terça-feira, 27 de abril de 2010

OUTRA VEZ “MÓDICO”

Acho que vai sendo tempo de quem pode legislar para que o adjectivo "módico" passe a ser também ou somente um substantivo.

Agora é António Nogueira Leite, doutorado, professor universitário e ministeriável (ao que se diz) que usa a palavra ”módico” como substantivo.

Penso que fica assim claro que talvez não haja mais nada a fazer: está no DNA dos portugueses dizerem e escreverem “um módico de”; ou porque não ligam patavina às regras da Língua Portuguesa, ou porque se estão nas tintas para quem os lê, ou por qualquer outra razão abstrusa que se nos escapa.

Mude-se então os dicionários!
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segunda-feira, 26 de abril de 2010

NOTÍCIAS DA TERRA DO FOGO 2

Por enquanto não há postas, não há fotos, não há nada; apenas o percorrer de caminhos e lugares mais que conhecidos em busca do que de novo possa ter aperecido ultimamente. Os amigos de sempre, com a amizade e disponibilidade infinitas próprias deste modo siciliano (solidário, intenso e incondicional) de viver - não confundir com mafiosidade ou coisas outras de teor semelhante - se pudessem viveriam por mim para que eu não me preocupasse em meter-me nesses "trabalhos". É assim a vida aqui na ilha do vulcão.

Vêm aí as festas de San Filipe e se puder darei relato breve do que me merecer atenção. Para já bancos e políticos começam a aparecer para "trabalharem" o emigrante que sempre aparece aos montes nesta festa. Vai haver imensa alegria à solta e, para não variar, um ou outro confronto de valentões que sempre também aparecem para publicitarem (uns) e manterem (outros) o estatuto de rei da selva urbana - bem à moda antiga dos povoadores de antanho.

Então até à próxima postagem!
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ELOCUBRAÇÃO QUINQUAGÉSIMA:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895)

Das Classes sociais Emergentes:

Peça ensaística primeira:

(A):

O conceito de classe, que utilizaremos, nesta nossa Peça ensaística, assume o desígnio de “agregar primordialmente, toda uma variedade de grupos, que começam a assumir formas sociais globais coerentes”. Donde e daí, efectivamente, que a formação destas classes revela uma dinâmica que desagrega, em parte, o nacional do interior. Estas classes assumem a forma de Instituições bem específicas, designadamente:

1) No Aparelho do Estado;

2) Na Economia e na

3) Sociedade, na acepção, mais estrita do termo e da expressão respectiva.

De sublinhar, outrossim e, por outro, que esta desagregação debilitou a influência que a Política, os sistemas e os programas nacionais exerceram historicamente sobre os grupos particulares que englobam estas classes emergentes, obviamente. Simultaneamente, as características destas classes, em particular, a sua posição ambígua entre o global e o nacional indicam uma implantação prolongada, mesmo que parcial, no âmbito dos domínios nacionais. Por conseguinte, se os descreve melhor, asseverando que são classes parcialmente desnacionalizadas, interpretação que contesta, outrossim a noção dominante, segundo a qual as classes globais são cosmopolitas, precisamente porque se encontram fora do alcance do nacional.

E, tendo em conta, que “classes globais” é o termo corrente utilizado na literatura erudita é o que utilizaremos, ipso facto, neste nosso Estudo ensaístico.

(B)

a) ---As classes globais novas são provavelmente concebidas, ou melhor, enquanto forças sociais emergentes. De anotar, antes de mais, que a sua inserção respectiva, nas nossas Sociedades, não se opera, presentemente através dos quadros institucionais, desde há muito tempo, estabelecidos ou de lutas políticas (as que são conduzidas pelos partidos políticos e os sindicatos). Um ponto-chave da análise, neste capítulo, consiste em mostrar que, conquanto, sendo globais, estas classes estão implantadas em graus diversos nos ambientes nacionais e, por conseguinte, melhor compreendidas, enquanto são parcialmente desnacionalizadas. Esta distinção é fundamental para compreender a sua articulação com a estrutura de classe nacional e para saber se ela perturba esta última.

b) --- Eis, então, que uma primeira questão se nos depara e que diz respeito às conexões destas classes e dos ambientes nacionais. Existe, de modo evidente, diferenças importantes quando se trata da sua inserção nos contextos nacionais. Todavia, esta classe se encontra, muito mais fixada no lugar que o não deixaria pensar o seu imaginário ordinário.

Porém, no atinente, à classe heteróclita dos trabalhadores desfavorecidos, a situação é praticamente inversa. Ou seja: esta classe se encontra muita mais implantada, no que se pode considerar como o local de trabalho global, onde a política transnacional que não se podia esperar por isso através do imaginário associado a estes trabalhadores.

Enfim, a proliferação das redes de responsáveis governamentais especializadas pode ser encarada como a construção do capital social internacional para os Governos implicados. Porém, extrair a utilidade deste capital social exigirá construir pontes entre as políticas nacionais e internacionais, por um lado e, por outro, a política sobre questões que foram, em geral, pensadas como nacionais. O que significa, que será necessário reconhecer que o global se constitui, em parte, em ambientes nacionais.

c) --- As três classes, cada uma, na sua forma de ver, estão fortemente inseridas em contextos bem delimitados territorialmente: as cidades globais e os governos nacionais. Poder-se-ia asseverar que cada uma delas é um agente que torna o global parcialmente endógeno para ambientes específicos nacionais. De anotar, avisadamente, que esta análise ora enunciada tem consequências outrossim para a análise de classe como para a política governamental nacional. Estas consequências estão em oposição às que poderiam estar associadas às noções de classes cosmopolitas livres de todo apego e de toda a necessidade nacionais.

d) --- Uma segunda questão diz respeito à conexão entre as classes globais novas e as estruturas de classe nacionais.

Esta conexão vale fundamentalmente para a classe profissional e para os trabalhadores espoliados. Há muito a dizer acerca do assunto, porém, por economia de espaço, vamos concentrar sobre dois aspectos, assaz relevantes. Donde, então:

-- O primeiro consiste no facto, que estas duas classes globais fazem parte de um processo de estruturação económica profunda, que contribui para uma procura acrescida de profissionais altamente qualificados e de trabalhadores a baixo salário, nos serviços e na produção. Esta procura bimodal de mão-de-obra se torna evidente (concomitantemente, na rua e nos dados estatísticos) e, nas cidades globais mais que não importa onde algures. A este respeito, as formas actuais de globalização económica reforça a desigualdade e produzem, mesmo, novos tipos de desigualdades. Eis porque, reconhecer as interacções das formas sociais e das situações que, usualmente se julga sem relação é um verdadeiro desafio para a análise.

Exemplificando, adequadamente: Nos centros financeiros internacionais ultramodernos, nas cidades, como Nova Iorque e Londres dependem, de feito, de uma gama de trabalhadores e empresas, muito mais vasto, que não se o supõe, em geral: todas as espécies de empregados de serviço a baixo salário trabalham nestas cidades globais. A opinião pública e as nomenclaturas políticas classificam estes empregados a baixo salário, integrando-os nos sectores atrasados da economia. Eis, efectivamente, um erro crasso! De feito, uma análise, em termos de classe, distinta de uma análise das estratificações ou dos grupos profissionais, seria centrada sobre as interacções sistémicas.

e) --- Um terceiro aspecto fundamental, em conexão com as classes globais e as estruturas de classes nacionais, consiste no facto que as novas segmentações são filtradas através das culturas políticas e administrativas distintas, nomeadamente:

-- Uma cultura neo-liberal que abre um país aos circuitos profissionais do capital global, por um lado;

-- E, por outro, as políticas de imigração que fecham um país o acesso ao mercado do emprego à baixo salário.

De sublinhar, que filtrar os novos processos através destes quadros políticos, que são mais antigos e vetustos, em muitos aspectos, tem para fim obscurecer precisamente estes aspectos da globalização, que se pretende esclarecer, de modo consentâneo e consequente, designadamente: o apego geográfico, mais que evidente da nova classe profissional e a globalidade mais evidente da nova mão-de-obra desfavorecida.

De feito, estes dois quadros políticos não conectados contribuem para obscurecer o facto que consigna, que os novos tipos de segmentação que estas duas classes globais inserem no tecido político e cívico de um Sociedade pertencem ao capitalismo avançado.

Finalmente, assertivamente, não há dúvida nenhuma, que a análise, em termos de classe, deve ter em conta, as estruturas deste último pelo facto que, presentemente, mais que não importa qual outro momento do século XX pretérito, elas funcionam, em conformidade com uma geografia global aos sítios múltiplos. Deve, enfim, levar em conta o facto, que a classe global dos trabalhadores a baixo salário é mais global e, por conseguinte, mais indicativo do futuro, antes que de um passado findo, que não consente imaginá-lo.

Lisboa, 25 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

NOTÍCIAS DA TERRA DO FOGO

Cá estamos. Destilando destiladas mas com esperanças de emagrecimento. Por enquanto apenas um Pacheco mais alto, mais cabeludo e talvez mais bem parecido. Mas seguramente ignorante e conscientemente estúpido.

Como de resto não podia deixar de ser. Aliás.
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ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA NONA:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895)

Nota Prévia:

(1) Com efeito, a Ciência do Comportamento não reside, única e exclusivamente (como admitem alguns), nas observações dos animais selvagens em liberdade, com algumas experiências realizadas. Ela se compõe, outrossim dos dados inumeráveis recolhidos no laboratório, em condições, assaz rigorosas, seguindo um plano muito preciso.

(2) De sublinhar, por outro, demais, que a Ciência do Comportamento passa por graus insensíveis à Neurofisiologia, isto é, ao ensaio de interpretação dos comportamentos pelo substrato neuromuscular. Não há dúvida nenhuma, que apenas a Neurofisiologia detém a chave dos comportamentos. Sim, efectivamente, só ela os pode explicar adequadamente. Todavia, os etólogos, pelo contrário, sabem apenas o que é necessário explicar.

(3) Assim, em consequência das necessidades experimentais, os Neurofisiologistas são, sobremodo coagidos em considerar apenas comportamentos muito simples nas situações, assaz pobres (isto está a mudar com as técnicas de registo à distância – biotelemetria – e com a implantação crónica, no cérebro, de eléctrodos que podem ser excitados por via hertziana). Estas situações estão longe de compreender todo o Comportamento. Demais, muito, frequentemente mesmo, apenas se compreendem uma pequena parcela, o acento estando colocado, antes na Fisiologia das vias nervosas.

(4) E, para concluir esta Nota Prévia, vale a pena referir aos dois tipos de situações que se apresentam, logo à primeira, ao Etólogo. Ou seja:

a. As em que o animal é confrontado com um problema (depredação, construção, orientação) e

b. As em que ele se encontra em conexão, quer com o seu cônjuge e as suas “crias”, quer com os outros membros do grupo. Isto vai fornecer três (3) sub divisões: O estudo dos comportamentos do animal isolado;

i. O estudo da família;

ii. O estudo das conexões sociais.

(I)

Do Conceito/Noção/Definição da Etologia:

Etimologia:

--- Do latim: ethologia “etopeia”;

--- Emprestado do Grego: ethologia (“etopeia”).

-- Segundo o clérigo regular da Ordem de São Caetano, Rafael BLUTEAU (1638-1734): “representação ou discurso, em que se descrevem os bons e os maus costumes dos homens, as paixões humanas”, acepção essa que procede directamente do Latim. Em contrapartida, as acepções científicas: do Inglês Ethology; outrossim o reaproveitamento da lavra do filósofo e economista inglês, John Stuart MILL (1806-1873), no sentido de “ciência que estuda a formação do carácter, entendido como conjunto de traços psicológicos e/ou morais”.

Donde: Etologista: que ou aquele que se dedica ao estudo da evolução.

Etólogo: especialista em Etologia (ou, outrossim, pessoa versada em Etologia).

(II)

Segundo a Enciclopédia PÚBLICO (volume 8, 2004): Etologia (Ramo da zoologia) é Ciência do comportamento dos animais no seu respectivo meio natural. Estuda o conjunto das condutas inatas ou adquiridas, pelas quais um animal vence e resolve as dificuldades e os problemas que lhe impõe o ambiente, físico, biológico, para viver, sobreviver e reproduzir-se.

(III)

a) O comportamento dos computadores constitui a única analogia com o comportamento animal. Podem mudar de programa, em caso de necessidade, isto é, ao chegar a um fim por meios dissemelhantes: os animais, identicamente (o caso do rato que aprendeu um labirinto, caminhando e que pode percorrer, em seguida, nadando sem se enganar, conquanto com um modo de locomoção inteiramente dissemelhante).

b) Donde e daí, resulta que a observação minuciosa dos gestos dos animais não constitui, quiçá o único fim, nem tão pouco, o fim mais relevante, da etologia. Deste modo, se afigura mais oportuno, estudar provavelmente, as possibilidades últimas da máquina orgânica, observando os problemas complexos, ipso facto, mais instrutivos que os simples.

c) De feito, a construção é um destes problemas. Exemplificando:

a. Entre os frigânios, que reparam o seu revestimento, se vê claramente que usam todas as espécies de métodos, variáveis com os indivíduos e, num mesmo indivíduo.

b. Entre as abelhas, as reparações (as mais complicadas) são efectuadas, seguindo a solução óptima, por um processo complexo e variável, em que indivíduos intervêm, de uma forma, que falta definir.

c. Entre as formigas acontece o mesmo.

d. Finalmente, por seu turno, as aves oferecem construções de uma singular complexidade, como, aliás, entre os ptilonorhynques.

(IV)

Com efeito, a aprendizagem animal não se limita, completa e absolutamente às técnicas simples e ingénuas dos primeiros experimentadores. O problema actual é, muito menos, discutir, a perder de vista, acerca do papel do reforço ou estabelecer a curva de extinção, num rato que saber se, na verdade, como o parece, os macacos podem dialogar com homens.

O animal pode reencontrar o seu poiso a distâncias, por vezes, fantásticas. O que é importante já, não é estudar os tropismos, visto que o problema real da orientação o ultrapassa, muito longe. Explicitando:

a) Significa, compreender os mecanismos do retorno ao ninho no pombo;

b) Do retorno ao sítio de postura do salmão;

c) Não se olvidando que a cada instante, o animal faz uso de uma pluralidade de estímulos que o seu organismo integra consoante as circunstâncias e, de uma forma variada. Aliás, é inútil rejeitar toda a responsabilidade da orientação num único estímulo.

(V)

Uma das actividades fundamentais do animal consiste na reprodução. Inumeráveis são os métodos de aproximação sexual utilizados pelos animais. Por seu turno, os disparadores são apenas um deles e, devem se combinar com as preferências individuais, no âmbito da escala hierárquica, etc. De sublinhar, que o comportamento sexual constitui um domínio de escolha para o cotejo com o Homem.

Demais, outrossim e, ainda, presentemente, se estuda a afectividade animal, na sua ontogénese, com o auxílio de “stress” pré-natais e pós-natais. Entre os macacos, se consegue sintetizar perturbações do tipo do autismo por isolamento do jovem. E, pelo mesmo método se pode estudar as perturbações do sentimento maternal. O que é importante, neste caso, é a abertura possível para uma psico-patologia experimental, que se podia partir unicamente das experiências de frustração do rato condicionado.

(VI)

Todavia, de anotar, que o animal vive muito escassamente isolado, formando, a maior parte do tempo, grupos, mais ou menos, numerosos. A aproximação dos indivíduos dá lugar a diversos fenómenos psico-patológicos, designadamente:

1) O Efeito de grupo;

2) Depois, as hierarquias;

3) E, enfim, ulteriormente: surgem, tipos complexos de organização, onde, podem, aparecer, fenómenos de tradição e de invenção.

(VII)

Finalmente, o problema das comunicações animais, se consegue estudar, presentemente, por uma gama enorme de métodos e por um grande número de biólogos. O que é importante, neste caso é o seguinte:

1) O estudo avançado das comunicações entre os macacos na Natureza, que lembram, frequentemente, de modo perturbador, as comunicações de tipo humano;

2) Estabelecer o papel da tradição e da inovação nestas sociedades, afim de compreender (quiçá) melhor um dia o que foi a hominização.

3) É, outrossim e, ainda, obter dados mais precisos acerca do canto das aves. É analisar os tipos de linguagem que utilizam as abelhas e as formigas

E, como Remate assertivo:

Sim, efectivamente, sobretudo: Evitar o simplismo e o reducionismo, aceitando a Etologia pelo que é: uma Ciência muito próxima do seu advento, ainda, completamente na infância e, que não se pode permitir teorias, demasiadas ambiciosas, demasiadas gerais.

Lisboa, 21 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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domingo, 18 de abril de 2010

NO MÍNIMO INADEQUADO

Sobre a independência de Cabo Verde, não podia estar mais em desacordo com Mário Soares.

Como é assunto que traz sempre polémica, não bastando apenas a memória histórica, mas também provas documentais e ou testemunhais que sustentem os argumentos a despender, prometo para mais tarde a abordagem deste tema em defesa do contrário ― ou seja, em defesa da independência do meu país. Mas numa abordagem puramente académica (que abordagens de índole política estão e estarão completamente fora de causa).

Se admiti há cinco anos que se pudesse discutir ― atenção: discutir ― a integração de Cabo Verde na União Europeia, já acho de todo em todo inaceitável (para não dizer outra coisa) que alguém, seja ele quem for, venha referir-se ao tema “Independência” muito menos para o discutir e ainda muitíssimo menos para o questionar politicamente.

Políticos cabo-verdianos (e bem, no meu entender) já desvalorizaram a coisa deitando água na fervura, com diplomacia. Mas compete-nos a nós que não estamos espartilhados pela pertença a quaisquer instituições de qualquer ordem, abordar o tema com liberdade de opinião e responder com cortesia mas com firmeza a Mário Soares ou a qualquer outro que venha a questionar o que para nós é inquestionável tout court.

INQUESTIONÁVEL!
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CURIOSIDADE

Poemando o Abrupto revela hoje, por interposto poeta, Tristan Tzara, uma versão antiga da máquina Bimbi.

BOM DIA!
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ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA OITAVA:

Ser culto es el único modo de ser libre”

José MARTÍ (1853-1895).


Acerca da Taxa TOBIN:


O economista norte-americano, James TOBIN (1915-2002), Prémio Nobel de economia 1981, era um economista Keynesiano, isto é, favorável à intervenção governamental como estabilizador da produção, tendo por fim evitar as recessões. Deu um contributo interessante à Ciência económica, em particular, nos domínios do investimento, dos mercados financeiros e, outrossim, no âmbito da política orçamental e monetária.

Acedeu à notoriedade, propondo uma tributação sobre determinados movimentos de capitais (transacções de troca). O objectivo desta tributação consistia em reduzir a especulação nas praças financeiras, que ele julgava contra-produtiva. Sugeriu, outrossim que as receitas desta taxa fossem afectadas ao desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo, assim como, para o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). Esta sua notoriedade se assumiu, em particular, por ter outorgado o seu nome à taxa epónima: A célebre Taxa TOBIN.

A ideia da taxa TOBIN dita “areia nas engrenagens”, ou ainda a “Taxa Robin dos bosques”é defendida por numerosas personalidades, organizações do movimento altermundialista e associações, da qual, designadamente a “Associação pela Tributação das transacções financeiras para a ajuda aos Cidadãos” (ATTAC). Desde a sua fundação em 1998, a Associação ATTAC defende, entre outras, a ideia da instauração desta taxa e participa no movimento altermundialista. Se implantou ulteriormente em muitos países e propõe análises para estudar a possibilidade prática da implantação da taxa.


(1) Com efeito, a ideia da criação desta taxa, em apreço e estudo, partiu do Prémio Nobel de economia 1981, James TOBIN, professor de economia em Cambridge e, depois em Yale. Esta ideia foi retomada e mediatizada sobremaneira pelo movimento altermundialista. Ela se define, por seu turno, como uma taxa débil e permanente sobre os mercados das trocas e visaria reduzir a volatilidade sobre estes mercados e, por conseguinte, em particular, suprimir os ataques especulativos sobre as moedas.

(2) Todavia, está longe de estar provado, em teoria ou na prática, que uma tal taxa permitiria reduzir a volatilidade das permutas. De feito, correria mesmo, o risco de aumentá-la, visto que o problema é que esta taxa incidiria sobre todas as transacções efectuadas sobre o mercado de trocas. Aliás, uma boa parte das transacções que são realizadas sobre este mercado são, de facto, transacções estabilizadoras. Entretanto, o que é facto, é que os especuladores (pelo menos, alguns entre eles) compram, em tempo normal, as moedas quando estão sub avaliadas (fazendo, deste modo, subir o seu preço) e os vendem quando estão fortes (fazendo, assim baixar o seu preço). Esta estratégia assegura-lhes lucros e estabiliza as cotações.

(3) Identicamente, uma outra grande parcela das transacções que constituem os volumes enormes que se observa nos mercados das trocas (1 200 mil milhões por dia em 2001) é devida às técnicas de gestão dos intermediários financeiros (traders e brokers), operando sobre estes mercados. Trata-se de uma técnica de gestão do risco que engendra uma cascata de transacções, que não têm nada de destabilizador, pelo contrário. Donde, taxá-las seria encorajar uma assunção de risco excessivo, como se fosse taxar as transacções “especulativas” descritas, precedentemente. Aliás, seria, outrossim encorajar a volatilidade.

(4) Todavia, então qual o tipo de transacções seria necessário taxar para impedir as crises de permuta? Seria necessário eliminar as tomadas de posição maciças contra uma moeda quando um país se encontra em dificuldade enquanto os seus fundamentos são bons ou poderiam ser melhorados rapidamente? Pode-se então, na verdade, acreditar que uma taxa débil sobre os mercados de troca possa ter um efeito qualquer? Os lucros potenciais em caso de desvalorização importante de uma moeda são, a tal ponto, elevados que seria necessário uma taxa enorme para dissuadir os especuladores de os realizar? Na verdade, foi deste modo, que o empresário e homem de negócios norte-americano, de ascendência judaica, George SOROS (n-1930), (o verdadeiro símbolo de actividades especulativas, sobretudo, em matéria de taxas de câmbio), construiu a sua fortuna na desvalorização da libra esterlino, aquando da crise monetária europeia de 1992.

(5) Como se pode perceber, uma taxa TOBIN teria, deste modo, o efeito perverso de não poder desencorajar as transacções verdadeiramente destabilizadoras, penalizando as transacções que estabilizam as cotações.

(6) Enfim e, em suma para rematar assertivamente: Existe, todavia, outrossim um segundo argumento, assaz importante. Ou seja: Seria impossível servir-se dela. O mercado das trocas é um mercado que se deslocaliza facilmente. De feito, no momento presente, só existe mercados de permutas em Londres, Nova Iorque e Tóquio. Eis porque, uma Taxa TOBIN exigiria, por conseguinte, o acordo de todos estes países (e de todos os países que poderiam potencialmente acolher o mercado das trocas) para poder ser utilizada eficazmente. Demais, neste período de relações internacionais, assaz perturbadas, isto parece relevar do domínio da utopia


Lisboa, 18 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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