INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA SEGUNDA:
(A)-Na verdade, qualquer que seja o período que se considera, a África aparece como um cruzamento de línguas e culturas diversas. De feito, apenas no âmbito linguístico, é realmente, o Continente mais diversificado do Planeta. Demais, é, unicamente na duração que a “África” principia a aparecer. Assim, efectivamente, no âmbito desta dinâmica, enquanto massa continental, se estende do cabo de Boa Esperança ao delta do Nilo, englobando simultaneamente Marrocos e Moçambique. Todavia, muitos dos seus habitantes, identicamente numerosos Americanos e Europeus, não a consideram como uma entidade unificada e fazem uma distinção nítida entre a “África do Norte” e a “África sub-sariana”ou “África negra”. De anotar, que a linha de divisão é frequentemente entendida, em termos raciais, ou seja: a África é o lugar donde são oriundos os Negros.
(B)- O eminente filósofo ganense/ganês, o docente universitário Kwame Anthony APPIAH (n-1954), Professor de Filosofia na Universidade Laurence S. Rockefeller e, outrossim, membro do Centro para os Valores Humanos da Universidade de Princepton – dizíamos – de modo abertamente consequente, assumiu a seguinte interpelação, ou seja: como representar a “África” se recusa a classificação das populações do mundo em grupos raciais? Classificação que todos sabem, que os biólogos reputaram sem fundamento. Assumidamente, os Africanos são, outrossim, dissemelhantes entre si, como o são de toda outra pessoa sobre terra e, unicamente, erigindo a cor da pele como critério supremo que se lhe pode declarar que os Africanos formam uma raça única? Por outro, pode-se, todavia, considerar que os habitantes, vivendo ao sul do Sara formam um único e mesmo povo, na ausência de raça?
E, prosseguindo a nossa interpelação, de cariz eminentemente pedagógico, sempre na esteira e peugada do filósofo APPIAH, temos ainda que:
--- O facto que aproximadamente um terço de entre eles sejam muçulmanos não significa, afinal de contas, que se deveria os classificar juntamente com os seus correligionários muçulmanos da África do Norte, quer estes últimos se consideram ou não, eles próprios africanos?
--- A pretensa solidez dos vínculos de parentesco entre Africanos, o respeito generalizado que as pessoas, dos Zulos aos Uólofes/Wolofs, manifestam para com os seus primogénitos e os seus antepassados e o papel central das relações sociais individuais nas aldeias não definem uma colectividade cultural através de todo o Continente, facto que influenciou os descendentes dos Africanos no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos da América?
--- Ou ainda, o que todos os Africanos possuem em comum é, outrossim, o que é comum na maior parte das comunidades “campesinas”?
--- E, outrossim e, ainda, o que as pessoas designam por “cultura” em África, corresponde algures a traços duradouros e comuns, ou a esquemas de adaptação em permanente evolução (em presença) e perante às situações novas?
(C) De sublinhar, assertivamente, que a resposta de APPIAH não depende da existência, ou não, de uma correspondência entre as culturas africanas, quaisquer que sejam as suas analogias ou as suas discrepâncias e a cor da pele. Na verdade, ele afirma que o vocábulo “África” possui, efectivamente, um sentido e, que este sentido é histórico. De feito, aliás, desde à partir do século XVI, os negreiros europeus se puseram a considerar diversos portos africanos como centros de compra de mão-de-obra escrava, servindo as características físicas dos escravos de critério para determinar quem, de um lado do Atlântico, podia ser comprado e, de outro lado, ser suposto tornar escravo.
(D) Todavia, se a África foi definida, primeiramente, pelo aspecto, o mais horrível da sua história, o sentido do vocábulo “África”principiou a mudar no seio mesmo da diáspora africana. Com efeito, os indivíduos escravizados e os seus descendentes principiaram a se considerar “africanos”e, não mera e simplesmente como a propriedade de outras pessoas. Sim, efectivamente eram indivíduos que procediam de algures. E, explicitando adequadamente, deste modo, nos Estados Unidos da América, alguns cristãos descendentes de escravos principiaram a se considerar “etíopes”não porque os seus antepassados provinham desta região de África, sim, efectivamente, este facto evocava as narrativas bíblicas do rei Salomão e da rainha de Sabá. Eis porque, deste modo, a Etiópia ou a África assinalava o seu lugar numa história universal. E, na sequência, determinados intelectuais afro-americanos proclamaram que os antigos Egípcios eram Negros de África e que via Egipto, a África contribuíra, de molde, decisiva, para o desenvolvimento e o engrandecimento respectivo das civilizações helena, romana e do Mundo inteiro. Enfim, se afigura importante, consignar, com ênfase, que, na realidade, é que a África se revelou, na sua plenitude, quando uma diáspora afirmou o seu lugar no Mundo.
(E) Destarte, o estudo das redes que sulcavam o oceano Atlântico, o oceano Índico, o deserto de Sara e o próprio Continente Africano, outorga da África uma imagem dissemelhante dos estereótipos vinculados às “tribos” africanas. Por seu turno, intelectuais muçulmanos da África do Sahel ocidental atravessavam o deserto para se dirigir para a África do Norte ou iam para o Egipto ou para a Arábia Saudita para estudar ou cumprir uma peregrinação. Outrossim e, ainda, de referir, que redes islâmicas análogas se estendiam ao longo da costa este africana e no interior do Continente, até aos lagos Vitória e Tanganhica. Já, no interior da África, alguns reinos ou impérios englobavam populações de culturas diversas, assimilando-os, por vezes, acordando, em determinadas circunstâncias, uma autonomia cultural considerável, exigindo, integralmente, neste caso, submissão e impostos. Finalmente, em determinadas demais outras regiões, grupos de uma idêntica família se reconheciam afinidades com parentescos distantes de centenas de quilómetros.
E, prosseguindo, esclarecida e elucidadamente, este nosso Estudo, temos, então, complementarmente que:
(1) A diversidade cultural era, decerto, real e, numa determinada medida, identicamente, verídica que a especificidade cultural se transformava, por vezes, num sentimento de pertença a um “povo” distinto. Porém, a distinguibilidade, ora enunciada, não era sinónimo de isolamento e, demais, não apagava as inter-conexões, as relações e as influências mútuas. Efectivamente, a carta cultural da África está marcada por graduações de dissemelhanças e de vínculos e, não por uma série de espaços herméticos, cada qual com a “sua” cultura respectiva, o “seu” idioma e o “seu” sentimento de unicidade. Na verdade e, por certo, um empreendedor político, tentando mobilizar “o seu” povo para defender os seus interesses podia se apoiar sobre um sentimento de grupo, todavia, isso funcionava, do mesmo modo, para um organizador político ou religioso que tentasse pôr em contacto povos separados por débeis ou grandes distâncias. De anotar, que a tendência que a dominava dependia das circunstâncias históricas e, não de uma suposta unidade racial ou singularidade cultural africana.
(2) Nos meados do século XX pretérito, o vocábulo “África” recobre várias significações políticas. Donde e daí:
---Para um pan-africanista, a unidade pertinente era a diáspora.
---Já para o psiquiatra, escritor e ensaísta antilhano, de ascendência africana, Frantz FANON (1925-1961) (quiçá, o maior pensador do século XX passado, no âmbito dos temas da descolonização e da psicopatologia da colonização) – dizíamos – a política era determinada pelo imperialismo e, eis porque, recusava a ideia de nação negra para lhe preferir a de unidade dos povos oprimidos pela colonização.
Deste modo, no âmbito desta dinâmica, quando o Presidente egípcio Gamal Abd Al NASSER (1918-1970) desafiou as potências estrangeiras, designadamente a britânica, a francesa, a norte-americana e a israelita no Médio Oriente, tornou-se, para numerosos Africanos, o símbolo de um dirigente autenticamente nacional.
Demais, outrossim e, ainda, na década de cinquenta do século XX pretérito, as lutas comuns travadas contra as potências coloniais, visando a construção de economias nacionais e, em prol da dignidade nacional, deram origem à uma concepção militante do “Terceiro mundo”, nem capitalista e, nem comunista, unindo, todavia, a Ásia, a América latina e a África contra o “Norte” – contra as potências “imperialistas”.
Enfim, no âmbito desta perspectiva, temos de referir também, que outros dirigentes políticos procuraram uma unidade especificamente africana, limitada ao Continente.
E, finalmente, demais outros, ainda e, outrossim, se opuseram acerca das bases ideológicas e estabeleceram alianças com blocos de influência conduzidos pelos Estados Unidos da América ou com a União Soviética.
(3) De sublinhar, que os vínculos internacionais não convinham apenas aos militantes políticos. Com efeito, Africanos, desejando efectuar estudos, encetando uma carreira na ONU ou, em demais outras organizações internacionais, ou migrante para economias europeias que, nesse momento, pretendiam a sua respectiva força de trabalho nos próprios solos — tornaram, cada vez mais, numerosos na Europa, na União Soviética e nos Estados Unidos da América do Norte. Na verdade, possuíam, ora contactos com os autóctenes, ora formavam comunidades de origem relativamente independentes, outrossim, ainda, possuíam vínculos mais estreitos com demais outros migrantes de ascendência africana.
E à guisa de remate/conclusão seria, todavia um erro crasso, substituir a visão quão errónea e, assaz adulterada de uma África de tribos isoladas por de uma África submersa numa rede infinita de movimentos e de permutas. De feito, em África, a população era desproporcionadamente distribuída, num enorme espaço, por outras palavras e, para melhor dizer, as deslocações eram possíveis, no entanto, sobremaneira, onerosos os transportes. Na verdade, lucrativo era permutar bens de grande valor, inexistentes em determinadas regiões, contudo menos rentável que construir densas redes de permutas e de relações diversificadas.
Por outro, de consignar, que os dirigentes africanos podiam encontrar lugares susceptíveis de assegurar a prosperidade dos seus povos, porém, havia identicamente demais outros sítios, onde as pessoas podiam se refugiar e sobreviver, o que tornava difíceis a consolidação do poder e a intensificação da exploração. Demais, as permutas com o resto do mundo eram habitualmente muito especializadas — horrivelmente especializadas, no caso concreto, do comércio dos escravos, designadamente. De anotar, destarte, que os centros de produção específicos – de ouro ou de óleo de palma, por exemplo – ou as estradas comerciais específicas – a do marfim, que ligava o interior do Este africano à costa -funcionavam assaz bem. Todavia, a sua acção respectiva foi criar vínculos particulares, exclusivos, entre o interior da África e as economias exteriores à África e, não de desenvolver uma economia regional densa e diversificada.
De sublinhar, que após a conquista europeia, as economias coloniais construíram, caminhos ferroviários e estradas respectivas, para fazer escoar o cobre ou o cacau e fazer entrar os produtos manufacturados europeus, canalizando, deste modo, o movimento dos bens, das pessoas e das ideias para a metrópole e, não para o conjunto do mundo.
Efectivamente, os regímenes coloniais edificaram uma grande parte do seu poder na sua capacidade para controlar os pontos nodais chaves, tais como os portos em águas profundas, de um sistema de transportes e de comunicações relativamente limitado.
Enfim, os Africanos procuraram criar as suas próprias redes: estradas comerciais no seu próprio Continente com conexões políticas, com demais outros povos colonizados. De anotar, com, um certo e determinado êxito. Porém, quando os impérios coloniais se desmoronaram, os dirigentes africanos foram, outrossim, confrontados, com a tentação de reforçar o seu controlo nestas redes limitadas, de preferência, antes que ampliar e multiplicar os vínculos através do espaço.
(B)- O eminente filósofo ganense/ganês, o docente universitário Kwame Anthony APPIAH (n-1954), Professor de Filosofia na Universidade Laurence S. Rockefeller e, outrossim, membro do Centro para os Valores Humanos da Universidade de Princepton – dizíamos – de modo abertamente consequente, assumiu a seguinte interpelação, ou seja: como representar a “África” se recusa a classificação das populações do mundo em grupos raciais? Classificação que todos sabem, que os biólogos reputaram sem fundamento. Assumidamente, os Africanos são, outrossim, dissemelhantes entre si, como o são de toda outra pessoa sobre terra e, unicamente, erigindo a cor da pele como critério supremo que se lhe pode declarar que os Africanos formam uma raça única? Por outro, pode-se, todavia, considerar que os habitantes, vivendo ao sul do Sara formam um único e mesmo povo, na ausência de raça?
E, prosseguindo a nossa interpelação, de cariz eminentemente pedagógico, sempre na esteira e peugada do filósofo APPIAH, temos ainda que:
--- O facto que aproximadamente um terço de entre eles sejam muçulmanos não significa, afinal de contas, que se deveria os classificar juntamente com os seus correligionários muçulmanos da África do Norte, quer estes últimos se consideram ou não, eles próprios africanos?
--- A pretensa solidez dos vínculos de parentesco entre Africanos, o respeito generalizado que as pessoas, dos Zulos aos Uólofes/Wolofs, manifestam para com os seus primogénitos e os seus antepassados e o papel central das relações sociais individuais nas aldeias não definem uma colectividade cultural através de todo o Continente, facto que influenciou os descendentes dos Africanos no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos da América?
--- Ou ainda, o que todos os Africanos possuem em comum é, outrossim, o que é comum na maior parte das comunidades “campesinas”?
--- E, outrossim e, ainda, o que as pessoas designam por “cultura” em África, corresponde algures a traços duradouros e comuns, ou a esquemas de adaptação em permanente evolução (em presença) e perante às situações novas?
(C) De sublinhar, assertivamente, que a resposta de APPIAH não depende da existência, ou não, de uma correspondência entre as culturas africanas, quaisquer que sejam as suas analogias ou as suas discrepâncias e a cor da pele. Na verdade, ele afirma que o vocábulo “África” possui, efectivamente, um sentido e, que este sentido é histórico. De feito, aliás, desde à partir do século XVI, os negreiros europeus se puseram a considerar diversos portos africanos como centros de compra de mão-de-obra escrava, servindo as características físicas dos escravos de critério para determinar quem, de um lado do Atlântico, podia ser comprado e, de outro lado, ser suposto tornar escravo.
(D) Todavia, se a África foi definida, primeiramente, pelo aspecto, o mais horrível da sua história, o sentido do vocábulo “África”principiou a mudar no seio mesmo da diáspora africana. Com efeito, os indivíduos escravizados e os seus descendentes principiaram a se considerar “africanos”e, não mera e simplesmente como a propriedade de outras pessoas. Sim, efectivamente eram indivíduos que procediam de algures. E, explicitando adequadamente, deste modo, nos Estados Unidos da América, alguns cristãos descendentes de escravos principiaram a se considerar “etíopes”não porque os seus antepassados provinham desta região de África, sim, efectivamente, este facto evocava as narrativas bíblicas do rei Salomão e da rainha de Sabá. Eis porque, deste modo, a Etiópia ou a África assinalava o seu lugar numa história universal. E, na sequência, determinados intelectuais afro-americanos proclamaram que os antigos Egípcios eram Negros de África e que via Egipto, a África contribuíra, de molde, decisiva, para o desenvolvimento e o engrandecimento respectivo das civilizações helena, romana e do Mundo inteiro. Enfim, se afigura importante, consignar, com ênfase, que, na realidade, é que a África se revelou, na sua plenitude, quando uma diáspora afirmou o seu lugar no Mundo.
(E) Destarte, o estudo das redes que sulcavam o oceano Atlântico, o oceano Índico, o deserto de Sara e o próprio Continente Africano, outorga da África uma imagem dissemelhante dos estereótipos vinculados às “tribos” africanas. Por seu turno, intelectuais muçulmanos da África do Sahel ocidental atravessavam o deserto para se dirigir para a África do Norte ou iam para o Egipto ou para a Arábia Saudita para estudar ou cumprir uma peregrinação. Outrossim e, ainda, de referir, que redes islâmicas análogas se estendiam ao longo da costa este africana e no interior do Continente, até aos lagos Vitória e Tanganhica. Já, no interior da África, alguns reinos ou impérios englobavam populações de culturas diversas, assimilando-os, por vezes, acordando, em determinadas circunstâncias, uma autonomia cultural considerável, exigindo, integralmente, neste caso, submissão e impostos. Finalmente, em determinadas demais outras regiões, grupos de uma idêntica família se reconheciam afinidades com parentescos distantes de centenas de quilómetros.
E, prosseguindo, esclarecida e elucidadamente, este nosso Estudo, temos, então, complementarmente que:
(1) A diversidade cultural era, decerto, real e, numa determinada medida, identicamente, verídica que a especificidade cultural se transformava, por vezes, num sentimento de pertença a um “povo” distinto. Porém, a distinguibilidade, ora enunciada, não era sinónimo de isolamento e, demais, não apagava as inter-conexões, as relações e as influências mútuas. Efectivamente, a carta cultural da África está marcada por graduações de dissemelhanças e de vínculos e, não por uma série de espaços herméticos, cada qual com a “sua” cultura respectiva, o “seu” idioma e o “seu” sentimento de unicidade. Na verdade e, por certo, um empreendedor político, tentando mobilizar “o seu” povo para defender os seus interesses podia se apoiar sobre um sentimento de grupo, todavia, isso funcionava, do mesmo modo, para um organizador político ou religioso que tentasse pôr em contacto povos separados por débeis ou grandes distâncias. De anotar, que a tendência que a dominava dependia das circunstâncias históricas e, não de uma suposta unidade racial ou singularidade cultural africana.
(2) Nos meados do século XX pretérito, o vocábulo “África” recobre várias significações políticas. Donde e daí:
---Para um pan-africanista, a unidade pertinente era a diáspora.
---Já para o psiquiatra, escritor e ensaísta antilhano, de ascendência africana, Frantz FANON (1925-1961) (quiçá, o maior pensador do século XX passado, no âmbito dos temas da descolonização e da psicopatologia da colonização) – dizíamos – a política era determinada pelo imperialismo e, eis porque, recusava a ideia de nação negra para lhe preferir a de unidade dos povos oprimidos pela colonização.
Deste modo, no âmbito desta dinâmica, quando o Presidente egípcio Gamal Abd Al NASSER (1918-1970) desafiou as potências estrangeiras, designadamente a britânica, a francesa, a norte-americana e a israelita no Médio Oriente, tornou-se, para numerosos Africanos, o símbolo de um dirigente autenticamente nacional.
Demais, outrossim e, ainda, na década de cinquenta do século XX pretérito, as lutas comuns travadas contra as potências coloniais, visando a construção de economias nacionais e, em prol da dignidade nacional, deram origem à uma concepção militante do “Terceiro mundo”, nem capitalista e, nem comunista, unindo, todavia, a Ásia, a América latina e a África contra o “Norte” – contra as potências “imperialistas”.
Enfim, no âmbito desta perspectiva, temos de referir também, que outros dirigentes políticos procuraram uma unidade especificamente africana, limitada ao Continente.
E, finalmente, demais outros, ainda e, outrossim, se opuseram acerca das bases ideológicas e estabeleceram alianças com blocos de influência conduzidos pelos Estados Unidos da América ou com a União Soviética.
(3) De sublinhar, que os vínculos internacionais não convinham apenas aos militantes políticos. Com efeito, Africanos, desejando efectuar estudos, encetando uma carreira na ONU ou, em demais outras organizações internacionais, ou migrante para economias europeias que, nesse momento, pretendiam a sua respectiva força de trabalho nos próprios solos — tornaram, cada vez mais, numerosos na Europa, na União Soviética e nos Estados Unidos da América do Norte. Na verdade, possuíam, ora contactos com os autóctenes, ora formavam comunidades de origem relativamente independentes, outrossim, ainda, possuíam vínculos mais estreitos com demais outros migrantes de ascendência africana.
E à guisa de remate/conclusão seria, todavia um erro crasso, substituir a visão quão errónea e, assaz adulterada de uma África de tribos isoladas por de uma África submersa numa rede infinita de movimentos e de permutas. De feito, em África, a população era desproporcionadamente distribuída, num enorme espaço, por outras palavras e, para melhor dizer, as deslocações eram possíveis, no entanto, sobremaneira, onerosos os transportes. Na verdade, lucrativo era permutar bens de grande valor, inexistentes em determinadas regiões, contudo menos rentável que construir densas redes de permutas e de relações diversificadas.
Por outro, de consignar, que os dirigentes africanos podiam encontrar lugares susceptíveis de assegurar a prosperidade dos seus povos, porém, havia identicamente demais outros sítios, onde as pessoas podiam se refugiar e sobreviver, o que tornava difíceis a consolidação do poder e a intensificação da exploração. Demais, as permutas com o resto do mundo eram habitualmente muito especializadas — horrivelmente especializadas, no caso concreto, do comércio dos escravos, designadamente. De anotar, destarte, que os centros de produção específicos – de ouro ou de óleo de palma, por exemplo – ou as estradas comerciais específicas – a do marfim, que ligava o interior do Este africano à costa -funcionavam assaz bem. Todavia, a sua acção respectiva foi criar vínculos particulares, exclusivos, entre o interior da África e as economias exteriores à África e, não de desenvolver uma economia regional densa e diversificada.
De sublinhar, que após a conquista europeia, as economias coloniais construíram, caminhos ferroviários e estradas respectivas, para fazer escoar o cobre ou o cacau e fazer entrar os produtos manufacturados europeus, canalizando, deste modo, o movimento dos bens, das pessoas e das ideias para a metrópole e, não para o conjunto do mundo.
Efectivamente, os regímenes coloniais edificaram uma grande parte do seu poder na sua capacidade para controlar os pontos nodais chaves, tais como os portos em águas profundas, de um sistema de transportes e de comunicações relativamente limitado.
Enfim, os Africanos procuraram criar as suas próprias redes: estradas comerciais no seu próprio Continente com conexões políticas, com demais outros povos colonizados. De anotar, com, um certo e determinado êxito. Porém, quando os impérios coloniais se desmoronaram, os dirigentes africanos foram, outrossim, confrontados, com a tentação de reforçar o seu controlo nestas redes limitadas, de preferência, antes que ampliar e multiplicar os vínculos através do espaço.
Lisboa, 11 Fevereiro 2009.
KWAME KONDÉ
.
KWAME KONDÉ
.