quinta-feira, 19 de março de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO VIGÉSIMA OITAVA:

Nota Prévia:
Não há dúvida nenhuma, que neste momento francamente crucial, no âmbito dos Grandes Eventos da Humanidade, por isso mesmo, mais que nunca, necessário se impõe o debate de fundo, no domínio da matéria de política económica, é que esse se volatilizou, desaparecendo das agendas, sumindo-se e se ocultando nos profundos arcanos do olvido.
Todavia,
Obviamente, existe um vigoroso protesto altermundialista, no entanto, o seu propósito releva antes da denúncia que da compreensão do Capitalismo que grassa e prospera, a olhos vistos.
Com certeza, evidentemente, conquanto conceda o elóquio oficial, subsistem nuances entre “políticas de direita” e “políticas de esquerda”, porém as premissas são idênticas.
Donde e daí, urge interrogar avisadamente e, porque não, já agora, numa perspectiva eminentemente dialéctica, na peugada e esteira do economista francês (antigo perito do Movimento das empresas de França), Jean-Luc GRÉAU (n-1943), por motivos e razões assaz óbvios. Ou seja:
(1) Em que consiste esta famigerada concorrência suposta possuir terapêutica apropriada para tudo?
(2) A veneranda teoria das vantagens comparativas justifica a abertura mundial das permutas, sempre válida, efectivamente?
(3) Vivemos, realmente numa “sociedade pós-industrial”?
(4) Enfim, como funciona a esfera financeira?


A crise financeira do Verão de 2007 chamou à atenção, recordando eloquentemente, se necessário fosse, a instabilidade fundamental do sistema financeiro implantado, por etapas, desde aproximadamente três décadas. Por outro, a série de crises violentas, afectando ossaturas inteiras da economia mundial, entre 1987 e2007, contrasta com a surpreendente e singular estabilidade que reinou após a guerra.
Antes de mais, vale a pena consignar, com ênfase, o quão necessário, se afigura, chamar à devida atenção pelo facto que as economias devem assumir o tournant que os tornará menos dependentes dos mercados e dos seus operadores respectivos.

Com efeito e, tentando precisar as coisas e as ideias, o sistema que alguns denominam capitalismo, que outros, por seu turno designam como uma economia de mercado é em substância o sistema em que a produção é governada pela concorrência (rivalité d’intérêts provoquant une compétition, spécialement dans le secteur industrial ou commercial). De anotar, por outro, que a lengalenga da vulgata neo-liberal em torno do tema da competitividade implica que os mecanismos da concorrência se apresentem sob uma forma óbvia e clara e que não constitui, ipso facto, ocasião própria para abrir um debate preliminar sobre o assunto. Todavia, o que é facto é que a concorrência permanece um conceito obscuro do pensamento económico. Desenha paradoxalmente a forma de um enigma num mundo económico que lhe consagra uma devoção constante e sem reserva.
Demais, temos de convir, no âmbito desta dinâmica, que a própria teoria económica não procura nenhuma resposta quão firme e sólida. Oscila entre uma concepção naturalista da concorrência, que encara esta como uma manifestação inevitável da liberdade dos indivíduos e uma concepção artificiosa que a faz depender, ao invés, da impulsão e da vigilância dos poderes públicos. E, já agora, vale a pena, consignar com ênfase, que estas duas concepções ora enunciadas coabitam nas “cabeças” da burocracia sediada em Bruxelas.
Eis porque, evidentemente, mais que nunca, se impõe fazer de um mal efectivo um bem potencial. De feito, a miséria confessada pela economia neo-liberal nos deve servir como um positivo estimulante intelectual, pois que impende sobre todos nós, sem excepção, cidadãos conscientes, esta ingente tarefa de instituir a terapêutica consentânea, visando outorgar o remédio apropriado para esta miséria em apreço, sem receio algum de se mostrar imodesto, antes pelo contrário.

Na verdade e, na realidade, sob o regímen do mercado cativo, os vendedores, monopolísticos ou não monopolísticos, têm garantido o acto de escoar as suas produções. Aliás, o monopólio é apenas uma versão particular, no fim de contas (em resumo, obviamente) secundária, de uma economia constituída por produtores beneficiários de mercados cativos. Em compensação, a concorrência significa que os vendedores já não possuem garantia do montante aproximativo das suas vendas, porquanto podem ser outrossim excluídos do mercado, em proveito de rivais sobremaneira melhor apetrechados.
E, procurando elucidar, um pouco melhor o nosso estudo, se afigura importante referir que, efectivamente, a passagem da economia mercantil vetusta, que Karl MARX denominava a “economia mercantil simples” para uma economia de mercado concorrencial consistiu na supressão progressiva dos mercados cativos sob a acção de verdadeiros empreendedores sem título, que encaminharam para o triunfo numa nova lógica da actividade produtiva. Deste modo, consoante esta lógica, o objecto das transacções que se operam nos mercados económicos já não consiste em definir os termos da permuta entre os vendedores e os compradores, em proporcionar os seus interesses recíprocos, sim, efectivamente em determinar as parcelas de mercado outorgadas aos vendedores por compradores pronunciados livres pelas suas escolhas.

Uma vez, posto isto, nos vos convidamos a nos acompanhar, num pertinente e oportuno Exercício Intelectual, cujo objectivo primordial é mostrar, a contrario, as realidades dissimuladas sob as aparências da vida económica corrente. Com efeito et pour cause, não há dúvida nenhuma que:
(1) A desregulamentação organizada da produção de determinados bens ou serviços não caucionou o advento de uma concorrência efectiva. Demais, de consignar adequadamente, pode-se mesmo desembocar num resultado inverso, como o patenteia a experiência norte-americana em matéria de produção de electricidade.
(2) Os mercados financeiros não conhecem a concorrência sob a sua forma produtiva. Efectivamente, as instituições económicas colocadas no centro do sistema económico obedecem a uma lógica tão especial que se indaga como puderam acabar por incarnar, na vulgata actual, a noção de concorrência perfeita.

Enfim e, em suma, rematando destarte avisadamente, no fundo, no fundo, no que envidam encarniçadamente os nossos “mentores”da vulgata, é nos fazer assumir as bagatelas e futilidades respectivas da acumulação financeira e da exploração cínica do trabalho e do talento do Homem para as patranhas/balelas da concorrência, finalmente (e por último) plenamente desabrochadas.

Lisboa, 17 Março 2009
KWAME KONDÉ
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