terça-feira, 19 de julho de 2011

Temas para Reflexão:

Peça ensaística Quinta:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

                                    Prosseguindo o nosso Estudo, temos (então), a expender (ainda), o seguinte:

(1)    O acesso a condições de vida (e de existência), da qual a burguesia dava o exemplo constituiu, desde o século XIX, um dos estimulantes (mais relevantes), para tornar suportável o esforço exigido às outras classes e o efeito desmoralizador desta ordem nova das coisas (repercutido pelos médias sob a forma de reportagens, romances, filmes, ficções televisivas), é algo (assaz), comum.
(2)    De sublinhar (por outro), que a escalada de um cepticismo crescente quanto a capacidade das instituições capitalistas (como a OCDE, o FMI ou o Banco Mundial), das multinacionais ou dos mercados financeiros em manter para as gerações (actualmente), escolarizadas, o nível de vida económico e (mais usualmente), o estilo de vida, que foi o dos seus pais, é (disso), uma das manifestações (mais evidentes). Ela se acompanhou (particularmente), no decurso dos três últimos anos de uma exigência social crescente de pensamento crítico susceptível de dar expressão à esta inquietação difusa e do mesmo modo fornecer (pelo menos), ferramentas/utensílios de inteligibilidade (o melhor possível), uma orientação para a acção. Ou seja: Neste caso (em concreto), uma Esperança!
(3)    Ora, forçoso é verificar, que a crença no progresso (associada ao capitalismo desde o início do século XIX, no entanto, sob formas variáveis), que tinha constituído, desde a década de cinquenta do século XX, o credo das classes medias, que se afirmaram de “esquerda” ou de “direita”, não encontrou substituto, excepto um chamamento (pouco entusiasmante) “das duras leis da economia” (rapidamente) estigmatizado sob a denominação de “pensamento único”. Ao mesmo tempo, as vetustas ideologias críticas anti-sistémicas (para retomar o vocábulo) de IMMANUEL WALLERSTEIN malogravam, na sua função de destabilização da ordem capitalista e (já não) apareciam como portadoras de alternativas credíveis.

(4)     A desorganização ideológica foi (deste modo) um dos traços (mais manifestos) destas derradeiras décadas, marcadas pela decomposição das representações associadas ao compromisso sócio-económico que se implantara após a Guerra, sem que nenhum pensamento crítico apareça (estar em condições de) acompanhar as mudanças em curso (em parte), pois que os únicos recursos críticos mobilizáveis tinham sido constituídos para denunciar o género de sociedade que atingiu o seu apogeu na charneira da década de 1960 e dos anos de 1970, isto é (precisamente), mesmo antes que se inicie a grande transformação cujos efeitos fazem (presentemente), sentir com toda a sua força.
(5)    De anotar (infelizmente e antes de mais), que os dispositivos críticos disponíveis não oferecem (por agora), nenhuma alternativa de envergadura. Resta (unicamente), a indignação (no estado bruto), o trabalho humanitário e o sofrimento (posto em espectáculo) e (sobretudo), desde as greves de Dezembro 1995, das acções centradas sobre causas específicas (a habitação, os “sem papéis”, etc.), aos quais carece (ainda, para tomar amplidão), representações (mais ajustadas), modelos de análise renovados e uma utopia social.
(6)    Se a (curto prazo), o capitalismo (já não) suporta melhor as suas forças, tendo encontrado para se libertar (amplamente), em alguns anos de uma fracção de entraves acumulados, no decurso do último século, poderia (bem outrossim), ser conduzido à uma das crises (potencialmente), mortais que já (jamais) defrontara.
(7)    Na verdade (sem falar) dos efeitos sistémicos de uma libertação ilimitada da esfera financeira que começam a inquietar, até aos responsáveis das instituições do capitalismo, se afigura (assaz), duvidoso que o capitalismo deveria reencontrar, no plano da ideologia, dificuldades crescentes se não redra razões de esperar a todos (os) cujo comportamento é necessário para o funcionamento do sistema, na sua totalidade.
(8)    De anotar, outrossim (e enfim), que nos anos do após Guerra, o capitalismo devia se transformar para responder a inquietação e a força de revindicação de gerações da burguesia e da pequena burguesia, cuja esperança de mobilidade ascendente (quer seja mantida pela poupança ou pela redução da fecundidade), ou de conservação das vantagens obtidas, se encontrassem decepcionada. É uma evidência, que um sistema social que (já não) tem êxito para satisfazer as classes (que é suposto), servir com prioridade (isto é, no caso concreto do capitalismo, a burguesia), está ameaçado (quais forem as razões), para as quais (já não) atinge e que não são todas domáveis pelos actores, que detêm ou julgam deter o poder.


O
OOOOO
(I):
            Vendo bem, se nos depara (presentemente), o seguinte panorama, que vale a pena conhecer (por motivos assaz óbvios):
            --- As instâncias políticas de “esquerda” (mas outrossim), as de “direita”, assim como os sindicatos e os intelectuais, cuja uma das vocações é (não obstante) ponderar sobre os processos económicos, de modo a criar as condições de uma salutar vida para o Homem, não tendo levado ao seu termo o trabalho de análise (que consiste) em compreender porquê não podiam impedir um re-desenvolvimento do capitalismo tão custoso (em termos humanos) e tinham (mesmo), em múltiplas ocasiões, favorecido (voluntária ou involuntariamente), este movimento, não tiveram outra alternativa, escolher entre duas posições, segundo a nossa opinião não satisfatória. Ou seja:
                        De um lado, a utopia de um retorno a um passado idealizado (com as suas nacionalizações, a sua economia pouco internacionalizada, o seu projecto de solidariedade social, a sua planificação do Estado e os seus sindicatos (que falam), alto e forte).
                        Do outro: o acompanhamento (frequentemente), entusiasta das transformações tecnológicas, económicas e sociais (que abrem o País, os países ao Mundo), que realizam uma Sociedade mais liberal e mais tolerante, que multiplicam as possibilidades de desabrochamento pessoal e que fazem (continuamente), recuar os limites da condição humana.

(II):
            O que é facto é que (realmente), nenhuma das duas posições ora (enunciadas), permite resistir (na verdade), aos desgastes ocasionados pelas novas formas que assumiram as actividades económicas. Explicitando, adequadamente:
                        A primeira porque cega ao que torna o neo-capitalismo sedutor para uma número de pessoas e que subestima a ruptura operada.
                        Por sua vez, a segunda: porque (ela), minimiza os efeitos devastadores.
                                    Interessante (sublinhar), que (conquanto), polemizando entre si, têm para efeito comum difundir um sentimento de impotência e (impor), uma problemática dominante (crítica do neo-liberalismo versus balança globalmente positiva da mundialização) e de encerrar o campo dos possíveis.

(III)
                        Tudo quanto temos vindo a expender (de modo avisado), tem como objectivo primordial reforçar a resistência ao fatalismo (sem por essa razão), encorajar a retirada num passadismo nostálgico e suscitar no leitor, uma mudança de disposição, ajudando-o a considerar (de outro modo), os problemas do tempo, sob um outro enquadramento (isto é), como tantos processos sobre os quais é possível ter influência.
                        Eis porque, se nos afigura (assaz útil e oportuno), para este efeito, abrir a “caixa negra” dos trinta últimos anos para observar o modo como os homens edificam a sua história. É (com efeito), porque (ela), constitui (voltando ao momento), em que as coisas se decidem e fazendo ver que (elas), teriam podido assumir uma direcção dissemelhante, o utensílio/ferramenta (por excelência) da desnaturalização do social que a História participou vinculada à crítica.

(IV)
                        De facto, neste nosso Estudo, temos envidado:
                        Por um lado, descrever uma conjuntura única na qual o capitalismo pôde se libertar de um certo número de obstáculos vinculados ao seu modo de acumulação anterior às demandas da justiça que (ele) tinha suscitado e,
                        Por outro, em estabelecer (apoiando-se), neste período histórico, um modelo da mudança dos valores dos quais dependem (simultaneamente), o triunfo e o carácter tolerável do capitalismo (que visa) à uma legitimidade mais lata.

(V)
                        Temos (outrossim e, ainda), deste modo revisitado a evolução (supostamente), inelutável dos trinta últimos anos, relevando os problemas que deveram defrontar os homens das empresas (designadamente), pelo facto de uma elevação (sem precedente), desde o após Guerra do nível de crítica, as suas tentativas para enfrentar ou escapar a estas dificuldades, o papel das propostas e das análises oriundas da crítica nas soluções que (eles) escolheram ou puderam lançar mão.

(VI)
                        Finalmente, vale a pena sublinhar (com ênfase), que a intenção que nos norteara, neste nosso Estudo ensaístico, não era (unicamente), sociológica (virada para o conhecimento). Sim (efectivamente), orientada (identicamente) para um relançamento da acção política (entendida esta) como organização e utilização de uma vontade colectiva quanto a forma de viver e existir.
                        Com efeito, “se toda a acção não é por certo, a todo instante possível, nada é todavia possível, enquanto serão olvidadas a especificidade e a legitimidade da acção”, servindo-se (criticamente), dos ensinamentos da lavra da pensadora norte-americana de origem alemã, HANNAH ARENDT (1906-1975), extraídos dos seus escritos de 1983, dizíamos, entendida como escolha orientada por valores em conjunturas únicas (por conseguinte), incertas e cujas consequências são (parcialmente), imprevisíveis, em benefício de um recuo satisfeito ou apavorado, optimista ou catastrófica, no âmbito da matriz acolhedora dos determinismos, que se assumem como sociais, económicas ou biológicas.

                                    E, em jeito de Remate arvorado, sob o Signo de uma interrogação assertiva, temos:
                        Visto que (como o ensinava dextramente), o economista e sociólogo alemão, MAX WEBER (1864-1920), com efeito, “sem o recurso de um “ponto de vista”comprometendo valores, como seria possível seleccionar unicamente, no fluxo enredado do que advém, o que merece ser relevado, analisado, descrito?”

Lisboa, 18 Julho 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).