terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

PURA FILHA DA PUTICE

Espero e desejo profundamente que Barak Obama arrase Hillary Clinton nas primárias do Texas e de Ohio e acabe a ser nomeado candidato do Partido Democrata para as presidenciais americanas.

Para que a filha da putice não faça escola e tenha a punição que merece
.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

O CULPADAO

Professora!
Fui eu que mandei aquele SMS convocando os seus colegas
para uma manifestação de protesto contra a política educativa
da senhora ministra.

FRAGILIDADE E TRISTEZA

Volta e meia lá aparecem tiques e procedimentos que fazem lembrar os tempos da ditadura e do Fascismo.

Já toda a gente estava quase esquecida do caso do professor Fernando Charrua denunciado e punido POR PURO DELITO DE OPINIÃO (privada): fizera um comentário jocoso sobre a licenciatura do primeiro-ministro...

E... pimba! Foi suspenso de funções após a denúncia de um bufo.

Para lembrar a todos que se deve ter muito respeitinho, andar muito direitinho e caladinho porque... senão ― chicote para cima dos prevaricadores.

Pois agora parece que voltou outro tique punitivo e intimidador:

Houve há dias o caso do sindicalista julgado e condenado (ao que se disse sem nada saber, sem ser ouvido ou podido defender-se em tribunal) pelo facto de se ter “manifestado na via pública sem ter obtido licença prévia para isso”.

Ontem aconteceu serem “identificadas” três manifestantes “ilegais” (não tinham licença, pelos vistos) as quais, no Porto, entre centenas de manifestantes “ilegais” como elas, foram escolhidas pela polícia para o efeito.

Parece que o país está de novo confrontado com fantasmas do passado.

Volta e meia lá surge mais um tique; lá vem mais uma intimidação.

Triste poder que assim procede mostrando toda a sua fragilidade.

Porque de fragilidade se trata. Sabem-no bem todos aqueles que viveram os tempos do fascismo e da ditadura.

UMA AGRESSÃO BÁRBARA

FALTAM AS PALAVRAS EXACTAS






Aconteceu ontem em Inglaterra no jogo entre o Birmingham e o Arsenal. Martin Taylor, do Birmingham, cometeu este terrível acto na pessoa do companheiro de profissão, o futebolista de origem brasileira, Eduardo, do Arsenal.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

NEM MAIS

Na coluna de "Opinião" do DN de hoje, João Marcelino escreve o seguinte quase em nota de rodapé:

«Em apenas três semanas, Ana Jorge revelou-se a aspirina de que o Governo necessitava para acabar com as dores de cabeça na Saúde. Bastou um discurso mais social, mais preocupado com as pessoas e menos fixado na rentabilidade do sistema. É assim que hoje tem de se fazer a política: a dizer o que as pessoas querem ouvir. Quanto ao que interessa ainda é cedo para verificar se a dois estilos correspondem outras tantas políticas. Só sabemos que corresponde o mesmo primeiro-ministro.»

Aproveito a boleia para acrescentar o seguinte: já o tinha dito e volto a acrescentar: «Não acredito» que a actual Ministra da Saúde venha a seguir as políticas economicistas (de corta, corta, corta) e do fecho indiscriminado e sem alternativas de serviços (mas com alternativas nos privados); que continue políticas restritivas que promovam a saída de médicos dos hospitais públicos para os privados; que promova o fim quase à vista dos quadros médicos hospitalares, substituindo-os por contratados com contratos individuais de trabalho em regime temporário ou quase isso (que fazem com que os médicos saiam logo que arranjem melhor salário no privado porque sabem que no público é o deserto que se desenha); que compactue com a sangria de médicos do quadro em certos Serviços a ponto de as urgências funcionarem às vezes mais à base de médicos fornecidos pelas “empresas” de prestação de serviços (médicos estes quase sempre sem nenhum conhecimento do funcionamento do resto dos serviços onde há consultas, enfermarias com doentes acamados (alguns em unidades de alto risco), unidades de exames especiais, como ecografia, colposcopia, pequena cirurgia, etc. onde esses médicos das “empresas” não actuam, pura e simplesmente: o que degrada de forma inequívoca a qualidade da assistência prestada e a segurança dos doentes.

A actual Ministra da Saúde é médica e certamente terá passado, à frente do Serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta, em Almada, as passas do Algarve durante o consulado de Correia de Campos. Digo isso porque não acredito que o seu Serviço tenha sido poupado à política restritiva, puramente economicista, de Correia de Campos. E terá certamente tomado conhecimento das condições dramáticas de trabalho em que laboraram (e ainda hoje laboram) os Serviços seus vizinhos do mesmo hospital, de Ginecologia e de Obstetrícia (este então que até teve que fechar parcialmente a urgência obstétrica no Verão passado, por falta de médicos).

Repito: Não acredito que uma médica que tenha vivido tudo isto e muito mais, lá por ser agora Ministra da Saúde vá esquecer estas tristíssimas experiências e nada faça para melhorar estas situações (em todo o país ― não só em Lisboa).

E aqui abro um parêntesis para dizer o seguinte àqueles que ultimamente têm elogiado Correia de Campos por TER DIMINUIDO O AGRAVAMENTO ANUAL DO DÉFICE DA SAÚDE DE 9,2% PARA 2,9%.

Isso só por si não significa nada!

Eu próprio reduziria muitíssimo mais aquele défice se fosse ministro e me propusesse a isso:

Bastaria mandar fechar os hospitais centrais de S. José e Santa Maria, em Lisboa; o de S. João no Porto; e o da Universidade, em Coimbra, para merecer então (na óptica dos elogiadores de Correia de Campos) os maiores elogios até hoje feitos a um governante.

E se eu resolvesse então cortar toda e qualquer comparticipação nos medicamentos... seria, por certo, eleito DEUS.

É isso que é ser bom Ministro? Olha que porra!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

BOLETIM METEOROLÓGICO

A SEDES publicou este comunicado em que diz (sublinhados de nossa responsabilidade):

«Sente-se hoje na sociedade portuguesa um mal estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional

«Nem todas as causas desse sentimento são exclusivamente portuguesas, na medida em que reflectem tendências culturais do espaço civilizacional em que nos inserimos. Mas uma boa parte são questões internas à nossa sociedade e às nossas circunstâncias. Não podemos, por isso, ceder à resignação sem recusarmos a liberdade com que assumimos a responsabilidade pelo nosso destino.»

«Assumindo o dever cívico decorrente de uma ética da responsabilidade, a SEDES entende ser oportuno chamar a atenção para os sinais de degradação da qualidade da vida cívica que, não constituindo um fenómeno inteiramente novo, estão por detrás do referido mal estar.»


De facto parece-me (parece) que algo de mal se passa hoje na sociedade portuguesa sem que se perceba muito bem o que é que isso pode originar em termos de bem-estar e de paz social.

O General Garcia Leandro disse há dias na televisão e escreveu no Expresso que tem sido abordado por carta pedindo-lhe para liderar uma revolta (não percebi bem de que cariz).

Alguém terá dito há dias a Pacheco Pereira, num supermercado, “Vai haver uma explosão”. Pois, eu também já ouvi, da boca de um reformado com uma pensão de trezentos e cinquenta e tal euros mensais «Isto só lá vai com um levantamento popular». O velhote referia-se aos problemas diários que eram relatados sobre as reformas (?) de Correia de Campos, na Saúde.

Se pararmos um pouco para pensar e rebobinar episódios vários a que temos assistido, somos capazes de ficar com algumas ideias mais claras e de ver alguma coisa no meio do nevoeiro.

Entre várias coisas:

Vejo um primeiro-ministro que me dá a ideia (sei que não é elegante dizê-lo, mas é a ideia que me dá) de ser capaz de passar por entre os pingos da chuva sem se molhar, sem que se saiba (e isto é ainda pior) se sabe que toda aquela chuva que cai e que ele vai driblando com saber e mestria, vai molhar, vai encharcar até ao osso a grande maioria dos portugueses ― sobretudo os mais pobres ― e se se importa alguma coisa (ou não se importa mesmo nada) com isso.

(Eu não estou a dizer que as coisas são assim; eu estou a dizer como é que eu estou a ver as coisas com os dados que vou tendo através dos meios de comunicação social. E admito estar total e completamente errado na minha maneira de ver.)

Vejo um primeiro-ministro que quando interrogado sobre se foi ele que fez uns projectos de arquitectura responde dizendo «Eu assumo a autoria e a responsabilidade de todos os projectos que assinei» quando nós sabemos, quando toda a gente sabe, que a frase: “Eu assumo a autoria e a responsabilidade” não que dizerFUI EU QUE FIZ”; não quer dizer isso, não quer dizer e não quer dizer mesmo. Por mais que essa frase seja repetida. Deixando as pessoas a pensar que se não diz “fui eu que fiz”, talvez então (e isto é benigno) não tenha sido ele o verdadeiro autor material de todos os projectos.

(Eu não estou a dizer que as coisas são assim; eu estou a dizer como é que eu estou a ver as coisas com os dados que vou tendo através dos meios de comunicação social. E admito estar total e completamente errado na minha maneira de ver.)

Vejo um Governo que me dá a ideia de ser também um grupo de representantes do grande capital tomando várias decisões a favor dos ricos e poderosos, contra os mais fracos, parecendo (parecendo) não se importar com as consequências presentes e futuras para a economia e a coesão social do país, dando a impressão de que os grandes grupos económicos se apropriaram do Estado e do património comum, e tudo podem e tudo fazem a seu bel-prazer.

(Eu não estou a dizer que as coisas são assim; eu estou a dizer como é que eu estou a ver as coisas com os dados que vou tendo através dos meios de comunicação social. E admito estar total e completamente errado na minha maneira de ver.)

Vejo uma justiça descredibilizada e inerte que demora tempos infindos para concluir investigações e processos, chegando a arquivar processos como o do “caso Bexiga”, por exemplo, por não se ter produzido prova. O que me parece um escândalo de todo o tamanho que até dá vontade de emigrar e nunca mais aparecer por cá ― isto, no mínimo.

(Eu não estou a dizer que as coisas são assim; eu estou a dizer como é que eu estou a ver as coisas com os dados que vou tendo através dos meios de comunicação social. E admito estar total e completamente errado na minha maneira de ver.)

Vejo um Serviço Nacional de Saúde cada vez menos Nacional; cada vez mais atrofiado; em definhamento progressivo apesar da propaganda que Correia de Campos andou a fazer a ver se convencia o país do contrário. Vejo hospitais cada vez com menos médicos e menos enfermeiros, cada vez com menos médicos capazes e cada vez com MAIS médicos tarefeiros contratados à hora, muitos deles contratados a empresas de prestação de serviços, empresas sem alvará para o efeito, médicos muitas vezes trabalhando nos hospitais sem qualquer avaliação prévia idónea capaz de assegurar a sua capacidade de intervenção para a especialidade para que são contratados; contratados através de uma Central de Compras ― como se fossem compressas, material cirúrgico, papel higiénico ou sabão; mobiliário ou material vário descartável.

(Eu estou a dizer que as coisas me parecem ser assim; estou a dizer como é que eu as tenho visto. E aqui não admito estar muito errado na minha maneira de ver.)

Vejo um Serviço Nacional de Saúde com hospitais onde se deixa sair médicos com provas dadas, mas onde se contrata médicos reformados para trabalharem e receberem o salário/hora por inteiro, que acumulam com a reforma por inteiro. Uma situação que me parece totalmente ilegal pois estou em crer que teriam que optar por receber ou um terço da reforma e o salário por inteiro, ou um terço do salário e a reforma por inteiro. Mas não: recebem as duas coisas por inteiro. Oficialmente. Quem estará a falhar aqui?

(Aqui já digo que as coisas são mesmo assim. Estou a vê-las como elas são).

Mas vejo mais noutros domínios:

Vejo um futebol de resultados escandalosamente manipulados em que os manipuladores, apesar da existência do aparelho judicial, vivem parodiando os julgamentos a que estão sendo submetidos augurando retumbantes vitórias contra a Justiça pela simples manipulação de testemunhos e a quase inversão dos valores em causa. Valentim Loureiro já disse que por ora já está a ganhar à Justiça «Por treze a zero».

(Eu não estou a dizer que as coisas são assim; eu estou a dizer como é que eu estou a ver as coisas com os dados que vou tendo através dos meios de comunicação social. E admito estar total e completamente errado na minha maneira de ver.)

No meio disto tudo olho para o segundo partido político mais votado e o que é que vejo?

Vejo um PSD com um líder que, certamente seguindo as indicações do seu gabinete de comunicações e de imagem, começou primeiro por aparecer ao público sempre sonolento e anémico debitando frases curtas com pouco sentido e nenhuma acutilância; que depois, nestes últimos dias, vestido com um fato negro tipo mortalha, com a cara espadanada com quilos de pó-de-arroz, transformado numa espécie de Drácula urbano sem pinga de sangue e com um pescoço que mais parece o de um frango depenado, apareceu falando com voz cava de cadáver embalsamado para dizer mais baboseiras e coisas sem sentido, e que quando se percebe o que ele diz é para se ouvir que VAI PRIVATIZAR TUDO, VAI REDUZIR O ESTADO, vai isto e vai aquilo ― tudo asneiras e disparates dos maiores.

Talvez também um destes dias ainda nos venha dizer que vai à merda no que fará muitíssimo bem no meu entender.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

CONFISSÃO DE UM AQUÓMANO

As inundações havidas há dois dias em Lisboa deram-me que pensar.

Assim como há pirómanos, eu acho que sou aquómano. Desde miúdo que tenho a mania da água. Lembro que quando pequeno me entretinha a molhar pessoas que passavam na nossa rua esguichando-lhes água por seringas de injecção que às vezes eu ia pedir ao hospital. Chegava a pensar que se eu tivesse então um canhão de água havia de submergir a cidade de S. Filipe a golpes de gigantescas trombas de água.

Sempre gostei de ver inundações; e quando as havia e eu não as presenciava, visitava logo que podia os lugares onde se davam para, vendo os estragos causados, imaginar o “trabalho” da água. Ainda miúdo, na instrução primária, me deliciava com gravuras e desenhos que via nos livros que meu avô materno tinha, ilustrando relatos do terramoto de 1755 e o consequente maremoto que então devastou Lisboa. Interessava-me pensar no mar, na altura das ondas e no seu desaguar pela cidade dentro. Nunca me aconteceu pensar nas pessoas ― via diante de mim apenas uma cidade desabitada invadida pelo mar.

Já adolescente, aí pelos meus dezasseis dezassete anos, uma tromba de água devastou o lugar de Galinheiros, na Ilha do Fogo, rapando literalmente o chão: dizia-se que tinha sugado muros árvores e animais não se tendo encontrado, em qualquer parte da ilha, o mínimo vestígio do sucedido; dizia-se ainda que tudo tinha sido levado para o céu e sido “descarregado” bem longe no mar. Quando se deu a notícia, lembro-me de ter pedido boleia de mota a um amigo para irmos fotografar o lugar ― e fomos. Logo que encontre uma fotografia desse acontecimento colocá-la-ei aqui.

Em 1967 um furacão medonho varreu a Ilha do Fogo e a cidade de S. Filipe provocando grandes estragos em casas, árvores e mobiliário público vário: tirei muitas fotografias das destruições provocadas pelas enxurradas ― por puro gozo, reconheço.

E até hoje não me curei desta doença.

A minha obsessão pela água é tal que volta e meia sonho com inundações várias provocadas mor das vezes pelo mar invadindo a terra; a cidade de S. Filipe, onde nasci, é sempre a mais atingida nos meus sonhos: apesar de se situar ― imagine-se ― a mais de trezentos metros acima do nível do mar.

Mas ao contrário do que se poderia pensar, a inundação da cidade americana de New Orleans causou-me o maior desgosto. Não sei se esse meu desgosto terá tido a ver com o meu amor pelo Jazz, ou se porque a calamidade ceifou vidas humanas e eu tomei conhecimento disso, ou se porque o modo de vida daquela população me seduzia pela sua poesia (apesar da pobreza) e pela genuinidade dos sentimentos habitualmente expressos, e eu vira que com as inundações aquele mundo desaparecera para sempre. Talvez tenha sido por tudo isso junto.

Por último deixem-me confessar-vos uma coisa: mesmo à porta de minha casa há um compartimento com uma mangueira de incêndio enrolada em sarilho. Sempre que entro em casa olho e reolho para aquilo; às vezes abro a portinhola do compartimento e toco a lona da mangueira com a ponta dos dedos sentindo-lhe a textura.

Já por várias vezes me passou pela cabeça desenrolar aquilo, abrir totalmente aquela torneirona e encher a casa de água até ao tecto. Acho que viveria feliz naquele aquário. E imagino o prazer que teria de cada vez que alguém batesse à porta ― Chuáááá!... era ver as pessoa desaguando de enxurrada pela caixa do elevador abaixo numa queda de treze andares sem consequências!...

Coisa linda, não é?!

?.. ... ... Não?!!!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

CRISTALINAMENTE LAPIDAR

A CORRUPÇÃO SEGUNDO HENRIQUE SILVEIRA

No Crítico Musical:

«Um homem corrupto é, no meu entender, um homem decadente, um homem vendido a quaisquer interesses que lhe tragam lucro fiduciário, praticamente capaz de tudo. Não é necessário que seja corrupto no sentido criminal do termo. A ambição, a ganância de dinheiro, a rapacidade, a arrogância, a utilização de expedientes, de truques para se ir safando, fazem do português médio o exemplo acabado de decadência e de corrupção humana. A falta de solidariedade, a falta das mais básicas noções de justiça, a ausência total de altruísmo, fazem dos portugueses de hoje seres abúlicos, abstencionistas crónicos uns, vendidos outros, e quase todos desprovidos da capacidade de admirar o belo. Somos hoje um povo corrompido e decadente.»

«Os "Projectos de Interesse Nacional" o conluio entre empresários gananciosos, entre executivos municipais e o governo na destruição da Reserva Ecológica Nacional, é para mim o último exemplo do mais baixo nível de corrupção e degradação ética e moral a que o "homo portucalensis" chegou, curiosamente dentro da mais estrita legalidade. O exemplo dos setecentos hectares na herdade da Comporta é mais uma gota neste escandaloso processo de corrupção e degradação do país, onde grupos económicos, como o Espírito Santo, meteram o governo no bolso.»

Leia aqui a posta completa.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A EXECUÇÃO

Coloquei no O Baú de Salmoura uma passagem fabulosa do Ulisses de James Joyce em que o autor relata a execução de um condenado à morte. O parágrafo final, a fala do tenente-coronel Tomkin-Maxwell ffrenchmullan Tomlison, tem a marca inconfundível e inimitável de Joyce ― o que mais terá contribuído para a proibição do livro, inclusive nos Estados Unidos, mas apenas de 1922 a 1933. ― "Pura pornografia" ― dizia-se então.

Ficam aqui três excertos da passagem colocada no O Baú de Salmoura:


Calmamente, desafectadamente, Rumbold subiu os degraus do cadafalso em impecável traje matinal e levando sua flor favorita, o Gladiolus Cruentus.» [...]

[...] O nec e o non plus ultra da emoção foram atingidos quando a ruborizada noiva eleita rompeu caminho por entre as filas cerradas dos espectadores e se arremessou contra o peito musculoso daquele que se aprestava a ser lançado na eternidade por causa dela. O herói enlaçou a forma esbelta dela num amplexo amorável murmurando ternamente Sheila, minhazinha. Encorajada pelo uso do seu nome de baptismo ela beijou apaixonadamente todas as várias áreas adequadas da pessoa dele que a decência do traje penitenciário permitia ao ardor dela atingir. [...]

[...] e quando o galante jovem oxoniano (portador, diga-se em tempo, de um dos mais sempronrados nomes da história de Albion) colocou no dedo de sua ruborizada fiancée um custoso anel de compromisso com esmeraldas engastadas na forma de um trevo quadrifólio a excitação não conheceu limites. Sim, que até o duro marechal-preboste, tenente-coronel Tomkin-Maxwell ffrenchmullan Tomlison, que presidia à triste ocasião, ele que disparara um considerável número de sipaios da boca de canhão sem titubear, não pôde conter sua natural emoção. Com sua manopla de malha ele removeu uma furtiva lágrima e foi ouvido por acaso por aqueles privilegiados burgueses que acontecia estarem em seu entourage imediato a murmurar de si para si num cicio balbuciante:

— Deus me castigue se não é um pedaço, essa galinha aí dos meus pecados. Me castigue se não me dá uma vontade de ganir, no duro, que dá, só de ver ela e pensar na velha caravela que me espera lá em baixo em Limehouse.

REPESCANDO JOYCE

O beco de Fumbally aquela noite:




Brancas mãos, rubra tua boca
E teu corpo é gostosura
Bebe comigo na cama
Beija, toma, é noite escura.






Ele chega, pálido vampiro, por borrascas seus olhos, seu velame morcegueiro ensanguentando o mar, boca contra o beijo de sua, dela, boca.

Seus lábios sugavam e abocanhavam descarnados lábios de vento: boca contra o ventre dela.

Toca-me. Olhos doces. Mão doce doce doce. Estou sozinha aqui. Oh, toca-me logo, agora. Qual é essa palavra sabida de todos os homens? Estou mesmo aqui sozinha. Triste também. Toca, toca-me.


[James Joyce]

BOM DIA

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

VOU COMPRAR UM CARRO BLINDADO

Os tempos não estão para menos: hoje um indivíduo sai de casa e mete-se logo em estranhas, inusitadas e inesperadas aventuras de que pode não sair com vida.

Vinha eu de 24 horas de trabalho. Eram mais ou menos dez horas da manhã quando entrei na Segunda Circular junto ao Nó da Buraca, vindo do Restelo. Era ainda, como é óbvio, hora de ponta em Lisboa e os carros eram mais que muitos naquele entroncamento. Fazendo pisca lá fui demandando a faixa do meio para fugir à da direita (muito concorrida àquela hora por quem ia para Sete Rios) quando um carro novo de gama média se coloca à minha frente e começa a reduzir a marcha até se imobilizar ― em pleno Viaduto da Fonte Nova, cheio de carros a passar dos dois lados ― saindo lá de dentro um sujeito de meia-idade, engravatado e de óculos muito escuros (tipo guarda-costas de líder político: mais ou menos 1,67m, sessenta e tal quilos, cara bexigosa escanhoada) furioso nos gestos (sujeito a ser atropelado a qualquer momento pelos carros da faixa da esquerda) que se me dirigiu com invectivas que não ouvi (tinha o vidro fechado) e aplicou um soco no vidro do meu lado voltando de seguida para o seu popó e arrancando à má fila.

Para ele agir daquela maneira eu devia ter-lhe feito qualquer coisa proibida, do género: levar o meu carro a entrar na faixa do meio à frente do carro dele (há pessoas que não admitem isso de modo nenhum: só se pode entrar na faixa delas atrás do seu carro; à frente nunca!) deve ter sido isso.

Perante comportamento tão louco aconteceu-me reagir, logo depois, como o narrador de “A Queda”, de Albert Camus: comecei a pensar o que eu deveria ter feito com os meus 1,76m e 84 quilos: partir-lhe os óculos e o nariz com uma cabeçada bem calculada; dar-lhe um pontapé nos tomates; agarrar-lhe a cabeça e meter-lhe com força dois dedos nos olhos até fazer-lhe saltar pelo menos um dos olhos cá para fora, etc.

Talvez tudo isso... debaixo de um carro que nos atropelaria pela certa.

E lembrei-me ainda do malogrado filho do antigo futebolista Nelinho, que, não há muitos anos, foi baleado e morto por um automobilista com quem teve um desaguisado de trânsito em Lisboa.

Muito calmo e tranquilo movimentei o meu carro e fui para casa tomar um bom banho, comer um pequeno-almoço substancial, falar com e afagar os meus gatos, e ler uns jornais e blogues antes de voltar a sair.

Mais tarde voltei a pensar no assunto. E imaginei o meu agressor: talvez um indivíduo que vive no Cacém (uma vítima quotidiana do trânsito lento do IC 19); que se mete a comprar tudo o que a publicidade e o modo português artificial de vida o induz a comprar acefalamente, e depois vive a chatice de uma vida de apertos de todo o tamanho que não vê o dia de acabar: pagar as prestações da casa, do carro, das roupas de marca, do computador, dos telemóveis, do TV de plasma, dos leitores de MP3, das viagens, etc. E que depois disso não tem dinheiro suficiente para a comida, a gasolina, o condomínio, as quotas do sindicato, os impostos, a creche, os livros e restante material escolar dos pequenos; que não tem dinheiro para comprar os medicamentos, a fruta, os vegetais e o leite para os filhos; e para pagar o cartão VISA cujo prazo já passou há mais de duas semanas, caramba!

Agora digam-me lá, por favor: um tipo destes tem ou não razão para dar cabo de ― para exterminar ― qualquer um que lhe apareça pela frente?

Bolas!...

Lá disse, e bem, no outro dia, Jorge Coelho que «o país está “crispado”». Pacheco Pereira veio hoje contar-nos que um homem lhe disse num supermercado que “Vai haver uma explosão”.

E eu fui abordado por esse socador “crispado” à procura de “uma explosão”.

Não há dúvida de que isto está perigoso!

domingo, 10 de fevereiro de 2008

DAS PALAVRAS

Há uma palavra em português de que gosto muito: ZIGURATE. É uma palavra pequena (tem apenas quatro sílabas), usa quatro das cinco vogais do alfabeto, pronuncia-se de modo vivo obrigando o falante a usar de forma bastante expressiva a maioria dos músculos da fala, e termina pronunciada com a boca num sorriso harmonioso e simpático.

António Aurélio Gonçalves (nhô Roque), meu professor de História no liceu, costumava dizer-nos que a palavra mais bonita da língua portuguesa era FNOLFTALEÍNA.

«Soa como uma moeda de ouro rolando por uma escadaria de mármore» ― dizia.

BOM DOMINGO

Nota: Na imagem o Zigurate de UR.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

BARAFUNDA TOTAL

Quando foi do aeroporto da Ota, criticou-se exaustivamente o Governo pela sua obstinação em considerar apenas aquele projecto; por não mudar de atitude e aceitar estudar outras alternativas que lhe iam sendo entregues ou sugeridas, etc.

O Governo acabou por ceder ― o que foi um bom sinal para os que se lhe opõem ― sinal de que afinal, e ao contrário de todos os indicadores que a propaganda ia lançando ao ar, não se tratava de um Governo forte, certo das suas decisões e convicções, mas antes de um Governo que cede a pressões e governa segundo as sondagens e a onda política que varre o país em cada momento.

Agora, sobre a travessia do Tejo, o Governo, por certo já escaldado com a Ota, e ainda desorientado por ter tido que remodelar Correia de Campos por pressão da rua e de Manuel Alegre, depois da gaffe de vir o primeiro-ministro dizer que tinha tomado a decisão de atravessamento do Tejo por uma ponte rodoferroviária Chelas-Barreiro, resolveu corrigir a mão e dizer, através do ministro das obras públicas, que o LNEC irá estudar as várias opções que se colocarem e dar um parecer técnico sobre o qual o governo baseará a sua decisão.

Aqui d’el Rei ― clamam agora várias vozes ― que este Governo não sabe tomar decisões e quer passar a governar através de pareceres do LNEC...

Convenhamos que isso não é justo. Então Sócrates é sempre preso: quer tenha, quer não tenha cão?!

Não é justo, não senhor. Mas está certo: afinal Sócrates é aquele indivíduo que, pelos vistos, fez coisas que não fez; aquele indivíduo para quem o “assim” pode também ser (e em alguns casos terá sido) “assado”, cozido ou frito. Ou tudo isso ao mesmo tempo.

Em resumo: no posto de primeiro-ministro está um português genuíno.

Essa é que é essa!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A FORÇA DAS IMAGENS

Gosto muito dos produtos da Apple, e aqui em casa, depois dos iPODs e respectivos sistemas Hi-Fi, acabou por entrar há um mês um computador portátil da série Macbook.

Os sucessivos logótipos adoptados pela Apple sempre captaram a minha atenção pela sua originalidade, beleza e oportunidade (por se adaptarem que nem uma luva ao “espírito” de cada época em que foram lançados).

Vi aqui no Blasfémias a evolução no tempo destes três diferentes logótipos da Apple:



Então lembrei-me de já ter visto também logótipos satíricos como este, por exemplo:



E logótipos como estes representando o culto da marca pelos seus fãs:




Não há dúvida de que Steve Jobs, o patrão da Apple, sabe tirar-nos o dinheiro do bolso sem darmos por isso.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

DESEJOS DE UM CIDADÃO DO MUNDO


Eu gostaria que Barak Obama ganhasse a corrida para nomeação como candidato presidencial pelo Partido Democrata e que ganhasse depois as eleições presidenciais americanas. Pelo simples facto de ele me parecer genuíno e diferente de todos os outros candidatos.

Mas será que a América do Norte já está preparada para ter um presidente negro?

O evidente racismo americano já estará assim tão esbatido que se não atravesse no caminho de Obama?

Não haverá forças na sombra prontas a eliminar fisicamente Obama caso ele tenha reais possibilidades de chegar à Casa Branca?

Em pouco tempo estas perguntas serão respondidas. Na madrugada de amanhã já haverá notícias sobre esta "Super Terça-Feira".

Aguardemos.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

NÃO HÁ VOLTA A DAR-LHE

As elites perceberam muito bem o que está em jogo. E Pacheco Pereira não se coíbe de expor a sua opinião. Mesmo quando (ou talvez porque) muitos tendem a desvalorizar o sucedido.

Eis um extracto do que escreve JPP aqui no Abrupto:

«A questão da "ética republicana" aplica-se às aventuras projectistas do primeiro-ministro, que dava o seu nome, perante pagamento, a projectos que precisavam de um "engenheiro". Não é sequer um crime, dizem os especialistas, e poderia ser um pequeno pecado de um jovem no início da carreira, tentando sobreviver, se Sócrates dissesse claramente dito que foi isso mesmo. Ninguém lhe levaria muito a mal, tão generalizada está esta prática. Se há razão para levantar esta questão em termos políticos é exactamente a de saber porque é que esta pequena falcatrua existe e tem que ser feita com conhecimento de todos. Saber se há burocracia a mais, regras absurdas ou se, pelo contrário, são mesmo graves estas assinaturas de cruz. E, então, deveriam ser penalizadas.

Como aconteceu com a saga do diploma - que me parece mais grave porque há documentos que continuam a não ter explicação cabal, como o currículo corrigido na Assembleia -, Sócrates podia ter simplesmente dito que de facto usou um título que formalmente não tinha, até porque isso era uma reivindicação dele e dos seus colegas quanto à equiparação, ou então, que tinha sido pouco cuidadoso nos papéis. E ponto final, ninguém passaria disso, ninguém lhe iria pedir mais contas. Nós percebíamos tudo e, como pessoas sensatas, sabemos que a vida tem destas coisas e querer que toda a gente seja tão bacteriologicamente pura como as cozinhas de sonho da ASAE, é absurdo.

Mas Sócrates torna os seus pecadilhos em algo de mais grave. Torna-os em virtudes e, com arrogância, atribui-se comportamentos exemplares que não teve. E acresce a isso um autoritarismo que tenta sequer impedir que se discutam, e isso sim, lança uma luz perigosa sobre o seu exercício de funções.»

LEITURA RECOMENDADA

A VITAL MOREIRA

(A ver se se cura destas náuseas):

A leitura deste texto publicado no blogue “A Origem das Espécies”, de Francisco José Viegas. Que a respeito das últimas notícias do jornal Público sobre comportamentos passados de José Sócrates, entre outras coisas, escreve o seguinte:

«Eu tenho admiração por alguns deles [homens comuns], pantomineiros, gente que subiu a pulso, que enriqueceu ou rompeu com o passado de humildade. Mas não aceito que eles me forneçam, com abundância ou com parcimónia, lições de moral ou exemplos para a minha vida.»

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

TENHA UM FIM-DE-SEMANA COM HUMOR

O Prof. Henrique Silveira tem esta tirada humorística no seu blogue Crítico Musical:

«O Currículo do PM»

«Portugal deve ser o único país europeu onde o primeiro ministro orgulhosamente afirma que tem no seu currículo o projecto de ampliação de um palheiro, projecto esse que assinou, e do qual se afirma totalmente responsável.»

«COITADINHOS»

Esta foi-me contada hoje e vendo-a pelo preço que a comprei.

Em conversa com colegas seus a actual Ministra da Saúde (espero continuar a usar estas maiúsculas no futuro), reflectindo sobre o rombo havido nos últimos anos no pessoal médico hospitalar que abandonou (muitos forçadamente) o que teimosamente ainda resta da Carreira Médica Hospitalar, teria dito:

«Só ficaram os coitadinhos».

Esta frase é totalmente verdadeira como metáfora pois a sangria que atingiu e atinge os quadros médicos hospitalares nos últimos dois três anos foi e é enorme; altamente preocupante; e constitui um sinal claríssimo de que o Estado pretende alienar grande parte da medicina hospitalar em favor dos hospitais privados. E se o fizer, no terreno talvez venham a ficar apenas as Unidades de Saúde Familiar, alguns Centros de Saúde e ambulâncias VMERs, SBVs, SIVs.

Hospitais públicos? Sim, também haverá: para indigentes. Assistidos por "coitadinhos". Então verdadeiramente coitadinhos.

Sabendo que a actual Ministra sempre trabalhou no sistema público de Saúde; que era, ainda há menos de uma semana, directora de uma unidade pediátrica de um hospital central ― sendo por isso mesmo conhecedora profunda dos problemas dramáticos que os hospitais públicos enfrentam ―; apesar de a mesma (Ministra) ter declarado que ia prosseguir a política de Saúde do seu antecessor, não acredito que venha a proceder do mesmo modo que aquele.

Entendo que a nova Ministra disse o que disse porque não lhe ficava bem dizer outra coisa naquele momento; mas acredito que já tenha dito outra coisa ao senhor primeiro-ministro e que venha a agir de forma bastante diferente de Correia de Campos.

Quando hoje eu expendi este meu raciocínio a um grupo de médicos hospitalares, com o qual por acaso cruzei, ouvi um coro quase unânime eivado de desdém:

«É pá, quando vão para lá mudam logo de atitude e de pensamento e ficam iguais aos outros».

Reafirmo aqui o que eu lhes disse:

Não acredito!

E não acredito porque quem conhece e vive hoje, na pele, a realidade médica hospitalar: se não é "coitadinho" é pessoa de firme e esclarecida vontade lutando coerentemente contra o desmantelamento dos hospitais públicos e do Serviço Nacional de Saúde.

E sei que a actual Ministra não é "coitadinha".