sábado, 27 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA QUINTA:

“Quanto mais cresce o poder dos homens, tanto mais
Se estende e se alarga a sua responsabilidade”.
Concílio Vaticano II, Guardium et spes, 34


(A) Indiscutível e indubitavelmente, todos os Seres Humanos, sem excepção são responsáveis pelo Ambiente. Um consumo muito elevado não proporciona automaticamente uma melhor qualidade de vida. Urge, por isso mesmo e, ipso facto repensar o nosso modelo de desenvolvimento. Obviamente et pour cause, será bom estabelecer um estilo de vida sóbrio, que se contente com governar a Natureza sem tiranizá-la, vinculando o Trabalho à contemplação. Por seu turno, a lealdade e fidelidade à vocação integral do Homem, à Comunhão, ao Trabalho e ao Repouso é caução e garantia para a Dignidade da Pessoa e, outrossim, para a protecção e preservação respectiva da Natureza.

(B) Com efeito, a missão de tomar posse e governar não justifica a prática agressiva e destruidora. Demais e, por outro, a Natureza não nos foi outorgada como uma matéria informe. Sim, como um mundo já bom e quão belo. É verdade que a Natureza não é divina, nem intocável. É apenas uma obra-prima da Criação, sendo, de facto, uma obra harmoniosa, fruto da Sabedoria criadora e ordenadora. Donde, evidentemente, o Trabalho do Homem deverá ser sobremaneira ordenador, quanto melhor possa o seu engenho.


(C) O Homem, destarte é, por inerência óbvia, convocado desde os primórdios dos tempos mais remotos para aperfeiçoar e acrisolar a Natureza e não o contrário. Todavia, em vez de edificar uma digna morada humana, arrisca-se a tornar a Terra inabitável. Quiçá pela libertação o Homem reencontra a harmonia com a Natureza. Eis porque, consequentemente o uso deve ser respeitador e deve ter em conta, tanto a originalidade de cada criatura como, outrossim, a conexão mútua e recíproca, num sistema magistral e exemplarmente ordenado. Podemos e devemos orientar as coisas para o nosso bem, porém, desenvolvendo e aperfeiçoando uma finalidade determinada. Enfim, além disso, devemos ponderar e considerar o Bem das gerações vindouras e, não só, o da nossa.


(D) Assumidamente, o Primado do Homem sobre as coisas não significa o poder de usar e de abusar. O seu Trabalho deve-se desenvolver, numa base de Doação, a mais elevada possível, humanamente exprimindo. De feito, mais que proprietário, ele é Administrador e, por isso mesmo, tem de prestar contas. Lamentavelmente, “o homem, levado mais pelo desejo de ter e de prazer do que pelo de Ser e de crescer, consome de forma excessiva e desordenada os recursos da Terra e da própria Vida”.

(E) Efectivamente, a mentalidade destruidora é tão vetusta e prístina como o género humano, aliás. Contudo, no passado, os danos permaneciam circunscritos pelo escasso número de habitantes e, outrossim, pela limitada capacidade tecnológica. Todavia, a civilização industrial hodierna, que, demais, possui o mérito de ter levado o bem-estar a populações inteiras, possui, pelo contrário, uma agressividade muitíssimo atemorizadora. Por outro, por sua vez, a exploração indiscriminada arrisca-se a esgotar os recursos não renováveis da Terra. E, já agora, a poluição ambiental acumula-se, de modo assaz célere e rapidamente, ameaçando, ipso facto, provocar consequências em cadeia. Finalmente, as manipulações genéticas abrem caminho a importantes objectivos, outrossim, porém, a eventuais e possíveis catástrofes biológicas. Eis porque, o sistema que mantém juntos os seres vivos se afigura, como jamais, assaz complexo, porém, quão vulnerável.

(F) No fundo, no fundo, não se trata de uma matéria amorfa ou de um mero facto objectivo, porém, sim, de uma Ordem e de um Desígnio a interpretar, de uma linguagem a escutar e compreender, de uma verdade e beleza a contemplar. E, rematando, não há dúvida nenhuma, que a violação arbitrária é índice de “uma pobreza e mesquinhez de visão humana, mais animada pelo desejo de possuir as coisas do que relacioná-las com a Verdade, privado do comportamento desinteressado, gratuito, estético que brota do assombro diante do ser e da beleza, que leva a ler, nas coisas visíveis, a Egrégia Mensagem oriunda do Invisível que as criou”.

(G) Enfim:

…A Natureza pode e deve ser utilizada para objectivos
Humanos porém, deve, outrossim, ser contemplada
E respeitada. Pois, só, deste modo, se tornará
Veridicamente, “uma morada da Paz”.

Lisboa, 26 Dezembro 2008.
KWAME KONDÉ