos, na produção de influência.
Enfim, se a construção do Estatuto de Potência de um Actor depende das políticas e estratégias de projecção internacional utilizadas no longo prazo, assim como, da sua aptidão em influir na Elaboração da Agenda Internacional graças à sua capacidade em fazer prevalecer os seus interesses, deve, identicamente sobremaneira à percepção que os outros se fazem deste. Deste modo, a tomada em consideração, na análise do reconhecimento por actores terceiros constitui um elemento, outrossim, assaz importante para avaliar o BRASIL como Potência Emergente.

(B)
Finalmente, um tanto ou quanto, à guisa de Remate consentâneo, o BRASIL, na verdade, no desígnio de construir a sua Imagem na Cena Mundial, se vangloria da sua natureza pacífica e se apresenta como o porta-estandarte dos PED, designadamente, nas instâncias multilaterais. Este discurso serve as ambições de Brasília no sentido em que deve, por um lado, legitimar as reivindicações brasileiras de um Estatuto de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) e, por outro, se afirmar como protagonista incontornável e lograr obter resultados concretos, no quadro das negociações multilaterais do Comércio.
Com efeito, a démarche, ora enunciada, permitiu ao Brasil desenvolver um reconhecimento Internacional, cada vez mais e mais, consequente junto, designadamente da EU e dos Estados Unidos da América do Norte que o consideram mais como um Estado-pivot, até mesmo, como a “Potência natural” do Sub continente. Este reconhecimento se deve, não unicamente, à considerações objectivas, porém, identicamente à radicalização política e ao nacionalismo económico que se desenvolvem na América Latina.
De salientar, na verdade, que perante esta Evolução ideológica, o BRASIL aparece aos olhos de Washington e de Bruxelas como um País moderado e fiável que deve ser apoiado. Este apoio se encontra, aliás justificado pelo facto que o Governo de Centro-esquerda brasileiro prossegue (na linha da administração precedente), uma política económica liberal e uma estratégia macroeconómica benéficas para as empresas e investidores externos e, que as coligações Sul/Sul esquematizadas por Brasília não projectam, nem remetem em causa os postulados neo-liberais da Globalização, nem de reanimar o espírito de Bandung (cidade da Indonésia da Ilha de Java), cidade, onde nela se realizou, em Abril de 1955, uma conferência Afro-Asiática que reuniu trinta (30) países não-alinhados com os dois blocos político-militares existentes. Dessa reuniu saiu a condenação do colonialismo, do racismo, do emprego de armas nucleares e da violação da integridade territorial, propondo-se apoiar os países colonizados na luta pela emancipação. De consignar, outrossim, que esteve na origem do advento da noção de Terceiro Mundo e do Movimento dos Não-Alinhados.
Assim sendo, o reconhecimento crescente que os Estados Unidos da América do Norte, desejoso de delegar determinadas responsabilidades regionais, consideram o BRASIL como o candidato, o mais directamente susceptível de garantir a estabilidade política do Sub continente, sobretudo ante à Venezuela, que “trespassado” por um radicalismo político e um Nacionalismo económico crescentes e, por isso mesmo, um Actor perturbador e hostil aos seus interesses na Região.
Enfim, todavia, os Estados Unidos da América do Norte (USA) estimam as Américas como uma Zona de Influência natural e, desde então, se coloca a questão de saber se este reconhecimento perdurará, uma vez, que o BRASIL terá decidido desenvolver o seu Poder de fora das margens de manobra e das responsabilidades imaginadas por Washington.

Lisboa, 01 Dezembro 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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