quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A PARTITURA QUEIMADA

O PSD tem actualmente um mal que não é pequeno. Abstraindo das enormíssimas pressões escandalosamente feitas sobre Passos Coelho para viabilizar o Orçamento, continua a haver no PSD um mal que tem a ver com os autores principais da partitura política que Passos Coelho está a interpretar (umas vezes com fífias evidentes, outras com desafinações inadmissíveis, outras ainda usando o instrumento errado).

Dos três autores (Ângelo Correia, Nogueira Leite e Miguel Relvas) só um merece, ao que parece, o benefício da dúvida ― falo de Nogueira Leite em relação a quem apenas se anota como algo intrigante o facto de não ter uma boa relação com a Língua Portuguesa (escrita) apesar de ser doutorado.

Pode-se perguntar: ― mas o que é que isso tem a ver com a competência técnica do indivíduo? ― Nada senão isto, digo eu, e continuo a resposta usando como minhas as palavras que uma vez o saudoso Prof. Brito Cardeira (Dermatologista) disse um dia a um aluno que chumbara no exame:

“Senhor Pedro, tenho imensa pena, mas não posso aprovar um aluno que esteja na universidade e não saiba falar bem Português; o senhor não pode começar as respostas com uma palavra que é conclusiva (a palavra “portanto”); vá aprender a responder a perguntas e venha cá na segunda época, está bem?!”

É isso! ― Melhorando o discurso, acho Nogueira Leite credível e ministeriável, sem nenhum problema.

Ângelo Correia é bem conhecido. É o homem da celebérrima “Revolução dos Pregos”; gosta de se ouvir e de se ver ao espelho e, como se costuma dizer, “nunca deu nada para a caixa” das vezes que passou pelo governo. É um entertainer. E Portugal, do que menos precisa é de entertainers ― já os tem a mais.

E agora, Miguel Relvas. Uma metralhadora falante, com silenciador; que tem um modo de falar, uma dicção, tipo máquina de lamber mortalhas: alguém que gosta de passar freneticamente a língua “cusposa” pelas mortalhas dos cigarros de tabaco de enrolar. Fala, fala, fala... e no fim nada fica do que diz, apenas se fica com a sensação de que andou a enrolar uma carteira de mata-ratos só porque é essa a sua função.

Para vendedor de banha da cobra Sócrates é de longe muitíssimo melhor que Miguel Relvas: Sócrates é capaz de nos vender o nosso próprio relógio sem darmos por isso. Relvas é diferente. Para muito pior. É do tipo que quando começa a falar e a mostrar a máquina fotográfica que traz no saco plástico, a gente diz logo: “é pá, eu já conheço esta, não chateies!”

Fica-se então com Passos Coelho e dois terços de Nogueira Leite. É muito pouco para governar um país ― Eis o problema actual do PSD ―. A equipa é fraquíssima e ainda por cima está a ser perseguida por uma catrefada de empresários e banqueiros, de isqueiros acesos prontos para queimarem a partitura e deixarem no ar a musiquinha que o PS de Sócrates tem dado ao povo e ao país.

Se Passos Coelho quer fazer alguma coisa de jeito e que se veja, dê ordem de chumbo do Orçamento. Não há mais nada que possa fazer. Qualquer que seja o desfecho ― vai, vão de certeza, para casa, antes das próximas legislativas. É certinho como o destino!