INTERVENÇÃO VIGÉSIMA QUNITA:
Não há dúvida nenhuma, que a Noção de raça é uma ideia assaz duvidosa, porquanto quase sempre portadora, mesmo num campo intelectual ideologicamente asseptizado, de um imaginário irredutível.
Destarte, nesta dinâmica, se afigura pertinente, colocar a seguinte questão: espalhar-se-ia necessária e forçosamente o instinto popular arcaico de se identificar pelo sangue ou por qualquer analogia, salvo da qual surge a diferença, a “anomalia”constitutiva do Outro?
Com efeito, a raça é outrossim uma realidade posta em dúvida pela ciência (em ocorrência, a biologia) que acabou por estabelecer a sua não pertinência sem convencer todo um mundo que se fia ou se resolve no reconhecimento da materialidade física dos estigmas raciais.
Entretanto, de anotar, que melhor que todo este mundo, a antropologia (“ciência do Homem”), sobretudo no século XIX quando era a dominante física e biológica, trabalhou, no desígnio de creditar o facto racial, outorgando-se como objecto a raça, assegurando a promoção consequente da “raciologia” (disciplina que estuda os fenómenos raciais).
Por seu turno, a evolução da disciplina no século XX incidiu menos sobre a conclusão de uma irrealidade da raça à semelhança da genética que numa reconsideração da sua (ou do seu grau de) determinação da cultura e da história humana e social.
Na verdade, como selo visível de dissemelhanças entre os humanos, a raça possui o êxito e a perenidade de um escorço eficaz, acessível a todos, não recorrendo a nenhum esforço de pensamento e, a fortiori a nenhum acto de razão, para permitir a um indivíduo e ao grupo decidir ou “sentir”instintivamente que é como (e, por conseguinte, com) ele e que não o é!
Efectivamente e, sem sombra de dúvida, a raça é o lugar de re-apresentação imediata da diferença, o meio imaginário real de reconstrução contínua de determinadas diferenças físicas (irredutíveis?) pelas quais a Humanidade continua ainda se coligir em taxias/taxos (ordenações) e se outorgar em mosaico.
Não deixa de se afigurar assaz pertinente, trazer à colação a definição (aliás corrente) da lavra do paleontólogo francês, Henry Victor VALLOIS (1889-1981) autor da conhecida obra “Les races humaines”, ou seja: “ensemble de caractères physiques héréditaires comuns”, definição que, felizmente ou infelizmente tranquiliza a percepção do comum dos mortais que poderia quedar perturbado pelas opiniões da genética quanto à irrealidade ou a inconsistência da raça.
Todavia, o questionamento que induz esta definição, contudo correcta, desemboca na vertiginosa descoberta de conivências e analogias biológicas até físicas maciças inesperadas entre pessoas dissemelhantes.
Do mesmo modo, a solidez e a perseverança das diferenças genéticas biológicas e físicas em determinados casos, entre indivíduos e grupos pertencendo à mesma raça, contribui para a tomada de consciência que a noção de raça remete para fenómenos humanos colocados numa situação crítica pelo progresso dos saberes e pela inter-penetração ininterrupta das populações. Realiza-se, nesse caso (sendo assim) algo que os caracteres são rebeldes às fronteiras definidas pelo imaginário assiduamente alimentado por uma preocupação arcaica de protecção, de identificação e de separação dos “sangues”.
E, para terminar, vale a pena referir assertivamente que, no âmbito do pensamento negro africano dos dois derradeiros séculos, a questão que se prende com a raça esteve sobremaneira presente e, porque não, assiduamente, na ordem do dia, enformando acesos e vivos debates e, por inerência, da sua respectiva dinâmica interna, deu lugar a singulares tomadas de posição e, obviamente de intervenções assaz interessantes. De feito, foi abordada não unicamente, no plano literário pelos poetas que cantaram reactivamente o sangue negro, outrossim, porém, no plano teórico e científico, designadamente no quadro do processo de constituição de um “africanismo negro”.
Destarte, nesta dinâmica, se afigura pertinente, colocar a seguinte questão: espalhar-se-ia necessária e forçosamente o instinto popular arcaico de se identificar pelo sangue ou por qualquer analogia, salvo da qual surge a diferença, a “anomalia”constitutiva do Outro?
Com efeito, a raça é outrossim uma realidade posta em dúvida pela ciência (em ocorrência, a biologia) que acabou por estabelecer a sua não pertinência sem convencer todo um mundo que se fia ou se resolve no reconhecimento da materialidade física dos estigmas raciais.
Entretanto, de anotar, que melhor que todo este mundo, a antropologia (“ciência do Homem”), sobretudo no século XIX quando era a dominante física e biológica, trabalhou, no desígnio de creditar o facto racial, outorgando-se como objecto a raça, assegurando a promoção consequente da “raciologia” (disciplina que estuda os fenómenos raciais).
Por seu turno, a evolução da disciplina no século XX incidiu menos sobre a conclusão de uma irrealidade da raça à semelhança da genética que numa reconsideração da sua (ou do seu grau de) determinação da cultura e da história humana e social.
Na verdade, como selo visível de dissemelhanças entre os humanos, a raça possui o êxito e a perenidade de um escorço eficaz, acessível a todos, não recorrendo a nenhum esforço de pensamento e, a fortiori a nenhum acto de razão, para permitir a um indivíduo e ao grupo decidir ou “sentir”instintivamente que é como (e, por conseguinte, com) ele e que não o é!
Efectivamente e, sem sombra de dúvida, a raça é o lugar de re-apresentação imediata da diferença, o meio imaginário real de reconstrução contínua de determinadas diferenças físicas (irredutíveis?) pelas quais a Humanidade continua ainda se coligir em taxias/taxos (ordenações) e se outorgar em mosaico.
Não deixa de se afigurar assaz pertinente, trazer à colação a definição (aliás corrente) da lavra do paleontólogo francês, Henry Victor VALLOIS (1889-1981) autor da conhecida obra “Les races humaines”, ou seja: “ensemble de caractères physiques héréditaires comuns”, definição que, felizmente ou infelizmente tranquiliza a percepção do comum dos mortais que poderia quedar perturbado pelas opiniões da genética quanto à irrealidade ou a inconsistência da raça.
Todavia, o questionamento que induz esta definição, contudo correcta, desemboca na vertiginosa descoberta de conivências e analogias biológicas até físicas maciças inesperadas entre pessoas dissemelhantes.
Do mesmo modo, a solidez e a perseverança das diferenças genéticas biológicas e físicas em determinados casos, entre indivíduos e grupos pertencendo à mesma raça, contribui para a tomada de consciência que a noção de raça remete para fenómenos humanos colocados numa situação crítica pelo progresso dos saberes e pela inter-penetração ininterrupta das populações. Realiza-se, nesse caso (sendo assim) algo que os caracteres são rebeldes às fronteiras definidas pelo imaginário assiduamente alimentado por uma preocupação arcaica de protecção, de identificação e de separação dos “sangues”.
E, para terminar, vale a pena referir assertivamente que, no âmbito do pensamento negro africano dos dois derradeiros séculos, a questão que se prende com a raça esteve sobremaneira presente e, porque não, assiduamente, na ordem do dia, enformando acesos e vivos debates e, por inerência, da sua respectiva dinâmica interna, deu lugar a singulares tomadas de posição e, obviamente de intervenções assaz interessantes. De feito, foi abordada não unicamente, no plano literário pelos poetas que cantaram reactivamente o sangue negro, outrossim, porém, no plano teórico e científico, designadamente no quadro do processo de constituição de um “africanismo negro”.
Lisboa, 03 Março 2009
KWAME KONDÉ
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KWAME KONDÉ
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