quarta-feira, 4 de março de 2009

POLÍTICA À MODA DA GUINÉ

Como devem ter reparado, até agora não falei da Guiné Bissau, esse espaço verde ainda habitado . O que lá se passou ─ o assassinato, à catanada, do presidente Nino Vieira ─ constituiu o end off de uma longa série de assassinatos políticos desde 1975. Talvez entre mil e quinhentos a dois mil assassinatos; a maioria deles à conta de Nino e dos seus capangas.

Quando se analisa como as coisas parecem ter acontecido, fica-se com a ideia de que desta vez Nino queria também morrer ─ senão juntamente, pelo menos logo a seguir ao único inimigo político que lhe restava na Guiné, Tagmé Na Waié, chefe do estado maior general das forças armadas (escrevo tudo em minúsculas porque lá aquilo é mesmo assim) ─. Nino não gostaria talvez de ficar sozinho em palco enfrentando uma morte por doença ou mero acidente ─ não preparou a fuga e nem sequer organizou uma defesa pessoal minimamente eficaz. Ficou algumas horas em casa depois do assassinato de Tagmé, depois saiu a pé e sem guarda para ser levado de automóvel para a embaixada de Angola: tudo como alguém que saísse calmamente de casa para ir ao teatro àquela hora.

A coisa conta-se em poucas palavras: Nino terá ordenado a morte de Tagmé Na Waié; e os homens de Nino, em conluio com gente ligada ao narcotráfico, terão encomendado uma bomba fabricada no exterior, para o efeito. Quando a bomba chegou à Guiné, houve quem soube e avisou o general Tagmé. Tagmé terá reunido os seus homens mais próximos dizendo-lhes então: «a bomba chegou; eu morro de manhã e Nino morre à tarde». E foi quase assim: Tagmé foi assassinado à bomba, à noite, e poucas horas depois os seus homens interceptaram Nino que numa tentativa de fuga (não preparada) foi facilmente dominado e lascado à catanada antes de lhe darem o tiro de misericórdia ou talvez de certificação de óbito.

Um guineense disse-me hoje: ─ «era mesmo isso que Nino merecia, ele merecia levar primeiro porrada (sic) antes de lhe limparem o sebo, e foi o que fizeram; e foi bem lembrado que o tenham morto à catanada porque ele era um bárbaro; agora a Guiné vai entrar nos eixos» ─.

Mas entrará a Guiné nos eixos?!... Quando ainda há gente que acha que fazer de um chefe de estado picado de carne é que é?!...

Duvido muito!

Nota: Se quiser confirmar que tudo isto era mais que previsível, leia aqui tudo o que se tem escrito neste blogue sobre a Guiné-Bissau e fique esclarecido.
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